Mirian Gonçalves: Novas incertezas
A venda do HSBC para o Bradesco, por US$ 5,186 bilhões, encerra um capítulo já esperado do processo de aquisição do banco inglês e inicia outro trazendo mais incertezas do que…
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A venda do HSBC para o Bradesco, por US$ 5,186 bilhões, encerra um capítulo já esperado do processo de aquisição do banco inglês e inicia outro trazendo mais incertezas do que antes. Quando havia a possibilidade de um Banco sem sede no Brasil ou outro com menor número de agências comprá-lo, nutria-se a expectativa de que os centros administrativos e a maioria das agências permaneceriam em igual funcionamento com a consequente manutenção dos empregos.
A preocupação se justifica.
A administração do Banco Bradesco é feita a partir da cidade de Deus, Osasco; a rede de agências do Banco comprador, 4659, é significativamente maior do que a do banco vendido, 851, além de instaladas nas cercanias umas das outras. A dúvida é: o Banco manterá os centros administrativos e a maioria das agências do HSBC em Curitiba? Serão mantidas ainda que com a mesma bandeira e muito próximas?
O questionamento foi feito diretamente em conversa que tive nesta terça-feira, 04, com o presidente do Bradesco, Sr. Luiz Carlos Trabuco Cappi. (Nas semanas que se passaram, meu gabinete entrou em contato com os dois concorrentes, Bradesco e Santander, solicitando agenda para tratar do tema. No dia 23 de julho, o Vice-presidente Executivo do Santander, Sr. José Paiva, me recebeu acompanhada da economista Lenina Formaggi e, nesta terça-feira, 04, o Sr. Trabuco, presidente do Bradesco me telefonou. Ambos muito gentis e dispostos ao diálogo).
Em resposta, foi sugerido tranquilidade e que o HSBC e o Bradesco não tomariam nenhuma atitude neste período que antecede à análise pelos órgãos federais. Completou dizendo que interessa ao Bradesco manter uma relação de cordialidade com a cidade de Curitiba, seus clientes e trabalhadores.
A transação está sujeita à aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e do Banco Central que, supõem-se, ocorra em seis meses. Pequeno prazo se consideradas sua vultuosidade e complexidade, porém, longo aos olhos dos trabalhadores e suas inseguranças.
O Bradesco afirma que haverá “complementariedade da rede de agências e incorporarão a expertise e capital humano”. Sempre há, entretanto, é considerável o risco de demissões em massa e de fechamento de diversos prédios do antigo HSBC. Por isso, espera-se dos órgãos reguladores uma posição que equilibre o mercado, mas também minimize os impactos sociais.
Neste contexto, é importante aprofundar alguns pontos socioeconômicos que impactam a vida de muitos trabalhadores e, particularmente, a cidade de Curitiba.
A sede do HSBC é na capital paranaense, onde o banco emprega diretamente cerca de sete mil trabalhadores e possui cinco centros administrativos. Estima-se que um emprego direto implica três indiretos. No entorno de cada centro e das agências, organizou-se uma rede de comércio e serviços que dá oportunidade à grande número de pequenos e microempreendedores.
Do ponto de vista do trabalho, Curitiba apresenta um dos menores índices de desemprego do país, em média 4%. Caso as demissões ocorram, tal percentual aumentaria significativamente, sem contar os gastos públicos com o benefício do seguro-desemprego que podem chegar a mais de R$ 38 milhões, calculando o pagamento de quatro parcelas a cada um dos sete mil trabalhadores.
Outro dado relevante é acerca da arrecadação do município com as instalações do HSBC. Apenas em ISS, hoje, o Banco gera contribuição de aproximadamente R$ 80 milhões. Ao considerarmos que o município tem participação no ICMS arrecadado pelo Governo do Estado, a conta aumenta.
Em última instância, há uma dimensão maior que é a social e que atinge toda uma cidade com mais de 1,8 milhão de habitantes.
Mirian Gonçalves é vice-prefeita de Curitiba e Secretária do Trabalho e Emprego