Mackenzistas fazem ato contra o impeachment e a favor da democracia
Segundo universitários, a oposição está jogando no lixo o processo democrático ao ignorar 54 milhões de votos que a presidenta recebeu em 2014
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Estudantes de diversos cursos da Universidade Presbiteriana Mackenzie estiveram presentes em ato contra o golpe e pela democracia na Rua Maria Antônia, no centro de São Paulo, na noite desta quarta-feira (23). O local foi palco, em outubro de 1968, de um confronto físico, ideológico e, antes de tudo, geográfico. De um lado da via, que vai da Consolação até a rua Higienópolis, os estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, ligados à União Nacional dos Estudantes. Do outro, alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
“A cor vermelha do logo que a Universidade tanto preza, para nós, é a cor do sangue de cada estudante morto na luta contra a ditadura e pela democracia”, diz trecho da carta lida pelos alunos.
Presente no ato, a estudante, Tamires Gomes Sampaio, que foi a primeira mulher negra a presidir o Centro Acadêmico do curso de Direito do Mackenzie, falou da importância do ato e do simbolismo dos estudantes se organizarem na rua Maria Antônia e destacou que a história não se repetirá. “Esse ato acontece depois, de dois grandes atos que ocorreram em universidades paulista, como a PUC e a Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. É um ato extremamente importante e simbólico, porque o Mackenzie apoiou a ditadura e nós hoje, estudantes do Mackenzie que se organizam em coletivo de esquerda, resolvemos fazer este ato para dizer que a história não se repetirá, que os Mackenzistas são contra o golpe e vão para as ruas em defesa da democracia dizendo não ao golpe”, frisou a estudante.
Também presente no ato, o presidente do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo, Aldimar de Assis, frisou a importância da atividade acontecer na rua Maria Antônia, um local que já foi palco de luta pela democracia.
Representante da rede de advogados pela democracia, Marco Aurélio defendeu que a militância tem a obrigação de reescrever a história da rua Maria Antônia como espaço democrático.O secretário de juventude do PT-SP, Erik Bouzan, ressaltou a importância dos estudantes e dos intelectuais progressistas engajados na luta contra o golpe aproveitar o ambiente acadêmico para defender a democracia. “É importante a gente fazer atos nas universidades, não somente atos gerais, que são mais importantes, mas também os atos menores nas regiões, nas escolas, nas periferias, porque isso mostra nossa força, mostra a pluralidade, mostra que de fato, sim, tem um campo intelectual e que são progressistas e que são de esquerda, mas estão acampados na luta contra o golpe”, afirmou o dirigente.
Presidenta da UNE, Carina Vitral disse que vários comitês vem sendo organizados em universidades do país afora e esses atos tem sido resultado desses comitês. “A universidade tem sido um espaço de resistência, democrático, como já foi a muito tempo atrás, tão delicado da nossa história, como da ditadura militar, e hoje reafirma essa condição de resistência de estar ao lado da democracia. Nós, da UNE [União Nacional dos Estudantes], estamos organizando comitês em várias universidades do país afora e esses atos tem sido resultado desses comitês, os comitês permanentes de mobilização contra o golpe estão mobilizados, em especial as juventudes das universidades que não aderem ao golpe”, frisou a dirigente.
MANIFESTO: MACKENZISTAS CONTRA O GOLPE: A HISTÓRIA NÃO SE REPETIRÁ!
Novamente vemos o mesmo grupo que tentou golpear a democracia em 1954, 1955 e 1961, sendo bravamente impedido. Porém, tal grupo encabeçado pela grande mídia (Globo, Folha de São Paulo e Estadão), FIESP, OAB, setores da classe média e as forças armadas, entre outros, em 1964 mergulhou-nos numa longa noite, uma ditadura civil-militar que durou 21 anos, ditadura esta que sequestrou, torturou e matou tantas e tantos para que pudessem fortemente atacar direitos trabalhistas, aumentar a concentração de terras nas mãos de latifundiários, fornecer mão de obra barata para empresas estrangeiras, bem como não só manter, como aumentar o extermínio dos povos indígenas e quilombolas, e muitas outros golpes contra minorias e a classe trabalhadora.
É este quadro que a Constituição Federal de 1988 tentou superar e que deste então luta-se para que seja transformado. Portanto é com grande preocupação que vemos a repetição de fatos que resultaram no golpe de 1º de abril de 1964. Nos últimos dois anos entraram em pauta propostas para a terceirização e destruição da CLT; redução da maioridade penal; ataque aos direitos das mulheres; cerceamento a demarcação de terras indígenas entre outros. Nos últimos meses também se verifica uma crescente espetacularização da operação “lava-jato”.
Mesmo diante de todos os erros cometidos pelo governo federal após as eleições de 2014, mais precisamente a adoção da agenda neoliberal derrotada nas urnas, com toda a devassa realizada por investigações incessantes e desmedidas por parte do judiciário, bem como por um jornalismo abutre que procura a morte do governo, de seus apoiadores e de todo o campo progressista, nenhum crime pode ser imputado a presidenta Dilma Rousseff e a sua administração. Entretanto, a oposição golpista, talvez em razão das seguidas derrotas nas eleições presidenciais, joga no lixo todo o processo democrático, ignorando os 54,5 milhões de votos obtidos pela presidenta da república em 2014 e tenta de qualquer modo, e as custas de paralisar o país, derrubar o governo democraticamente eleito e assumir a presidência da república à revelia do Estado Democrático de Direito.
Necessário ressaltar os acontecimentos das últimas semanas, onde o sistema judiciário tem repetidamente ignorado a Constituição Federal e o Código de Processo Penal a fim de colocar o poder executivo contra a parede, em atos completamente ilegais e autoritários, que abalam o frágil equilíbrio entre os poderes, bem como representam mais um ataque de um setor não eleito pelo voto popular contra um governo democraticamente eleito.
É assustadora também a escalada da intolerância, ódio e violência que toma de assalto a oposição não só ao governo federal, mas a todo o campo progressista. Diariamente são relatados ataques a pessoas que simplesmente se recusam a engrossar o coro pró-impeachment, ou simplesmente utilizam alguma peça de roupa vermelha. Mais grave são os relatos de ataques a sede de partidos, centrais sindicais, bem como a invasão de plenária do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em Diadema pela polícia militar, para averiguação, numa assustadora retomada de práticas vistas entre 1964 e 1985.Entendemos que, em todo o tempo, mas principalmente em momentos de perigosos movimentos golpistas como os presenciados, a universidade é local para resistência a anseios antidemocráticos, para a defesa da constituição federal, do devido processo legal, e de modo mais amplo, do estado democrático de direito. Neste sentido, é lamentável que mais uma vez a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) se coloque ao lado daqueles que pretendem novamente nos jogar num estado de exceção, um estado policial.
É notório que em todo período ditatorial a Universidade Presbiteriana Mackenzie se colocou ao lado das forças de repressão, que perseguiam e matavam aqueles que não somente eram oposição, mas também a aqueles que ousavam pensar de maneira diferente da estabelecida pelo conservadorismo oficial vigente. Na “Batalha da Maria Antônia”, ocorrida em 1968 na rua de mesmo nome, ficou mais que claro o lado da UPM. Ao contrário do muitas vezes recontado, não foi uma briga de Mackenzistas versus Uspianos, mas sim de apoiadores do regime militar versus oposicionistas a tal regime. A UPM, não só abrigou as forças policiais repressoras, bem como foi o reduto de grupos paramilitares de apoio ao regime, como o CCC (comando de caça aos comunistas), fechando a porta para aqueles que lutavam pelo fim da ditadura militar, sendo assim, responsável pela: destruição da faculdade de filosofia da USP; agressão a estudantes de sua própria instituição contrários a ditadura militar; e a morte do secundarista José Carlos Guimarães.Agora, 48 anos após fechar seus portões para seus próprios estudantes que não compactuavam com seus anseios conservadores e repressivos, de apoio ao regime militar, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, representada por sua reitoria, fecha as portas da universidade para aqueles que pretendem lutar pela democracia tão duramente conquista. A UPM, através dos departamentos de marketing e jurídico proibiu que fosse feita menção da UPM e uso de qualquer de seus símbolos na luta pela democracia, bem como não possibilitou a utilização de nenhuma sala ou auditório para a realização de um ato por parte de seus alunos. Também se cala diante das crescentes manifestações de ódio e violência verbal em seu campus, além das reiteradas manifestações racistas realizadas dentro de suas dependências. Impossível não rememorar os inúmeros relatos de atentados da UPM contra diretórios acadêmicos, movimentos estudantis e alunos que se levantavam contra a repressão durante o período ditatorial.
Necessário lembrar a reitoria da Universidade Presbiteriana Mackenzie por todo seu histórico de repressão e promoção da ditadura militar, não terão o benefício da dúvida, muito menos a benevolência de acreditarmos em algum falso discurso de imparcialidade. Não esquecemos e nunca esqueceremos a conivência e apoio da UPM diante do golpe militar de 64, muito menos a responsabilidade diante dos milhares de estudantes perseguidos, sequestrados, torturados e mortos pela repressão da ditadura. E não nos calaremos diante da possibilidade da mesma repetir seu posicionamento. Para nós o vermelho do logo que a reitoria tanto preza é do sangue de cada estudante morto na luta contra a ditadura e pela democracia. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça! Não vai ter golpe!
Veja abaixo vídeo da Ruptly TV sobre a manifestação:
Batalha da Maria Antonia
A manifestação aconteceu em frente ao prédio da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), local onde em 1968 ocorreu o episódio que ficou conhecido como a Batalha da Maria Antonia. O local é significativo por ter sido palco de uma batalha entre opositores e defensores da ditadura há 48 anos, quando foi morto o estudante secundarista José Carlos Guimarães. Em 3 de outubro de 1968, estudantes do Mackenzie, simpatizantes do regime militar, e da Faculdade de Filosofia da USP entraram em confronto naquela rua, onde ficavam as duas instituições.
Publicado originalmente no site Linha Direta, do PT-SP, em 23 de março de 2016