Monica Aguiar: 20 de Novembro e o papel da mulher negra na sociedade
A mulher está cada vez mais, conquistando seu espaço no ambiente profissional e participando, pela primeira fez e de forma definitiva, das mudanças ocorridas nas instâncias de Poderes. As habilidades…
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A mulher está cada vez mais, conquistando seu espaço no ambiente profissional e participando, pela primeira fez e de forma definitiva, das mudanças ocorridas nas instâncias de Poderes.
As habilidades e características femininas passam a ser valorizadas pela sociedade, deixando a mulher, aos poucos de ser uma mera coadjuvante em determinados segmentos sociais e profissionais, iniciando seu acesso a posições estratégicas e às esferas decisórias.
Em relação ao trabalho, tais mudanças são ainda mais visíveis. No processo de reestruturação produtiva e com a crescente oferta no mercado de trabalho, a mão-de-obra feminina tem sido cada vez mais aceita e solicitada. O Crescimento da participação feminina no mercado de trabalho é intenso e diversificado e não retrocedeu nos últimos anos.
As mulheres com formação técnica estão em maioria no mercado de trabalho formal que inclui indústria, construção, comércio, serviços e agropecuária. Sua participação no entanto, varia com a área, pois a grande maioria permanece condicionada no setor de serviços.
As mulheres têm hoje maior participação não só no mercado de trabalho, como também nas esferas econômicas e entre os empreendedores já representam praticamente a metade neste setor.
Quanto aos lares a maioria deles são chefiados por mulheres, quando analisados grupos pretas e pardas, estas estão acima da média nacional e têm maior participação na renda de suas famílias.
Atualmente as mulheres se sentem mais à vontade e escolhem de forma mais livre com quem e como querem estabelecer suas relações conjugais, demonstrando o aumento de sua afirmação pessoal como ser humano dotado de direitos e não apenas deveres. Na realidade, as mulheres partem da esfera doméstica às diferentes funções na sociedade moderna, mas as conquistas sociais têm sido alcançadas e assimiladas de forma diferente, variam de acordo com a classe social, o grau de escolaridade e a cor.
Ao analisar na história as desigualdades sociais, raciais, e o papel social desempenhado pelas mulheres, podemos afirmar que apenas uma ou outra mulher teve a possibilidade real de superação das desigualdades anteriores aos últimos doze anos.
A nossa sociedade foi construída tendo como base de seu pilar: o racismo, o machismo, o patriarcalismo, no qual o homem sempre ocupou o espaço público e a mulher, o privado.
E um desafio importante é poder compreender a amplitude dos avanços obtidos para as mulheres e para população negra, e ao mesmo tempo conviver com valores patriarcais e eurocêntricos mantidos por alguns homens que ocupam cargos de poder e prestígio e não querem de forma nenhuma que as mulheres, principalmente as negras, tenham acessos aos direitos fundamentais e sociais.
O contingente feminino tem sido sujeito de limitações promovida por estes senhores, que fazem questão de mascarar, velar e fomentar dificuldades que impedem o acesso de cargos estratégicos, representações de poderes, ascensão na carreira, especialmente no que se refere à dinâmica de conciliação das demandas familiar e profissional.
Qualquer medida afirmativa, afixada ou paliativa, agita as estruturas imaginárias que afiançam o espaçoso, rico e grande poderio.
A desqualificação da imagem da mulher negra nas peças publicitárias e programas de TVs, enquanto prática de interação, não pode ser considerada ingênua, natural, desprovida de intencionalidade, pois servem de fortalecimento das desigualdades, privilegiam manifestações ideológicas classistas.
Dentro deste campo denominado produção simbólica, tais práticas como presenciamos hoje, influenciam e reproduzem para o pensamento social valores que reforçam os preconceitos e a discriminação racial e constitui, no imaginário coletivo, a imagem subjetiva de democracia racial. Esta estrutura que se mantém, reforça a desigualdade sexual existente trazendo prejuízos econômicos e políticos para a figura feminina.
A prática do racismo institucionalizado e velado mantida por este setor anacrônico, contraria o exercício da democracia e da cidadania, vítima cotidianamente a mulher negra, dificultando a implementação das políticas especificas que asseguram a igualdade e equidade. A cor da pele ainda é o que classifica o potencial educacional e político das mulheres, isto além de criar mecanismo que dificulta acesso as oportunidades e reserva direitos.
A mulher ao longo dos anos vem desenvolvendo estratégias para lidar com os problemas estruturais e ideológicos, na jornada de trabalho, no lar e fora dele. O empenho que as mulheres têm realizado em prol a construção da nossa sociedade, justa, oportuna e verdadeiramente equilibrada, é uma característica individual das mulheres que começam a desejar e desenhar um novo papel, outras possibilidades, produzindo uma nova forma de conviver com os homens, ao mesmo tempo rompendo com valores e com mazelas que as oprimem e segregam. Tais mudanças de comportamento, responsabilidades e conceitos, dialogam com o conjunto de conquistas obtidas através da luta dos que se organizam nos movimentos sociais, entidades feministas e nos movimentos de negros e negras brasileiros.
Os esforços realizados pelo governo brasileiro, em especial através da SEPPIR e da SPM em desenvolver Políticas Nacional de Promoção da Igualdade Racial e Políticas para as Mulheres, tem apontado visivelmente para um melhor desempenho das mulheres e da população negra na educação, tem dado resposta às metas referentes às iniquidades de gênero e raça na educação.
Com tantos avanços obtidos e metas cumpridas, o 20 de novembro também precisa ser ressignificado, com a contribuição das mulheres negras à história brasileira.
Homenagens a Zumbi dos Palmares, mas também o papel de Dandara e de Luiza Mahin na luta contra a escravatura. Assim como as contribuições de mulheres negras na sociedade atual nos campos das artes, da política e das ciências, como no caso das escritoras, das médicas, das milhares de militantes dos movimentos sociais e sindicais.
As mulheres sempre foram pacientes e hoje acreditam em caminhos novos e em novos desafios, já se manifestam com a consciência que são grandes e que contribuem com a construção paulatina da nação e muitas fazem desta posição um projeto de vida, almejando a manutenção apenas dos resultados positivos para os e as que reeditam as páginas da história, com conceitos e valores que acompanham o desenvolvimento e a cultura social com seus arranjos cotidianos.
Monica Aguiar é da Executiva Nacional do PT e coordenadora-geral do Centro de Referência de Cultura Negra da Mulher Negra de Minas Gerais