Militantes, 300 comitês, uma vigília e a luta por liberdade para Lula

Encontro Nacional Lula Livre, realizado neste sábado (16) em São Paulo, inicia nova etapa de mobilização pela democracia no Brasil

Ricardo Stuckert

Pessoas de todas as cores, formas e cantos do país caminham pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, no bairro do Tatuapé. Levantam bandeiras, montam barraquinhas, trocam panfletos, idéias, abraços e sorrisos. É um momento de fortalecer a solidariedade, a unidade e uma agenda comum de ações para enfrentar as reformas ultraliberais de Jair Bolsonaro e fortalecer a luta pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Encontro Nacional Lula Livre é fruto de um esforço coletivo profundo e consequência de uma luta que se iniciou no momento em que Lula foi preso injustamente em 7 de abril de 2018. Os presentes são mais de mil, de pelo menos 20 estados do país: movimentos populares pela terra e por teto, sindicatos, partidos políticos, lideranças indígenas, LGBTs, do movimento negro, jornalistas, militantes de base e os mais de 300 Comitês Lula Livre que se espalham por todo o país – além de outros vinte espalhados pelo mundo. Também está o foco inicial do protesto contra a injustiça: a Vigília Lula Livre, que mantém a chama da resistência acesa em frente à carceragem da Polícia Federal há quase um ano.

“A pauta Lula Livre, assim como Marielle Vive, se tornou uma síntese de muitas vontades políticas: democracia, igualdade e resistência. Ela estará presente na luta contra o desmonte da Previdência e nos próximos passos da luta da classe trabalhadora”, disse Carla Vitória, secretaria do Comitê Nacional Lula Livre.

Segundo ela, um dos principais objetivos do encontro é promover a organização de Comitês Estaduais no próximo período, assim como tirar uma agenda conjunta de lutas para a Jornada Mundial Lula Livre, que acontece entre 7 e 10 de abril deste ano, marcando o aniversário de um ano da prisão do ex-presidente.

“A nossa luta é pela democracia e pela justiça. E só vamos alcançar esses objetivos defendendo os direitos do povo e a soberania nacional, porque foi contra estes valores que deram o golpe e interferiram na eleição. Foi para entregar nossas riquezas e reverter as conquistas sociais. Que os comitês Lula Livre tenham isso bem claro e atuem cada vez mais na sociedade, nas redes, nas escolas e nas ruas”, disse o ex-presidente em carta lida durante o encontro.

Para o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, presidente do Comitê de Solidariedade Internacional e Em Defesa da Democracia, não é só sobre a importante Lula estar livre, estar com seus amigos e familiares: é sobre se o Brasil é um país democrático.

“O que está acontecendo no Brasil hoje é parte de um processo de afirmação da potência hegemônica sobre o nosso país com a conivência das elites. O capital financeiro precisava que o Brasil deixasse caminho de justiça social e democracia, que abandonasse seu papel de integração na América Latina”, analisa Amorim.

A opinião é compartilhada por João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “O capitalismo está numa profunda crise. E o Brasil é um território estratégico para os capitalistas se salvarem da crise. E eles precisavam controlar Lula para conseguir isso. Tinham que prender o Lula, o motivo não interessa. Ele é um perigo para o projeto do capital. Ele é o líder maior desse país e eles não podem deixar ele junto ao povo”.

Encontro Nacional Lula Livre

Para a liderança popular, o momento é de abandonar a auto-congratulação e partir para “mão na massa e o trabalho de base”. “O que importa agora é quantos comitês, quantas jornadas cada militante consegue organizar, cada coletivo consegue levar adiante”, provoca.

Construir Lula Livre

Em Ubatuba, todo dia 13, o Comitê Lula Livre, auto-organizado pelos moradores da cidade litorânea de São Paulo, faz algum tipo de manifestação na cidade: eles vão ao calçadão da praia, conversam com o povo, fazem intervenções políticas e culturais. “Gostaríamos de propor ao povo do Brasil de fazer uma ação como a nossa, pedindo a liberdade de Lula”, diz Rafael de Mattos, 46, um dos organizadores.

“Para gente, se trata de construir uma rede, interagir e fazer essa união de esforços para provar para essa justiça que o povo sabe do que está falando. Não adianta mais fazer essa grande violência no país. Nós queremos que parem de fazer a população de massa de manobra”, protesta Geni Xavier, também de Ubatuba.

A opinião é reforçada por outros militantes presentes ao encontro, apontando a importância de capilarizar a luta para construir a resistência. “Precisamos refletir sobre a estrutura do Estado brasileiro, sobre a importância de se mobilizar nos municípios pequenos e engrossar o coro de Lula Livre e transformar cada casa, cada diretório municipal, cada sindicato em um comitê Lula Livre. Grandes atos são importantes, mas o Lula livre tem que chegar em cada casa”, analisa Kátia Maria, Presidente do PT de Goiás.

Como fazer?

A ideia dos Comitês locais é a de que eles possam ser construídos por qualquer pessoa engajada em defesa da democracia: em sua associação, bairro, local de trabalho, sindicato, comunidade, universidade ou coletivo. O objetivo do comitê é elaborar, planejar, organizar e realizar atividades que peçam a libertação do ex-presidente, assim como se somar a iniciativas locais em defesa dos direitos do povo brasileiro.

Não há necessidade de sede ou de hierarquias, mas de periodicidade e divisão de funções e tarefas. Os Comitês são as principais referências para participar da Campanha Lula Livre, que também incentiva a criação de comitês digitais para propagandear as ideias nas redes sociais e demais espaços da internet.

É possível saber mais através do site da Campanha Lula Livre, assim como baixar materiais.

Por Brasil de Fato

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