Laisy Morière: “A mulher que luta por igualdade é feminista”
Secretária Nacional de Mulheres do PT exalta as políticas públicas voltadas às mulheres, aumento de consciência e diz se emocionar em ver juventude na rua
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Layse Moriére, Secretária Nacional de Mulheres do PT, tem história longa no partido. A goiana é filiada à legenda desde 1981 e, desde então, ocupou diversos cargos na estrutura partidária, como secretária de Assuntos Institucionais e tesoureira, ambas pelo Diretório Regional de Goiás. Desde 2008 está à frente da Secretaria da Mulher, para dar mais visibilidade e espaço às mulheres dentro e fora do partido. “No PT, as mulheres devem estar em todos os lugares. E estão”.
De fato, estão. Em 2011, o 4º Congresso Nacional do PT colocou no estatuto a obrigação de paridade entre homens e mulheres nos cargos de liderança do partido. É uma vitória que começou a ser construída no 1º Congresso Nacional do PT, em 1991, quando ficou decidido que 30% dos espaços de liderança deveriam ser ocupados pelas filiadas.
A preocupação de gênero se transformou em políticas públicas quando o PT chegou ao poder. Desde lá, Morière diz ver muitas transformações. Se emociona, também, com a juventude ter no feminismo um ambiente de acolhimento e luta. Na rua, diz ela, as feministas estão barrando o retrocesso. “A juventude oxigenou o tema. Foi emocionante ver as meninas indo às ruas no fim do ano passado para protestar contra as pautas conservadoras”, afirma.
O debate sobre as consequências do machismo está muito presente. O tema avançou na sociedade?
O tema avançou muito, mas ainda longe do que queremos. O patriarcado arraigado na sociedade impede que o assunto seja levado à frente como seria necessário. Há muito preconceito com o que é ser feminista. Ficam ainda nessa falsa separação entre feminismo versus feminino. Quando, na verdade, ser feminista é apenas lutar por direitos iguais, por respeito, contra a violência. A mulher que luta por igualdade, de uma forma ou de outra, é feminista.
“Ficam ainda nessa falsa separação entre feminismo versus feminino. Quando, na verdade, ser feminista é apenas lutar por direitos iguais, por respeito, contra a violência”
As mulheres estão criando essa consciência?
Cada vez mais. Em eventos realizados por nós, muitas vezes há mulheres não ligadas ao feminismo que, ao fim da palestra, me dizem que se descobriram feministas. Pois se a mulher luta por direito, dignidade, justiça, respeito, equiparação salarial e pelo fim da violência de gênero, ela é feminista. Com o tempo, ganha-se consciência completa do que é ser mulher na sociedade. A opressão é histórica. O capitalismo também oprime. Todos os direitos foram conquistados com luta. Mesmo para poder votar, algo normal hoje, muitas morreram. Só há 84 anos as mulheres puderam votar. É fundamental que estejamos em todos os cargos de poder do partido, mas com consciência do que é ser mulher. Como disse a (filósofa francesa) Simone de Beauvoir, “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.
Qual foi o impacto da chegada do Lula à presidência da República, em 2003, para as mulheres?
O PT foi o primeiro partido a lutar por políticas para mulheres, a exigir que nos incluíssem no orçamento, que deveriam criar a SPM (Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal). O Lula foi o primeiro presidente a cumprir esses anseios. Lula ajudou a mudar a realidade das mulheres, principalmente nas questões econômicas e de violência. Os projetos que beneficiaram diretamente as mulheres são inúmeros: aumento real do salário mínimo, Bolsa Família, a preferência em ser contemplada no Minha Casa Minha Vida, os financiamentos rurais voltados às mulheres. Elas, com Lula e Dilma, passaram a ser tratadas com preferência, o que fez mudar muita coisa no Brasil. Mas, claro, há ainda muito a ser feito.
Quais são as ações mais importantes da Secretaria de Mulheres do PT nos últimos tempos?
Uma muito importante foi a criação do Núcleo de Mulheres da Bancada do PT na Câmara Federal. A ação passou a possibilitar a ampliação da visibilidade das pautas relacionadas às mulheres. Nós também fomos decisivas para aumentar a participação feminina em todas as esferas do PT. Houve maior discussão do tema com outros partidos, seja ou não da base aliada. Além disso, ocorreu ações coordenadas com a SPM. E, claro, incentivamos os estados a criarem os atos de rua em contato com os movimentos sociais, principalmente relacionados ao Dia Internacional da Mulher.
No âmbito doméstico, as mulheres ainda encontram muitas dificuldades em comparação ao homem, não?
Total. Enquanto as mulheres que trabalham fora dedicam sete horas por semana em média para atividades domésticas, os homens dedicam apenas uma. Se a criança ou algum idoso ficar doente, é a mulher que o leva para o hospital. A divisão sexual do trabalho deve ser discutida e alterada. Deveria haver mais políticas públicas que facilitassem os serviços domésticos para a mulher ter mais tempo para se tornar mais autônoma, além de discutir a cultura machista que faz com que essa configuração seja regra.
Como está vendo o crescimento do feminismo entre os mais jovens?
Foi emocionante ver as meninas indo às ruas no fim do ano passado para protestar contra as pautas conservadoras de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). É muito bonito de ver como o feminismo está se organizando na periferia, de ouvir, por exemplo, letras de hip-hop falando da vida e das dificuldades das mulheres. A juventude oxigenou o feminismo.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias