Mineradoras têm “incapacidade gigantesca” de garantir segurança
Maria Júlia Andrade, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, denunciou o nível de precarização dos trabalhadores das áreas mais arriscadas no setor
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Um dos movimentos populares que se fez presente em Brumadinho (MG) no mesmo dia do rompimento da barragem no Córrego do Feijão, foi o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Entidades como o MAM e o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), estão no município atingido para prestar solidariedade e apoio às famílias e colaborar na defesa dos atingidos.
Integrante do MAM presente em Brumadinho, Maria Júlia Andrade, conversou com o Brasil de Fato o novo crime socioambiental da Vale.
Brasil de Fato: Como você enxerga a precariedade das mineradoras no estado e qual o motivo dessas situações terríveis?
Maria Júlia Andrade: É importante a gente fazer um histórico que vai um pouco antes da Barragem do Fundão. Neste mesmo ano de 2015, houve um outro rompimento de barragem, em Minas Gerais, na cidade de Itabirito, mineradora Herculano, que no começo de 2015 a barragem rompeu na área interna da empresa e que morreram três trabalhadores. Nesse mesmo ano, acontece Fundão em que morrem 19 pessoas e, agora, no comecinho de 2019 esse novo rompimento.
Eles têm uma característica em comum: são projetos de grande escala, de minério de ferro, de empresas de grande porte. Então, mostram, de cara, uma incapacidade gigantesca dessas empresas de garantirem a segurança das suas estruturas.
Brasil de Fato: E em relação aos trabalhadores das mineradoras? Eles também estavam em situação de risco. Como você avalia a situação de quem trabalha nas minas?
Maria Júlia Andrade: Até o momento, as informações estão muito desencontradas, mas ao mesmo tempo muito preocupantes porque foi no momento do turno. Tinha muita gente trabalhando lá dentro. Esse complexo não é uma mina só. É um complexo que envolve várias minas. É uma extensão enorme, envolve dois municípios. Então, a gente ainda não sabe o que aconteceu com esses trabalhadores que estavam lá na hora que rompeu essa barragem.
Em Fundão, 14 trabalhadores morreram na hora do rompimento da lama. Na hora que a barragem rompeu, 14 trabalhadores estavam dentro da barragem e, destes vários eram terceirizados. Isso mostra também o nível de precarização de quem trabalha nas áreas mais arriscadas dentro do complexo da mineração.
E, no primeiro rompimento que falei deste último histórico de 2015 para cá, que não são as únicas, também foram três trabalhadores. Então, a gente percebe que o elo mais frágil são, realmente, os trabalhadores da mineração que têm um piso salarial, nesta região de Minas Gerais, do quadrilátero ferrífero, que não chega a R$ 2 mil. Então, você imagina o nível de exploração a que essas pessoas estão submetidas. Não sabemos que nível de treinamento interno para casos assim. Pelo histórico, com certeza, não é nada que a gente possa se inspirar muito ou ter credibilidade da empresa.