Manifestantes usam “luzes da democracia” para iluminar Senado
Tereza de Souza, viúva do ex-presidente do PT José Eduardo Dutra, foi com uma faixa cobrando coerência do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
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Cerca de 300 pessoas usaram, nesta quarta-feira (27), lanternas, luzes de celulares, velas, sinalizadores e isqueiros para iluminar o Senado no ato que pediu aos senadores que votem contra o impeachment da presidenta, Dilma Rousseff. Foi mais um ato organizado via Facebook, pela sociedade civil, e convocado pelas mesmas pessoas que promoveram o “abraçaco” de mulheres no Palácio do Planalto, na semana passada.
O ponto de encontro foi o gramado em frente ao Congresso Nacional. A razão maior foi a defesa da democracia e a resistência ao golpe e o recado aos senadores foi claramente expresso nas faixas levadas para o ato: “À luz da democracia, respeitem meu voto”, diziam os cartazes.
Ao som de músicas que marcaram a luta contra a ditadura instaurada após o golpe de 1964, como “Para Não Dizer que Não Falei das Flores” (Geraldo Vandré) e “Disparada” (Geraldo Vandré e Théo de Barros, imortalizada na voz de Jair Rodrigues), os manifestantes dançaram em uma grande roda e cantaram antes de descer em direção ao Senado.
Entre as pessoas que foram “iluminar” os senadores estava Tereza de Souza, 50 anos, professora de História e viúva de José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, morto em outubro de 2015. Ela carregava uma faixa cobrando do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) coerência com sua história, a de Dutra e a do senador Marcelo Déda, que faleceu em 2013. “Que voto Marcelo Déda e Zé Eduardo esperavam do senhor, Antonio Carlos Valadares?”, dizia a faixa.
Ela conta que a sessão na Câmara dos Deputados a deixou “muito triste” e até com dor nas costas nos dias seguintes de tamanha agressão à democracia. Diz que se decepcionou com o voto do deputado Valadares Filho (PSB-SE), a favor do impeachment, mas que vai pressionar o pai do parlamentar. “Não consegui falar com o senador Antonio Carlos Valadares ainda”, afirmou. “Mas falei com o gabinete para lembrar de uma história de luta, uma história que vem desde 1976. Talvez os senadores se sintam constrangidos com manifestações como essa a votar contra o golpe.”
Marcos Augusto Albuquerque Sena, 52 anos, dentista, foi de bicicleta para o ato porque não queria perder a manifestação e também ficar sem se exercitar. “Acredito que com a manifestação popular e com a repercussão internacional que está acontecendo, porque o mundo está percebendo o golpe no Brasil, os senadores vão pensar duas vezes antes de votar”, avalia.
Uma das organizadoras do ato, Dapheny Feitosa, 30 anos, nascida no Piauí, mas vivendo há oito anos em Brasília como professora de Gramática, diz que tem se sentido feliz nos atos porque as pessoas têm demonstrado uma “militância consciente”. Ela diz que não é um momento de baixar a cabeça e usa uma frase de Dilma para seguir contra o golpe. “Não estou cansada, vamos lutar até o fim pela democracia”, diz, repetindo a presidenta.
O ato se encerrou com coro dos presentes pedindo a saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e com a projeção de um canhão de luz sobre o Senado, enquanto se ouvia a música “Não Vai Ter Golpe”, feita pela sambista Beth Carvalho.
Por Camilo Toscano, da Agência PT de Notícias