Mídia estrangeira critica admissão do impeachment e lamenta golpe
Acompanhe a repercussão do golpe na mídia estrangeira, que já havia criticado a votação do impeachment na Câmara e o comportamento dos parlamentares
Publicado em
Desde a último dia 12 de maio, data em que terminou a votação no Senado que aprovou a admissibilidade do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o governo interino do golpe de Michel Temer, o assunto foi destaque das páginas dos principais veículos de todo o mundo, sempre de maneira negativa.
Principal imagem da edição impressa do jornal inglês “The Guardian” desta quarta-feira (18) mostra equipe do filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, que protestou contra o golpe no Festival de Cannes. O diário conta que, ao atravessar o tapete vermelho do festival, a equipe do filme mostrou cartazes denunciando o golpe que é o processo de impeachment da presidenta eleita Dilma Roussef. A equipe estendeu a faixa “Stop coup in Brazil” (“Parem o golpe no Brasil”). As mensagens denunciavam que “O Brasil não é mais uma democracia”, “O mundo não pode aceitar o golpe” e “Nós vamos resistir”. Após diminuírem as luzes para a exibição do filme, o apresentador da transmissão ao vivo de Cannes comentou o caso: “Nós estamos diante de um momento muito mais político do que esperávamos. É um novo olhar sobre o Brasil, sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Eles denunciam que o país não é mais democrático.”
O jornal The New York Times publicou, neste domingo (15), com reprodução via UOL nesta terça-feira (17) uma dura crítica ao Congresso brasileiro: “Enquanto a nação enfrenta sua pior crise política em uma geração, os legisladores que orquestraram a remoção da presidente Dilma Rousseff estão sob novo escrutínio”. “Mais da metade dos membros do Congresso enfrenta processos na Justiça, de casos envolvendo auditoria de contratos públicos até crimes sérios como sequestro ou homicídio, segundo o Transparência Brasil, um grupo que monitora a corrupção. As figuras sob investigação incluem o presidente do Senado e o novo presidente da Câmara”, constata. O artigo listou uma série de contradições do Congresso e da política brasileira, e destaca o fato da presidenta afastada não ter sido acusada formalmente de qualquer crime.
Le Monde A edição desta segunda (16) do jornal francês “Le Monde” faz um balanço dos primeiros passos do presidente golpista Michel Temer. Um dos periódicos mais respeitados do país afirma que o governo não seduziu os brasileiros e sentencia: “Temer fracassou na estreia”. A historiadora Armelle Enders afirma ao “Le Monde” que, se cada país decidisse afastar do poder nas democracias modernas dirigentes incompetentes ou impopulares, sobrariam poucos políticos no poder. Sobre a nova equipe, ela opina que o governo Temer carrega a marca da continuidade e do conservadorismo. “Os ministros são raposas velhas que participaram de todos os governos recentes”, resume Armelle Enders. Leia mais aqui: https://pt.org.br/para-le-monde-golpista-michel-temer-fracassou-na-estreia/
Deutschlandfunk Em artigo veiculado na emissora pública alemã “Deutschlandfunk” neste sábado (14/05), o correspondente do jornal “Die Zeit” no Brasil, Thomas Fischermann, comenta a composição do ministério golpista de Michel Temer, afirmando que a falta de negros e mulheres não condiz com um “colorido país de tantas culturas”. Fischermann questiona se a escolha da nova equipe do governo é um reflexo da “estupidez ou do desespero”, para concluir que, na verdade, Temer é uma volta ao passado. “As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem”, avalia.
The New York Times Em editorial publicado nesta sexta-feira (13), o principal jornal dos Estados Unidos, “The New York Times“, afirmou que o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff é uma punição desproporcional para uma política que, ao contrário de seus julgadores, não enfrenta acusações de corrupção ou favorecimento pessoal. A imprensa alemã reportou o momento político atual como de “falência do Brasil”. O site do “Deutsche Welle (DW)” traz texto intitulado “Um país perde”, em que afirma que “o grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores” junto das nações que tiveram seus presidentes “afastados de forma questionável do cargo”. Na análise do semanário “Die Zeit”, o afastamento de Dilma é “a declaração de falência do Brasil”. O jornalista Michael Stürzenhofecker afirma que o país queria se apresentar como uma nação moderna com os Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma é um “recuo nos velhos tempos” e também os 31º Jogos não serão realizados numa “democracia sem máculas”. No “Süddeutsche Zeitung”, a análise “Estes homens derrubaram a presidente” apresenta uma relação de todos os envolvidos no processo. “Na opinião de muitos juristas, as acusações são tênues, muitos chefes de Estado antes de Rousseff agiram de forma semelhante e não foram afastados do cargo. A queda de presidente é muito mais o resultado de intrigas políticas, costuradas pelos adversários de Rousseff.”
The Guardian, Reino Unido O jornal britânico The Guardian afirmou que o sistema democrático brasileiro se rompeu com a decisão da quinta-feira (12) de admitir o processo de impeachment contra a presidenta democraticamente eleita. O texto, intitulado “O sistema político que deveria estar em julgamento, e não uma mulher” lembra que Dilma foi atacada por um preconceito machista pela sua liderança feminina, e pela direita brasileira que nunca se conformou inteiramente com a ascensão do PT.
O texto também lembra que Dilma é a única que não enfrenta acusações de corrupção, enquanto seus julgadores, inclusive o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, estão envolvidos em escândalos. Nesse sentido, segundo o jornal, o ponto final para que houvesse a derrubada da Dilma foi a realização, por parte dos políticos corruptos, de que a Operação Lava-Jato poderia comprometê-los.
Na sexta-feira (13) o periódico publicou um texto, “Muita testosterona e pouco pigmento: velha elite brasileira dá um golpe à diversidade”, chamando atenção para o fato do ministério não ter nenhuma mulher ou negro, demonstrando claramente representar apenas as elites.
O jornal britânico acompanhou a votação e publicou no dia 12 de maio: “Rousseff, a primeira presidente mulher do Brasil, terá que sair do cargo por ao menos seis meses, enquanto ela é julgada no Senado por alegadamente manipular contas do governo antes da última eleição. Seus juízes serão senadores, muitos dos quais são acusados de crimes mais sérios”.
Na quinta-feira (12), a revista científica “Nature” publicou matéria em que afirma que a decisão de Temer de unir o Ministério da Ciência e Tecnologia com o de Comunicações irritou a comunidade científica brasileira e gerou manifestações de repúdio em associações. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em conjunto com outras entidades científicas, publicaram textos em que afirmam que a decisão vai prejudicar o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país, e que as duas pastas tem funções completamente diferente, que não poderiam ser unificadas.
The Washington Post Na quinta-feira (12), o jornal escreveu escreveu: “Primeira presidente mulher do Brasil é substituída por homem com esposa 42 anos mais jovem que ele”.
“The Huffington Post” deixou a frase “Golpe concluído no Brasil” na capa do site. Veja:
No argentino “Página 12”, o golpe foi destaque na edição impressa. O jornal publicou ainda o texto “O homem dos 2%”, fazendo referência à baixa popularidade de Michel Temer.
La Jornada No jornal mexicano, o texto destaca que chegarão ao governo partidos que foram “sucessivamente derrotados” nas últimas eleições – PSDB e DEM. Segundo o epriódico, o governo de Temer não será de ‘notáveis’ porque “os melhores de cada especialidade dificilmente participariam de um governo ilegítimo”, e que Temer “carece de apoio popular e de poder de decisão”.
O norte-americano “The New York Times” afirmou que, apesar de seu afastamento, Dilma “é rara entre políticos de alto escalão no Brasil na medida em que não enfrenta acusações de enriquecimento ilícito“.
Em reportagem intitulada “Dilma vai a juízo político por crime que não cometeu, afirma defesa”, a agência de notícias “Prensa Latina” repercutiu a sessão do Senado, destacando a defesa apresentada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. “Querem construir uma tese, uma fantasia retórica para tirar do cargo uma presidente democraticamente eleita”.
A multiestatal “Telesur” acompanhou minuto-a-minuto a votação do processo e escreveu em nota “Golpe à democracia: Senado aprova juízo político de Dilma Rousseff” que o Brasil será comandado a partir de agora por Temer que, “há meses vinha preparando um projeto de governo abertamente neoliberal”. Para ele, início do processo de impeachment “é um claro indício de que se enterra o modelo de democracia representativa e se substitui por um governo de monopólios e grupos financeiros”.
Para o italiano “Corriere della Sera”, o Senado disse “sim” ao impeachment, mas Dilma ainda tem esperança de retorno. Segundo o jornal, o caminho do presidente golpista não será fácil. Temer terá que enfrentar a resistência de parlamentares do PT que anunciaram a “obstrução sistemática” de todas as propostas feitas por ele. “O Brasil vive o segundo ano consecutivo de recessão severa e tudo está num impasse há meses devido à crise política”, diz a publicação. Temer vai pedir que o Congresso apoie uma forte manobra para colocar as finanças públicas em ordem e nomear novos ministros. “É preciso resultados rápidos, que justifiquem uma inversão que tem levantado muitas dúvidas, mesmo fora do país.” O site Americas Quartely afirmou que Dilma foi a política que mais combateu a corrupção. Além disso, o texto ressalta que a presidenta permitiu que as instituições de controle efetivamente funcionassem, sem interferências na Polícia Federal ou nas instâncias judiciárias. Também lembra que não há nenhuma denúncia de corrupção pesando sobre a presidenta, o que não ocorre com o presidente golpista Michel Temer, que deve ficar inelegível pela Lei da Ficha Limpa e foi citado em inúmeras delações premiadas da Operação Lava-Jato. “Rousseff esteve genuinamente focada em melhorar a lendária pobreza e desigualdade do Brasil”, afirma a reportagem. Segundo o autor, a preocupação de Dilma com o futuro a largo prazo do Brasil e a necessidade de construir instituições que funcionem eram ainda maiores do que o desejo da presidenta de permanecer no cargo e proteger seu partido.
Da Redação da Agência PT de Notícias