Max Medeiros: Lula, o muro e nós

Aqui no semiárido de Mossoró, terra seca, onde as estiagens são cruéis, onde os cemitérios de anjos se amontoavam nas beiras de estrada, onde famílias inteiras tinham que se saciar com as esmolas que as emergências ofereciam. Esta terra, presidente, orgulha-se por ter sido palco do motim das mulheres, por ter abolido a escravidão antes da lei Áurea, por ter tido coragem perante a entrada de lampião e seu bando, por ser berço do primeiro voto feminino do Brasil. O povo desta terra seca é um povo persistente, e se orgulha de o ser.

Houve uma época que a universidade era uma coisa tão absurda de sonhar para quem vinha do andar de baixo. Os trabalhadores que constroem a base econômica deste país, não imaginavam nem em seus mais belos sonhos, que eles ou seus filhos poderiam um dia adentrar em uma universidade, estudar, e finalmente segurar aquele diploma, vestir aquela beca. A última vez em que recebemos a sua visita, em 2008, a UFERSA já tinha três anos de existência.

Existia também um burburinho na cidade, expelido por aqueles que sempre foram contra um acesso democrático do povo ao ensino superior, que o presidente viria inaugurar um muro.

Sua resposta foi contundente: “Orgulhosamente estou aqui, não para inaugurar um muro, mas para derrubar o muro da vergonha do atraso na educação deste país. Vim aqui para fazer aquilo que os outros, durante décadas não fizeram”.

Hoje, presidente, “o muro”, virou a universidade que tem os melhores índices de aprovação na OAB em todo Brasil. As pesquisas e produção científica são reconhecidas. Abriga mais de 50 cursos de graduação e mais de 20 programas de pós-graduação, distribuídos em Mossoró e nos campis de Pau dos Ferros, Caraúbas e Angicos, nessa ultima, Paulo Freire em 1963, colocou em prática o método de alfabetização de adultos.

Possui mais de 600 professores dedicados e 9 mil estudantes que se orgulham de fazer parte da construção de uma educação que se propõe a trazer pra esta terra seca desenvolvimento e acima de tudo justiça social. Na universidade, presidente, nós dispomos de salas de aula climatizadas, equipamentos tecnológicos, laboratórios equipados, uma biblioteca com um acervo imenso, que a comunidade tem acesso, restaurante e residência universitária que garantem a permanência de muitos estudantes.

Aqui nós estudamos, pesquisamos, fazemos extensão, produzimos ciência, compomos grupos de estudos, praticamos esportes, fazemos amizades, divertimo-nos, choramos, discutimos, nos apaixonamos, nos frustramos, nos desesperamos no final de cada semestre, e quando a coisa aperta mesmo, temos acompanhamento de uma equipe de assistência estudantil formada por ótimos profissionais.

Aqui, presidente, é mais que uma escola superior, para nós a UFERSA é uma casa, onde nos sentimos seguros e podemos viver nossa plenitude.

Nos sentimos muito orgulhosos do muro que foi derrubado, e queremos dizer que estamos construindo uma imensa fortaleza no meio dessa terra seca, onde todos caberão e que tem como horizonte a dignidade de nosso povo. Somos eternamente agradecidos que na derrubada do muro da vergonha, uma pedra fundamental foi consolidada por você e as ferramentas para a construção de um futuro melhor foi dada a juventude do semiárido. Sempre muito obrigado, Luiz Inácio.

Max Medeiros é estudante de Administração da UFERSA e membro da Direção Estadual do PT RN