“Ninguém pode deixar de sonhar ou perder a esperança”, diz Lula
No Crato, ex-presidente falou sobre necessidade de se resistir ao golpe e listou retrocessos que Brasil vive desde que Michel Temer assumiu
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O ex-presidente Lula chegou atrasado para o ato no Crato, interior do Cariri, na noite desta quarta-feira. O motivo foram as inúmeras paradas espontâneas nas pequenas cidades do sertão cearense no trajeto da viagem Lula Pelo Brasil. Foram ao menos oito vezes em que a população foi até a beira da estrada solicitar que Lula descesse do ônibus.
“Mesmo nas cidades em que a gente não marcou para passar, o povo vai para a beira da estrada e para o ônibus. Eu saí de Quixadá imaginando que ia fazer dois discursos hoje. Com esse aqui já é o sétimo”, disse ele em Crato.
No ato, Lula recebeu uma série de homenagens, entre elas, o título de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri, o título de cidadão do Crato e a Comenda Bárbara de Alencar. O vice-presidente nacional Marcio Macedo também estava no ato, e agradeceu a todas as personalidades políticas presentes.
Já o governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou que Lula foi quem mais fez pelos pobres e pelo Nordeste, e presentou o ex-presidente com uma sandália para que ele possa continuar sua caminhada por todo o Brasil.
“Ninguém pode cair no desespero, deixar de sonhar ou perder a esperança. Tenho 71 anos mas tenho vontade de lutar como um menino de 18 anos. E não vamos permitir que esse país seja submetido ao retrocesso”, disse o ex-presidente.
O ex-presidente disse que não sabe se concorrerá às eleições, mas se concorrer, será para ganhar. “E se ganhar é para mudar muita coisa do que eles estão fazendo”, disse. Lula denunciou os retrocessos do golpe, sobretudo na educação.
“Eu falo com reitores e eles dizem que já não tem mais dinheiro para fazer muitas coisas. Eles pararam de fazer os investimentos nas escolas técnicas”, disse. “Vão vender pedaços da Petrobras.”
Também falou da mudança no regime de exploração do pré-sal, em que foi extinta a lei da partilha – quando o país era do petróleo. “O Brasil está virando um importador de gasolina, e a gente era importador”, pontuou. Lula também citou a venda da Eletrobras, a liberação da exploração de reservas minerais na Amazônia, e a venda da Casa da Moeda.
“Temos que dar um recado para eles. Nós temos limite para a nossa paciência. Nós não queremos que vocês continuem destruindo o país como vocês estão fazendo”, afirmou o ex-presidente. Ele lembrou que os golpistas reduziram R$ 10 do salário mínimo do próximo ano, enquanto Michel Temer gastou R$ 14 bilhões para ter 260 votos para a permanência do Temer na Presidência da República.
Educação
Ao receber o título de doutor Honoris Causa, Lula disse que queria compartilhar o título com as pessoas que o ajudaram a governar, e que lutaram pelo ensino público de qualidade. “A educação é mais que um direito, é um meio de libertação”, disse ele. “As elites que governaram o Brasil nunca se preocuparam em democratizar a educação.
Lula lembrou que, em seu governo, o orçamento do Ministério da Educação foi triplicado. “Criamos o Fundeb, aprovamos o piso nacional dos professores, criamos a Universidade Aberta, o Ciências Sem Fronteiras, o Plano Nacional de Educação (PNAE)”, listou.
Apenas no Ceará, segundo o ex-presidente, as escolas técnicas passaram de 5 para 20 durante o seu governo.
“A universidade pública está sendo apropriada pelo seu verdadeiro dono: o povo brasileiro. Numa verdadeira democracia, o filho do povo pode estudar em escolas tão boas quanto as do filho do rico”, disse ele. “Continuem fazendo dessa universidade um instrumento de transformação da realidade. Não desistam nunca de sonhar por um país mais justo para o povo brasileiro”, concluiu.
Por Mariana Zoccoli, enviada especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias