Lula: “Estamos na 3ª Guerra Mundial e o inimigo é muito perigoso”

Em entrevista ao francês Le Monde, ex-presidente volta a apelar a líderes de potências mundiais para que busquem soluções conjuntas e vacina universal

Ricardo Stuckert

Lula

A oposição resiliente do ex-presidente Lula ao governo de Bolsonaro – ocupado com um projeto de extermínio em massa no Brasil – continua projetando suas ideias para o mundo. Após o histórico discurso em São Bernardo ganhar as manchetes dos maiores jornais e agências de notícias do planeta, Lula vem habituando-se a conceder entrevistas internacionais. Depois da conversa com a âncora da CNN Christiane Amanpour, exibida na quinta-feira (18), agora é a vez do francês Le Monde destacar “a extraordinária energia de Lula” no texto de abertura de uma longa entrevista divulgada nesta sexta-feira (19).

Na entrevista, Lula fez um apelo aos líderes mundiais para que convoquem uma reunião extraordinária a fim de buscar soluções para a crise, sob o risco de os efeitos da pandemia se estenderem por muitos anos. Para o ex-presidente, pela primeira vez na história da globalização, o mundo vive um novo conflito, desta vez com todos os países cercados por apenas um inimigo, a Covid-19.

“Desde o início da pandemia, nem o G20 nem o G8 se encontraram para falar sobre o assunto. É urgente”, disse Lula.  “Apelo ao presidente Emmanuel Macron: chame o G20. Ligue para Joe Biden, Xi Jinping, Vladimir Putin. Estamos em guerra, é a Terceira Guerra Mundial e o inimigo é muito perigoso”, alertou Lula.

Para o ex-presidente, “a vacina não deveria ser um produto de mercado como é hoje, mas se tornar um bem comum da humanidade”.

Governo genocida

Na conversa com o diário francês, Lula demonstrou indignação com a situação de penúria pela qual passa o povo brasileiro e reafirmou que o país é refém de um governo genocida, mais preocupado em armar a população do que combater a fome e promover a educação.

“Comecei na política nos anos 1970 e nunca vi meu povo sofrer como hoje. Pessoas morrendo nos portões dos hospitais, a fome voltou”, lamentou Lula. “E, diante disso, temos um presidente que prefere comprar armas de fogo ao invés de livros e vacinas. O Brasil é chefiado por um presidente genocida. É realmente muito triste”.

“Salário, emprego, vacina, educação”

Para o ex-presidente, a população não quer armas, e sim a experiência ter ter três refeições por dia, colocar os filhos na escola e poder trabalhar em paz. Uma realidade, segundo ele, possível, e já provada pelas administrações petistas.

“O que o povo quer é o que o Partido dos Trabalhadores lhes ofereceu no passado muito recente: um salário, um emprego, vacinas, educação, crescimento”, ressaltou o líder petista. “Acho que é possível reconstruir um país mais humano”.

Lula enfatizou a necessidade de desarmar o país. “As pessoas precisam de empregos, livros, investimentos em cultura. É isso que temos que recuperar no Brasil. E o povo sabe que existe um partido que é capaz de fazer isso: é o PT”.

Prestígio internacional

Lula lembrou os anos de crescimento econômico e prestígio internacional vividos pelo Brasil quando era presidente. “Quando eu estava no poder, o Brasil tinha 4,5% de desemprego, um salário mínimo que aumentava a cada ano. Éramos uma espécie de queridinhos, a sexta potência mundial”, disse Lula.

E acrescentou: “Eu brinquei com meus colegas franceses e ingleses, falando para eles: “Em breve, a gente ultrapassa vocês e vamos ameaçar a Alemanha!” Tudo isso para dizer que o povo brasileiro merece coisa melhor que o atual governo”.

País sem presidente

Lula voltou a culpar Bolsonaro pelas quase 290 mil mortes no Brasil, destacando que o governo não tem qualquer plano de combate ao surto de Covid-19. Ele elencou as medidas mínimas que poderiam ser adotadas caso o Brasil contasse com  um presidente.

“Com o surgimento da Covid-19, um presidente que tivesse a noção do que significa governar teria criado um comitê de crise”, explicou. “Ele teria chamado o ministro da Saúde e os melhores cientistas do país. Esse comitê se reuniria uma vez por semana para divulgar as informações à sociedade brasileira e decidir sobre as medidas a serem tomadas para todos”.

“Bolsonaro é tão ignorante”, lamentou o ex-presidente. “Ele acredita que, ao se recusar a admitir a gravidade da pandemia, a economia vai se recuperar novamente. A única cura é vacinar o povo brasileiro”, apontou.

A força histórica do PT

Lula destacou a força histórica do PT, um partido de massas “com as melhores raízes na sociedade brasileira” e que continua a ser uma força política preponderante, a maior no campo progressista. Ele ressaltou a importância de lideranças fortes do partido, como a ex-presidenta Dilma Rousseff e o candidato à Presidência em 2018, Fernando Haddad.

O líder petista reafirmou também que o projeto do partido é governar para todos os brasileiros, e não para grupos e familiares, como faz Bolsonaro.

“Minha prioridade sempre será os mais pobres, os trabalhadores, os habitantes das periferias”, frisou Lula. “Quem recebe mais atenção e recursos comigo será sempre o mais necessitado. Porque o dever do PT é permitir a ascensão social dessa população e acabar com as desigualdades de um país marcado por 350 anos de escravidão”, explicou.

Da Redação

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