Lideranças mundiais manifestam repúdio ao golpe no Brasil

Governos de países vizinhos, partidos de esquerda e organizações internacionais alertam para os riscos à democracia e se solidarizam com a presidenta eleita legitimamente

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Diversos países manifestaram oficialmente que não consideram que a abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff tenha legitimidade, assim como o governo do presidente interino Michel Temer (PMDB). El Salvador, Uruguai, Chile, Venezuela, Bolívia, Cuba e Equador manifestaram preocupação com o afastamento da presidente Dilma e os impactos sobre a estabilidade política e econômica no continente. Partidos políticos de esquerda e organizações internacionais também repudiaram oficialmente o golpe em curso no Brasil.

El Salvador não reconhece Temer como presidente
O presidente de El SalvadorSalvador Sánchez Cerén, anunciou neste sábado (14) que não reconhecerá Michel Temer como presidente do Brasil e chamou a embaixadora salvadorenha, Diana Vanegas, de volta ao país.

Sánchez Cerén disse que seu governo “respeita a democracia e a vontade popular”, que a ampla movimentação do governo interino significa que já condenaram antecipadamente a presidenta eleita, Dilma Rousseff, e que se trata de “uma manipulação política”.

Ele comparou o julgamento de Dilma com os golpes de Estados perpetrados por militares, que foram lugar comum nos países latinoamericanos nas últimas décadas do Século XX, mas com a diferença que este se deu via Parlamento.

Na quinta-feira (12) o partido governista de El Salvador, o FMLN, manifestou o “apoio incondicional” ao PT, a seus dirigentes e militância, “em particular ao companheiro Luiz Inácio Lula da Silva”. Para o partido, o afastamento de Dilma “é um golpe de Estado parlamentar perpetrado contra a legítima presidente do Brasil” e expressou seu “total respaldo e solidariedade a quem o povo brasileiro elegeu através de 54 milhões de votos”. E fez um apelo “aos povos e governos democráticos do mundo para rejeitar esta manobra, que faz retroceder o irmão e valente povo do Brasil aos obscuros anos em que os direitos humanos, sociais, econômicos e políticos dos brasileiros eram pisoteados com impunidade pelas elites conservadoras e o grande capital”

Salvador Sanchez Ceren, presidente de El Salvador

Salvador Sanchez Ceren, presidente de El Salvador

Venezuela rejeita o golpe parlamentar e chama embaixador de volta a Caracas
Venezuela rejeitou categoricamente o golpe de Estado parlamentar que está em curso no Brasil. Em comunicado, o governo venezuelano acusou as cúpulas oligárquicas e forças imperiais de orquestrar o golpe contra a presidente mediante farsas jurídicas. “A presidenta legítima, Dilma Rousseff, primeira mulher eleita como chefe de Estado no Brasil, enfrenta uma ofensiva motivada por vingança daqueles que perderam as eleições e são incapazes de chegar ao poder político por outra via que não a força”, afirma o comunicado

No texto, Venezuela expressou sua preocupação pela pretensão da direita de derrubar Dilma Rousseff, eleita por mais de 50 milhões de brasileiros, o que põe em risco a constituição e a democracia. “O processo do Golpe de Estado no Brasil pretende substituir a soberania popular e desconhecer a vontade legítima de seu povo. Em razão disso, fazemos um chamado aos povos do mundo a nos manter alertas e prontos para a defesa da democracia, da presidenta Dilma Rousseff e dos processos da unidade e integração entre nossos países.”

Em entrevista na noite de sexta-feira (13), o presidente Nicolas Maduro informou que pediu a volta do embaixador a Caracas. “Pedi ao nosso embaixador no Brasil, Alberto Castelar, que voltasse. Me reuni com ele, estivemos avaliando esta dolorosa página da história do Brasil. [Foi] uma jogada totalmente injusta contra uma mulher que foi a primeira presidente que o Brasil teve”

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e Dilma Rousseff

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e Dilma Rousseff

Equador expressa seu apoio ao povo e à presidenta do Brasil
O governo de Equador reiterou em um comunicado seu apoio ao povo brasileiro e à presidenta Dilma Roussef, “legítima depositária do mandato popular expressado nas últimas eleições democráticas”. O texto, publicado pela embaixada equatoriana, indica que contra Rousseff não pesa até o momento, nenhuma imputação que a vincule a qualquer delito”. Equador também expressou seu desejo de que as atuais circunstâncias sejam superadas pelo “Estado de Direito e estrito respeito às instituições democráticas do Brasil”.

Uruguai afirma estar preocupado
O ministro das Relações Exteriores e chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, se posicionou contra o impeachment e garantiu que o governo uruguaio não tem intenções de reconhecer Temer.  “Com certeza estamos muito preocupados com esta situação e esperamos que tudo ocorra dentro dos parâmetros constitucionais e institucionais”, disse Nin Novoa em entrevista a jornalistas na última quinta (12).

Respondendo a pergunta sobre um possível contato com o gabinete do presidente em exercício, Novoa disse: “Não. Já dissemos o que deveríamos ter dito, de maneira que não temos mais nada a acrescentar.”

O senador e ex-presidente José Mujica também se manifestou contra o golpe e alertou: “o sistema político no Brasil está doente“.

Ex-Presidente do Uruguai Pepe Mujica

Ex-Presidente do Uruguai Pepe Mujica

Cuba reforça seu apoio ao PT, Lula e Dilma
O governo de Cuba  também criticou o afastamento da presidenta Dilma. Em nota divulgada na quinta-feira (12) , o governo chamou a saída de “golpe de estado parlamentar e judicial, disfarçado de legalidade” e um “artifício” organizado por setores da oligarquia brasileira. “Trata-se, na realidade, de um artifício armado por setores da oligarquia desse País, apoiada pela grande imprensa reacionária e pelo imperialismo, com o propósito de reverter o projeto político do Partido dos Trabalhadores (PT), derrubar o governo legítimo e usurpar o poder que não ganhou com o voto”, disse o documento.

Para as autoridades de Havana, o impeachment da presidenta “legitimamente eleita” é parte de uma “contraofensiva reacionária do imperialismo e da oligarquia contra os governos revolucionários e progressistas da América Latina e do Caribe”, o que ameaça a paz e a estabilidade das nações, contrariando o espírito e a letra da Declaração de Zona de Paz na região, assinada em janeiro de 2014 na capital cubana.

O governo cubano ressaltou que o povo brasileiro, as forças políticas de esquerda e os movimentos sociais no Brasil recusam o golpe e “opõem-se a qualquer tentativa para desmantelar os importantes programas sociais desenvolvidos pelos governos do Partido dos Trabalhadores, com Lula e Dilma à frente”, como o Bolsa Família, o Mais Médicos, o Minha Casa, Minha Vida, o Fome Zero, que segundo o governo de Cuba, mudaram a vida de milhões de pessoas.

Dilma Rousseff e Raul Castro, presidente de Cuba / foto: Roberto Stuckert Filho

Dilma Rousseff e Raul Castro, presidente de Cuba / foto: Roberto Stuckert Filho

Chile demonstra preocupação com o Brasil
De acordo com o portal da TeleSur, o governo do Chile também manifestou sua preocupação com as circunstâncias em que Dilma foi afastada. “O governo do Chile expressa sua preocupação pelos acontecimentos dos últimos tempos nessa nação irmã, que tem gerado incerteza em nível internacional”, afirmaram institucionalmente em comunicado da embaixada.

O embaixador chileno Ministro Muñoz afirmou: “Estamos preocupados com a situação recente no Brasil, dada a importância desse país e a grande amizade que temos”.

O Partido Comunista do Chile declarou, em comunicado, que no Brasil o Estado Democrático foi violado. E manifestou sua solidariedade: “Nos solidarizamos com Dilma, de uma impecável e longa trajetória de lutadora social; com seu partido, o Partido dos Trabalhadores; com o Partido Comunista do Brasil; com o povo dessa nação irmã que agora volta às ruas para defender seu governo e sua democracia, tantas vezes violentada por ditaduras e direita pró imperialistas”.

Unasur: motivações de deputados não tem a ver com juízo político

A União de Nações Sulamericanas (Unasur), organização intergovernamental composta pelos doze estados da América do Sul, destacou que o que aconteceu no Brasil é uma afronta de uma maioria política parlamentária à cidadania que elegeu democraticamente a presidenta da nação, com mais de 50% dos votos.

O secretário geral da organização Ernesto Samper acredita que na Câmara de Deputados não se votou com consciência nem se respeitaram as normas do Estado de Direito. “As motivações que se expressaram tinham a ver com outro tipo de reclamações, de caráter político. Mas não tinham cabimento nas disposições que regulamentam o juízo político”.

Parlamento europeu
O afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff é “um passo para um golpe de Estado” imposto pela direita, declarou o Grupo da Esquerda Unitária (GUE) do Parlamento Europeu, em comunicado divulgado nesta sexta-feira (13).  Os membros do Parlamento Europeu lembraram que os argumentos usados para a saída de Dilma “não resultam de qualquer processo penal e que o processo é liderado por membros com um histórico conhecido de irregularidades e atividades ilegais, que estão sendo investigadas judicialmente”.

Além disso, o tratamento do golpe na imprensa internacional foi de surpresa e críticas, com preocupação com os riscos à democracia.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Telesur

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