Movimentos iniciam atividades para o Congresso do Povo

Iniciativa da Frente Brasil Popular servirá também para expor ao povo o momento político brasileiro

Dino Santos/ Frente Brasil Popular

Entidades da Frente Brasil Popular durante ato com Lula na avenida Paulista, em São Paulo (SP)

A Frente Brasil Popular, entidade que reúne movimentos populares, centrais sindicais e partidos políticos, lançou nesta sexta-feira (2), as bases que nortearão a criação do Congresso do Povo.

A iniciativa irá propor à população brasileira um diálogo permanente sobre a situação política do país e, principalmente, irá ouvir os problemas que afligem as localidades e seus moradores, em todos os estados da federação.

Durante a reunião, que aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes, espaço formativo do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no interior de São Paulo, lideranças políticas decidiram um cronograma de atividades que desembocarão em um congresso nacional.

A atividade nacional deverá acontecer em meados de julho deste ano, e buscará, em conjunto com toda a população, as saídas para a crise que afeta o país desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a criação de um projeto brasileiro baseado na soberania nacional, no respeito à democracia e no combate às desigualdades sociais.

O Congresso do Povo retoma trabalhos de diálogo com as bases populares realizados, por exemplo, pelas Comunidades Eclesiais de Base, no início da década de 1960, quando leigos, padres e bispos, debatiam os problemas locais e apontavam suas soluções, em comunidade. As CEB’s, como ficaram conhecidas, foram as responsáveis por formarem algumas das mais importantes lideranças políticas do país.

A construção de um Congresso do Povo é um passo importante para dialogar com o povo brasileiro as consequências do golpe, o contexto em que acontecerão as eleições deste ano e o que está acontecendo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, explica Eliane de Moura Martins, do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).

“Todos esses temas precisam ser transformados em um diálogo acessível, compreensível, do ponto de vista do nosso povo, da classe trabalhadora, especialmente esta que vive na pele, na carne, os ataques de todo o desmonte do estado brasileiro. O Congresso do Povo é para ser essa ferramenta, essa mediação, entre essa realidade, a complexidade dos elementos da política que nós estamos vivendo no país e todas as consequências delas, com as massas trabalhadoras”, disse.

Método Paulo Freire

O diálogo com a população, segundo Martins, deve ser realizado com base em métodos de escuta das questões do povo. Ela destaca que essa é uma herança resgatada dos ensinos do educador Paulo Freire.

“Nós estamos nos provocando aqui a nós retomarmos esses princípios na nossa prática. Ou seja, partir da realidade. Para isso temos que ter uma sensibilidade muito grande com a escuta, com a capacidade de não imediatamente jogarmos nossas verdades sobre as pessoas, inclusive no seu senso comum, nas suas leituras que podem vir mediadas por visões que são contrabandeadas pela Rede Globo, por exemplo”, explicou.

Para Nalu Farias, da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), a iniciativa deve, de fato, partir da experiência e da realidade das pessoas. “Isso implica também em um processo muito mais horizontal, que não é essa ideia de que um fala e o outro escuta, mas que todos possamos falar e nos escutar. Implica a gente criar formas de intervenção, que explore outras linguagens, além da fala, de formas culturais que respeite cada região, como o pessoal do nordeste trabalhava com cordéis”, pontuou.

Ponta pé

Os diálogos com as comunidades locais já são uma realidade em diversos cantos do país. Em Alagoas, no nordeste brasileiro, entidades que compõe a Frente Brasil Popular estão preparadas para a criação dos congressos municipais e estaduais, como lembra Gustavo Marinho, do setor de comunicação do MST.

“Em Alagoas, a gente já tem feito um debate em torno do Congresso do Povo e todo mundo está bastante ansioso com essa possibilidade de a gente construir esse processo rico de trabalho de base e mobilização com o conjunto da sociedade alagoana. O que a gente já vem construindo, do ponto de vista da unidade das organizações, tem colocado para a gente um grande desafio de conseguir chegar no conjunto do povo da classe trabalhadora alagoana”, disse.

Os diálogos com a população brasileira devem se intensificar até o começo de março quando deverão acontecer os primeiros congressos estaduais.

Do Brasil de Fato

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