Mídia dá tratamento discreto a denúncias contra tucanos
Para coordenador do projeto “Manchetômetro”, a mídia brasileira atua como um partido político
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A imprensa brasileira mostrou, mais uma vez, nesta terça-feira (12), que tem atuação partidária e tratamento diferenciado ao abordar denúncias contra o Partido dos Trabalhadores e contra outros partidos de oposição como o PSDB.
A capa do jornal “Folha de S. Paulo” publicada nesta terça mostra bem o tratamento “diferenciado” dado pela mídia monopolizada. Na publicação, o jornal usa, inclusive, termos diferentes para abordar o mesmo tipo de denúncia feita por delatores da Operação Lava Jato.
Enquanto a manchete da publicação é contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as denúncias contra as gestões do também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) ficam, apenas, abaixo da dobra da página.
Na segunda-feira (11), o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou, na versão online, denúncia de que a gestão de FHC teria recebido propina no valor de US$ 100 milhões. A informação foi dada por Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e delator da Operação Lava Jato. Segundo ele, a propina foi paga em compra da petrolífera Pérez Companc.
Na edição desta terça-feira, a capa do “Estadão” se referiu à denúncia como uma citação. A referência ao governo tucano também ficou abaixo da dobra da página.
Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do “Manchetômetro”, João Feres Júnior, a conduta da mídia brasileira mostra uma grande diferença no tratamento dado às denúncias contra o PT e contra o PSDB.
O “Manchetômetro” é um site de acompanhamento diário da cobertura da política e da economia na grande mídia, é produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da UERJ.
“O PSDB quase não é citado na cobertura da Operação Lava Jato. Ainda que Aécio já tenha sido denunciado em delações mais de uma vez, assim como o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que já foi mencionado e o dinheiro teria ido para o partido. E isso também não aparece”, aponta o professor da UERJ.
A referência a Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB, se dá porque na última semana surgiu nova denúncia que reiterou a propina recebida pelo tucano para engavetar uma CPI da Petrobras. O assunto, no entanto, não fez parte de nenhuma capa dos jornais “Folha de S. Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “O Globo”.
De acordo com o emissário do doleiro Alberto Youssef, o Alexandre de Souza Rocha, o “Ceará”, Guerra teria recebido R$ 100 milhões para barrar a CPI da Petrobras instalada no Senado Federal em 2009. A denúncia teve curtos registros nas edições impressas dos jornais e pouco destaque nos sites.
No caso do ex-presidente Fernando Henrique, o pesquisador destaca que o tucano é “blindado”. “Mesmo sendo um cara super impopular em todas as classes sociais. Ele não é um campeão de audiência, mas mesmo assim é blindado pela mídia”, diz João Feres Júnior.
Para o coordenador do “Manchetômetro”, a mídia no Brasil se comporta como um partido político.
“Eu acho que a mídia brasileira é muito partidarizada, ou seja, a mídia brasileira, hoje em dia, se comporta como um partido político, como acessório de um partido político”, enfatizou.
“A mídia está atacando o PT faz muito tempo. Isso é uma prática antiga da mídia. Tem mais de 20 anos. Antes mesmo do PT chegar ao governo federal, a Folha de São Paulo, por exemplo, já publicava notícias negativas sobre o PT, sempre ressaltando o nome do partido na manchete. E quando era notícia negativa sobre o PSDB, eles escondiam o nome do partido. E continuam fazendo”, afirma Feres.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias