Lula é patrono de turma na Unilab e defende luta contra preconceito
Ex-presidente foi patrono de turma da Unilab, na noite desta sexta-feira (18). No sábado, ele segue para Feira de Santana com a caravana Lula pelo Brasil
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Depois de ser homenageado em Cruz das Almas (BA) e ter participado do IV Encontro da Juventude na mesma cidade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi patrono da segunda turma de Humanidades da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), nesta sexta-feira (18).
O evento fez parte da agenda do ex-presidente na Bahia, com o projeto Lula pelo Brasil. A caravana, que começou na quinta-feira (17), em Salvador (BA).
Lula lembrou que foi o presidente brasileiro que mais visitou países africanos e que foi aquele que mais criou embaixadas no continente africano. “Eu fui em um lugar chamado a Porta do Nunca Mais e pela primeira vez eu me deparei, emocionado, com o destino do povo africano quando passava pela porta do Nunca Mais, muitas vezes com destino ao Brasil”, lembrou.
O ex-presidente disse que se lembrava, então, de como um país como o Brasil que manteve por três séculos a escravidão poderia pagar a dívida com os povos do continente africano.
“Não era só a dívida por conta do trabalho, era por conta do aprendizado da nossa cultura, da nossa cor, do nosso jeito de ser, que tem muito a ver com o povo africano”, disse.
“A gente não pode mensurar em dinheiro. Se Cuba é um país mais pobre e pode fazer isso, por que que o Brasil não pode pagar sua dívida levando conhecimento e ajudando o povo africano a ter mais conhecimento e abrindo essa possibilidade?”, questionou o ex-presidente.
O patrono da turma ainda se disse preocupado com o preconceito existente na sociedade brasileira em relação aos negros e africanos. “Hoje eu fico triste de saber que aqui tem gente com preconceito dos benefícios que a gente dá em bolsa de estudo para os africanos. Eu sei que lá em Redenção já tem preconceitos e movimentos contra eles estudarem aqui”, contou.
O ex-presidente ainda reafirmou a importância da criação da Unilab e da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), mas reforçou que há muitos retrocessos em curso. “Nós chegamos a fazer a experiência da universidade à distância, que chegou a ter 900 alunos. Infelizmente sei que agora não existe mais. Levamos a Embrapa para Gana para fazer com que ajudasse a desenvolver a agricultura africana mais do que já é desenvolvido”.
No entanto, para Lula, o Brasil voltou a ser predominantemente um país com complexo de vira-latas. “É todo o governo dependendo se os EUA vai ajudar o não. O Brasil perdeu a grandeza de um pais que tem soberania”.
No entanto, Lula exaltou a luta dos alunos e deixou um recado a todos eles: “vocês negros e negras não devem nenhum favor a esse país. E nem o Brasil está fazendo favor. O Brasil tá pagando as horas, meses, anos e séculos que negros trabalharam aqui até morrer sem ganhar nada”.
Para o ex-presidente, esse é o momento de resistir. “Resistir porque essa integração do Brasil com a América Latina e com a África é uma necessidade do século 21. Não podemos permitir que a China ocupe o continente africano”.
“Eu vou continuar essa briga. Eu só pude aceitar vir aqui ser patrono porque eu precisa dizer que nós temos que enfrentar o preconceito, porque essa não é uma posição política, é uma doença. E nós temos que vencê-los. A gente não vence apenas com discurso, a gente vence com gestos, a atitudes e coisas práticas”.
“Eu levarei no meu coração o dia de hoje. Se eu não tivesse vindo aqui, eu não teria tomado a lição de vida que eu tomei hoje, de ver a emoção, possivelmente a grande maioria sendo a primeira da família a ter o diploma”.
Lula desejou boa sorte a todos os alunos e alunas que retornarão aos seus países de origem. “Aqueles que vão embora, vão prestar serviço ao país de vocês, mas não se esqueçam que o Brasil é uma extensão do continente africano que um dia a geologia separou”.
“Mas agora nossa consciência e alma continua junto. Nós iremos lutar para que não haja nenhum governo que tenha coragem de tirar um único beneficio de um jovem africano que tem para estudar”.
Por Clarice Cardoso, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias