Movimentos de Sem Teto fazem dança da chuva em SP

Em frente à sede da Sabesp, manifestantes protestaram contra o racionamento não declarado imposto à periferia

Cerca de 5000 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Periferia Ativa se reuniram nesta quinta-feira (25) para denunciar o racionamento seletivo que está acontecendo em São Paulo. O grupo reivindicou uma posição do governador tucano Geraldo Alckmin sobre a falta de água na periferia da capital.

“Uma coisa é fazer racionamento. Outra é dizer que não está fazendo e cortar água na periferia de noite, que é o que está acontecendo”, disse o coordenador-geral do grupo, Guilherme Boulous.

Boulous relatou que, ainda em julho, listou para Alckmin, em reunião, os bairros que sofriam corte de água, mas que não houve resposta da Sabesp. “Não houve retorno ao movimento. Por isso essa manifestação está acontecendo”, justificou.

Aos gritos de “Ei, Geraldo! Cadê a nossa água?”, o grupo caminhou até a sede da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na zona oeste, para entregar uma pauta com reivindicações. Em resposta às declarações do governador de que a falta d’água decorre da falta de água, os manifestantes fizeram uma dança da chuva.

A comissão representante da classe foi recebida no local pelo assessor da diretoria metropolitana da concessionária Helio Rubens Gonçalves. De acordo com ele, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, nem o diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato, estavam no local.

Ao final do encontro, ficou decidido que a Sabesp irá montar um canal de diálogo permanente com o grupo. Essas comissões setoriais vão discutir os problemas em cada região. Para os dias 7 e 8, estão previstas reuniões para apresentar detalhadamente os problemas diagnosticados. Na reunião, a Sabesp admitiu que está reduzindo a pressão, mas não admitiu racionamento.

Relatos –  Além das queixas de consecutivos corte de água na região da periferia da zona sul e zona leste da capital, o MTST reclamou sobre a falta de investimentos para diminuir a dependência do Sistema Cantareira.

Segundo o coordenador do movimento, Josué Rocha, o problema é fruto das faltas de investimentos em captação de água que a Sabesp deixou de fazer. Desde a renovação da outorga de uso do Cantareira, em 2004, nenhuma obra foi feita pelo governo estadual para captação de recursos hídricos.

Na casa do pedreiro Ivetino Conrado dos Santos, falta água desde maio. Morador de Itapecerica da Serra, ele disse que o problema se agravou esta semana, tendo corte contínuo no fornecimento. “Não dá pra lavar roupa, o chuveiro tá sem pressão. Quando chega água não chega nem à metade da caixa”, contou ele.

Ivetino tem recorrido aos vizinhos que tem poços artesianos para realizar tarefas básicas de casa e higienização. Para ele, os moradores da periferia são os que mais sofrem. “Não falta água nos Jardins nem no Morumbi, mas tá afetando a gente”, avaliou.

Diogo Santos, morador de Paraisopolis (periferia da zona sul), contou que em sua casa a água só chega a cada dois dias. “Falta água para tomar banho, lavar louça, roupa. Não tem água e a conta vem alta”, reclamou. Para ele, o governo privilegia os ricos e tira água dos pobres. “É desigual. O pobre sempre sofre. Tá faltando transparência com o povo em geral. Ele [Alckmin] deve falar a verdade, ele tem que ser sincero”, falou o manifestante.

A PM deslocou 140 viaturas, com 800 policiais, para a manifestação. Para Boulous, tratar conflitos sociais por água e moradia como caso de polícia é preocupante. “Se o governador se preocupasse em dar mais água e menos polícia, esse estado estaria melhor”, criticou o líder.

 

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias

 

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