No Café PT, deputada Andréia de Jesus reforça luta por igualdade racial
Primeira mulher negra na Assembleia de Minas reflete sobre racismo estrutural, violência política e os avanços conquistados no governo Lula
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No Café PT desta quarta-feira (27), a deputada estadual pelo PT-MG e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Andréia de Jesus, discutiu a violência política de gênero e o combate ao racismo estrutural.
Reconhecida por sua trajetória como mãe solo, advogada popular e primeira mulher negra na ALMG, a parlamentar enfatizou a urgência em transformar as estruturas de poder para que políticas públicas atendam a população negra, majoritária no Brasil.
Andréia de Jesus celebrou a sanção do presidente Lula do Dia da Consciência Negra como feriado nacional. “Essa é uma conquista não só para o movimento negro, mas para toda a nação. Vivemos as consequências de 350 anos de escravidão. Ainda hoje, a população negra é a maioria nas filas de desemprego e as mulheres negras chefes de família enfrentam uma realidade de abandono e genocídio da juventude negra”, destacou.
A deputada também ressaltou a importância da memória para alcançar justiça: “Precisamos de um dia para denunciar, mas também para reconhecer nossos heróis. Histórias como a de Zumbi dos Palmares e a resistência negra na ditadura são apagadas. Memória é fundamental para transformar a realidade”.
Resistência em espaços de poder
Ser a primeira mulher negra na ALMG é, para Andréia, um ato de resistência em um espaço historicamente branco e masculino. “A responsabilidade pesa, porque carregamos as demandas de mais de 500 anos de reparação. Ainda somos minoria na política. São três mulheres negras em um universo de 77 deputados na assembleia. É um ato de resistência estar ali”, declarou.
Ela também destacou os desafios diários do mandato, desde lidar com ameaças e ofensas pessoais até a necessidade de traduzir questões complexas, como o ciclo orçamentário, para que a população possa compreender e participar do debate público.
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Violência política de gênero
A deputada denunciou as diversas formas de violência política que enfrenta por ser mulher negra em posição de poder. “Já mandaram calar a boca, editaram falas minhas para incitar ódio, e até me chamaram de “tchutchuca do PCC”. Recebo ameaças de morte e lido com mais de 80 inquéritos abertos por injúria racial e ameaças”, relatou.
Ela defendeu políticas públicas efetivas para combater a violência política de gênero, mencionando a recente aprovação de uma iniciativa pioneira na ALMG, fruto de sua atuação. “Essa responsabilidade deve ser do Estado, não apenas das mulheres que denunciam”.
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Sistema prisional e direitos humanos
Como presidenta da Comissão de Direitos Humanos, Andréia de Jesus destacou a gravidade das violações no sistema prisional mineiro.
“Temos masmorras em Minas Gerais. Pessoas convivem em celas superlotadas, sem água potável, e até desaparecem dentro do sistema. Nossa comissão recebe centenas de denúncias por mês e estamos avançando em parcerias com o Ministério Público e o Conselho Nacional de Direitos Humanos para fiscalizar e humanizar essas condições”, afirmou. “Trabalhamos para implementar equipamentos que substituam a revista vexatória, prática já proibida pelo STF, mas que ainda persiste em muitos presídios.”
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Avanços com o governo Lula
Andréia de Jesus celebrou os avanços no combate ao racismo no governo Lula, com a promoção de políticas públicas que beneficiam todo o povo brasileiro. “Políticas como o Minha Casa Minha Vida, escolas técnicas integrais e o fortalecimento do Enem têm impactos diretos na juventude negra. Precisamos garantir que meninas negras, que ainda enfrentam a gravidez precoce e abandonam a escola, tenham acesso à educação e oportunidades.”
Ela enfatizou o retorno de programas sociais no governo Lula como um marco. “O desenvolvimento acontece no cotidiano, com quilombos entregando alimentos para escolas e jovens acessando universidades graças às cotas. Eu sou aluna cotista e minha vida mudou. É essa transformação que precisamos expandir.”
A deputada reforçou que essas políticas vão além da assistência e representam investimentos no desenvolvimento do país. “Estamos avançando e não há retorno. O povo negro está ocupando universidades, mudando sua realidade e a estrutura do país”.
Com uma trajetória marcada pela resistência e pela transformação, Andréia de Jesus reafirma que a luta do povo negro é essencial para construir um Brasil mais justo e igualitário. “Políticas sociais são investimento, não gasto. Nossa luta segue para garantir que ninguém fique para trás”, concluiu.
Da Redação