Ministro do MEC tenta censurar curso da UnB sobre golpe de 2016
Mendonça Filho pedirá a vários órgãos de controle para que analisem a legalidade do curso que será ministrado pelo professor Luis Felipe Miguel
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Em mais uma tentativa de cercear as liberdades democráticas no Brasil, o ministro da Educação, Mendonça Filho, deve enviar ofício nesta quinta-feira (22) a vários órgãos de controle para que seja analisada a legalidade do curso oferecido pela Universidade de Brasília (UnB) “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”.
A justificativa de Mendonça Filho só reforça as pretensões do governo ilegítimo de Michel Temer de impedir que o povo brasileiro tenha acesso a qualquer informação que desmascare a linha antidemocrática adotada desde o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff.
“Está claro que não houve base científica na criação desse curso. Contraria as boas práticas da educação. Alguém não pode ter uma ideia ou uma opinião e simplesmente oferecer dentro de uma universidade um curso”, declarou o ministro, que acionará o Ministério Público Federal no Distrito Federal, a Advocacia Geral da União, a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União.
Caso acatem o pedido, o governo pretende acionar judicialmente os responsáveis e pedir para que seja ressarcido o dinheiro gasto com reserva de salas, luz e horas de trabalho dos envolvidos.
Com o cinismo típico dos golpistas, o ministro diz ainda que o tema proposto pelo curso não se adere à realidade brasileira: “O Brasil é um país democrático. Vivemos com respeito total a todos os direitos”.
Por sorte, as reações à censura do ministério foram imediatas. Para Aloizio Mercadante, que foi ministro da pasta entre 2012 e 2014, a decisão fere os princípios seculares e internacionalmente reconhecidos da autonomia universitária. “Lamentavelmente, tal medida faz lembrar o Decreto-Lei nº 477 de 1969, que, durante a ditadura militar, controlou e reprimiu as atividades comunitárias nas universidades”, lamentou.
O professor de ciência política Luis Felipe Miguel, que irá ministrar o curso, também repudiou a decisão autoritária do MEC. “A disciplina não merece o estardalhaço artificialmente criado. A única coisa que não é corriqueira é a situação atual do Brasil, sobre a qual a disciplina se debruçará”, criticou o acadêmico numa rede social.
Segundo Miguel, a disciplina “se alinha com valores claros, em favor da liberdade, da democracia e da justiça social, sem por isso abrir mão do rigor científico ou aderir a qualquer tipo de dogmatismo.”
O curso
De acordo com a ementa do curso, a disciplina terá três objetivos complementares: entender os elementos de fragilidade do sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática com a golpe; analisar o governo presidido por Michel Temer e investigar o que a agenda de retrocesso nos direitos e restrição às liberdades diz sobre a relação entre as desigualdades sociais e o sistema político no Brasil; e perscrutar os desdobramentos da crise em curso e as possibilidades de reforço da resistência popular e de restabelecimento do Estado de direito e da democracia política no Brasil.
Mendonça Filho tenta censurar curso da UnB sobre golpe de 2016
Da Redação da Agência PT de Notícias com Poder360