No Maranhão, incêndio reforça necessidade de conter conflitos fundiários

Fazendeiros são suspeitos de atear fogo na mata e pôr em risco a vida de moradores da reserva indígena Arariboia (MA)

Divulgação/Corpo de Bombeiros do Maranhão

Incêndio Florestal no Maranhão

Índios e brigadistas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) tentam controlar o incêndio florestal na reserva indígena Arariboia, no Maranhão. O local está em chamas a quase dois meses.

Latifundiários da região são os principais suspeitos de terem ateado fogo à mata, segundo informou a integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) regional, Rosimeire Diniz Santos, em entrevista nesta segunda-feira (26) à Rádio Brasil Atual (RBA).

“O Ibama diz que acionou a Polícia Federal, mas é difícil alguém ser responsabilizado, porque é comum ocorrer assassinato contra indígenas no Brasil e dificilmente tem uma investigação até o final”, explicou.

O fogo consumiu mais da metade do território que possui cerca de 400 mil hectares. Os indícios de que o incêndio tenha sido criminoso é ressaltado por Rosimeire Santos, que diz existir conflito entre os indígenas e madeireiros da região.

Segundo a integrante do Cimi, a queimada é resultado de “represálias” contra os índios que estabeleceram os limites territoriais para impedir a ação dos madeireiros. Santos lamentou a postura da grande mídia que não tem dado visibilidade aos constantes conflitos entre os índios e os latifundiários.

Para ela, para garantir que os índios deixem as terras da região, são produzidas soja e eucalipto, por exemplo, para forçar o indígena a abandonar a terra.

O assassinato de um indígena da liderança Ka’apor,  em abril deste ano nas terras Turiaçu, no norte maranhense, após resistir a invasões ilegais confere a guerra entre fazendeiros e índios no Maranhão. A região também enfrenta um incêndio e segundo Santos, “ninguém foi punido”.

O deputado federal Zé Carlos (PT-MA) ressalta que é preciso dar um basta nos conflitos que trazem prejuízos aos indígenas e ao meio ambiente.

“É um absurdo este crime contra o povo indígena. A situação é grave. Diante do problema, é preciso o Congresso Nacional se posicionar sobre a questão da grilagem que ocorre na região e em outras partes do país”, declara.

Carlos ressalta que o Legislativo deve discutir mais a PEC 215/2000 que transfere a decisão sobre a demarcação de terras indígenas do Ministério da Justiça para o Congresso Nacional e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). O petista reforça que o texto do projeto do jeito que está “é um prato cheio para os ruralistas”.

“Temos que preservar os índios, a vida. O texto da PEC 215 precisa ser analisado com cautela. Do jeito que está só irá beneficiar os latifundiários. Na Câmara a comissão é composta pelos defensores dos fazendeiros, ou seja, “é um prato cheio para os ruralistas”, conclui.

Por Michelle Chiappa, da Agência PT de Notícias

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