Nilto Tatto: Vergonha Mundial, mentira internacional
Em artigo, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara trata do discurso de Michel Temer na ONU, uma “sucessão de mentiras do início ao fim”
Publicado em
Quem acha que o presidente Michel Temer faltou com a verdade na ONU apenas quando disse que o desmatamento da Amazônia teria diminuído 20% está muito enganado. O discurso do presidente golpista foi uma sucessão de mentiras do início ao fim. Como presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, vou me ater apenas às falácias de Temer na área ambiental.
Desde o início de seu mandato ilegítimo, Temer vem atacando sistematicamente a área ambiental, onde estamos vivendo o período de maior retrocesso desde a redemocratização. Essa é a realidade.
Vamos então dissecar as mentiras do presidente ilegítimo. Temer afirmou: “O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa questão temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região.”
Em nota oficial, Temer disse que utilizou dados do Imazon para tentar vender a queda no desmatamento e foi prontamente desmentido por técnicos do próprio Imazon! Misturou dados de 2016 e 2017 que foram obtidos com metodologias completamente diferentes. Os dados oficiais do INPE mostram exatamente o contrário. O próprio ministério do Meio Ambiente divulgou sem alarde no dia 29 de agosto deste ano os dados oficiais. Entre agosto de 2015 a julho de 2016 o desmatamento AUMENTOU em 27%, chegando a 7.989 km² no período. O INPE utiliza uma rigorosa metodologia monitorando o desmatamento na Amazônia Legal em uma série histórica que vem desde 1988. Os dados para 2017 ainda não foram divulgados pelo instituto.
Ele também disse, sem um mínimo de vergonha, que: “O compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável é de primeira hora. (…) Em todas as frentes, o Brasil procura dar sua contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”
O mundo fantasioso de Temer é completamente descolado da realidade. Da LOA (Lei Orçamentaria Anual) de 2017 para a PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2018 o orçamento do Ministério do Meio Ambiente caiu quase 17%. Mostrando que a área ambiental e o desenvolvimento sustentável estão longe de ser uma prioridade de seu governo. Os programas que ajudam a conter o desmatamento foram os mais afetados, vejamos:
Ampliação e Consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza: corte de 74,6%
Apoio à Conservação Ambiental e à Erradicação da Extrema Pobreza – BOLSA VERDE: programa excluído.
Apoio à Implementação de Instrumentos Estruturantes da Politica Nacional de Resíduos Sólidos: corte de 97,4%
Apoio a Projetos de Desenvolvimento Sustentável Voltados à Qualidade Ambiental Urbana: corte de 97,1%
Recuperação e Preservação de Bacias Hidrográficas: corte de 95,7%
Só aqui são mais de R$ 85 Milhões de cortes no orçamento que afetarão diretamente a capacidade do Brasil de cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que Temer fez tanta questão de propagandear para os líderes mundiais. Porém está claro que o presidente não engana ninguém. O alarde em defesa da Amazônia por seu decreto de extinção da RENCA (Reserva Nacional de Cobre e Associados) em agosto deste ano chamou a atenção do mundo para a maneira irresponsável com que trata o patrimônio natural brasileiro. Com uma desaprovação beirando os 90%, Temer fez um discurso mentiroso na tentativa de abrandar a visão extremamente negativa que o mundo tem de seu governo e de suas políticas ambientais.
No discurso da ONU, portanto, como representante de todo o povo brasileiro, nosso presidente passou vergonha e mentiu para o mundo. Não podemos nos calar diante disso. Como brasileiros temos a obrigação de denunciar as falácias do presidente ilegítimo Michel Temer, para que suas mentiras não sejam também as mentiras de todos nós.
*Artigo publicado anteriormente no PT na Câmara
Nilto Tatto é deputado federal pelo PT-SP e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara