O Globo: “Marina é retrocesso”, diz presidente do PT
Coordenador geral da campanha de Dilma, Rui Falcão afirma que não é “questão pessoal” e diz que 2º turno é outra eleição
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O presidente nacional do PT, Rui Falcão, coordenador geral da campanha da presidenta Dilma Rousseff, concedeu entrevista ao jornal O Globo. O material foi publicado na edição deste sábado (20).
“O presidente nacional do PT, Rui Falcão, coordenador geral da candidatura da presidente Dilma Rousseff, disse em entrevista ao GLOBO que as críticas feitas pelo PT à ex-senadora ocorrem porque o programa dela representa um retrocesso na política econômica. Para ele, num provável segundo turno contra Marina, o partido pode obter os votos dados do PSol, PSTU e Eduardo Jorge, além de parte dos votos do Aécio Neves em Minas Gerais, estado onde Dilma nasceu e onde o governo investiu muitos recursos federais.
Com a queda de Marina Silva nas pesquisas, o senhor avalia que deu certo a estratégia de “bater” na candidata?
Em nenhum momento nós batemos na Marina. O que temos feito é criticar o programa dela, que é um programa que, para nós, significa um retrocesso do ponto de vista das propostas de política econômica, de relações externas, de submeter os programas sociais à disponibilidade fiscal. Temos criticado principalmente três aspectos, a independência formal do Banco Central, colocar em segundo plano os bancos públicos, e a outra coisa é o Pré-sal. Ela faz uma leve menção ao Pré-sal em seu programa e o Walter Feldmann, que é um dos coordenadores de seu programa, diz claramente que é preciso mudar o regime de partilha e o regime de concessão.
Isso não é terror contra ela?
Ao contrário. Ela é que tem nos atacado quando deu uma declaração de que nós colocamos um ladrão durante 12 anos na Petrobras para assaltar a empresa. Ela está processada por isso.
O senhor está magoado com Marina?
Não é uma questão pessoal com ela. Nossa questão é divergência política e programática. Ela se fez politicamente no PT. Se fez vereadora, deputada, senadora, ganhou toda essa condição de liderança por estar ancorada em um partido político que a projetou. Ela também se projetou por seus méritos. O fato de ter optado por outro partido, e já é o terceiro ou quarto, é escolha dela. Isso contrasta com a imagem que ela quer vender de nova política. Inclusive por trocar tanto de partido e por ter a seu lado pessoas que poderiam ser identificadas na linguagem dela com a velha política, como é o caso dos Bornhausen e do Heráclito Fortes.
A presidente está na frente nas pesquisas, mas quando chega ao segundo turno, Marina está numericamente à frente. Qual é a estratégia do PT para o segundo turno?
Primeiro, nas nossas pesquisas, já temos um ou dois pontos na frente. Mas não vou me basear nisso. Segundo turno hoje é mera projeção. O segundo turno coloca uma nova realidade. São dois ou duas oponentes em um outro quadro, com uma mexida nos apoios. Nossa estratégia, independentemente de quem vá para o segundo turno, é manter essa linha de recuperar o que nós fizemos, as propostas de futuro e o cotejo com qualquer um dos dois é muito parecido. E há analistas imaginando até que nesta reta final pode haver uma reversão e o Aécio ultrapassar a Marina.
Aécio subiu alguns pontos. Em sua avaliação, ele não está “morto” nesta disputa?
Morto na disputa o Aécio não está porque a cada dia ele apresenta novas propostas, fazendo apelos, e atacando Marina também. Mais no rádio do que nos eventos públicos. A ofensiva maior é contra nós, mas, lateralmente, ele pega a Marina também.
A oposição tem dito que o PT não consegue fazer a economia crescer e não controla a inflação. Como conter a inflação sem cortar gastos públicos?
A inflação está há 12 anos sob controle. Vamos continuar evitando que a inflação fuja do centro da meta. Nós já provamos que não é incompatível aumentar salário, manter a inflação sobre controle e fazer a economia crescer. Havia esse mito ao qual se quer retornar agora que, para fazer o país, era preciso fazer arrocho salarial, manter uma taxa razoável de desemprego, e nós provamos que não precisa disso. Agora tem gente que finge que não existe uma crise mundial terrível e que nós nos defendemos da crise sem perder emprego, sem arrochar salário e sem retirar direitos. Aqui no Brasil a presidente já falou: mexer com direitos trabalhistas, nem que a vaca tussa. Vamos manter a política econômica atual, com esses ajustes de mais investimento em infraestrutura, de qualificar melhor a mão-de-obra e de investir mais em saúde e educação.
O escândalo da Petrobras está afetando o partido nas eleições como afetou o caso do mensalão?
Qualquer alusão tem que ser tomada com cuidado porque os depoimentos estão sendo tomados sob segredo de justiça e são vazamentos que não se confirmam. Se esses vazamentos fossem confirmados, eles teriam que ter atingido duramente a candidatura da Marina porque no vazamento o nome do governador Eduardo Campos (morto há dois meses num acidente aéreo em Santos) é citado também. Não estou dizendo que aqueles fatos ocorreram, mas no vazamento o nome dele é citado com mais dois governadores. Teria que afetar Marina também.
A presidente Dilma chegou a anunciar a saída do ministro Guido Mantega, o que foi festejado pelo mercado e pelo setor produtivo. O que deu de errado na política econômica do ministro da Fazenda?
Novo governo, nova equipe, como ocorreu em todos os governos na fase da democratização. Não teve nenhum presidente reeleito que manteve a equipe no segundo mandato. Nenhum. E as mudanças ocorreram até mesmo entre aqueles que não tiveram reeleição. Mudar o ministério faz parte da rotina administrativa. O Guido (Mantega) não queria continuar, por razões pessoais. É natural que houvesse algum tipo de desgaste, até por ele ser um dos ministros mais longevos, mas ele sempre dialogou com todos os setores empresariais, nunca recebeu criticas frontais de que seja autoritário. E a política econômica que ele implementou, sob orientação dela, resultou em muitos ganhos para o Brasil. Agora estamos no auge da crise, estamos enfrentado dificuldades, mas temos que julga-lo pelo conjunto da gestão e não por este período mais crítico.
As pesquisas indicam que Marina vai conquistar os votos do Aécio no segundo turno. Como o PT pode crescer no segundo turno para vencer Marina?
Eu acredito que como o segundo turno é outra eleição, Dilma pode pegar os votos os eleitores que votaram no PSol, no PSTU, no Eduardo Jorge, como também conseguir atrair eleitores seja do Aécio ou de Marina, dependendo de quem vai para o segundo turno. Caso o Aécio não vá para o segundo turno, em Minas Gerais, por exemplo, acho que boa parte da votação dele migra para a Dilma Ela é mineira, o governo investiu muito em Minas Gerais. O Pimentel tende a ganhar no primeiro turno, o que facilita o entendimento do eleitor de que o governador vai se dar melhor se a presidente for do mesmo partido. Então, eu acredito que uma parte do eleitorado do Aécio virá para a Dilma, se o Aécio não for para o segundo turno.
Os partidos aliados reclamam muito da presidente Dilma dizendo que falta diálogo. O que precisa mudar num eventual segundo mandato?
Ao que me consta, ela tem dialogado bastante, inclusive com os vários setores, com os empresários. Vocês devem ter visto nos programas de TV ela com conjunto de jovens, de gente da UNE, pessoal do funk, do rap. Ela fez um encontro muito grande com mulheres em São Paulo, fez com a comunidade negra em Belo Horizonte. Tem ido a todas as reuniões do conselho político da campanha. Tem se reunido com os conselhos políticos dos partidos antes de apresentar projetos importantes ao Congresso. E, sobretudo agora com o lançamento da política social de participação popular – o que causou grande confusão na mídia -, ela tem ampliado o diálogo para o conjunto da sociedade. As pessoas confundem um pouco o estilo do presidente Lula com o jeito dela. Mas não tem faltado diálogo. Essas medidas agora que atingem a indústria, a redução dos tributos para a exportação, tudo isso foi fruto de diálogo do empresariado com ela.
Não foi eleitoreiro tomar essa decisão às vésperas da eleição?
Não acredito que a gente tenha tanto voto assim com o empresariado. São medidas importantes para o país, porque garantem emprego, estimulam a economia. Não creio que tenha componente eleitoreiro não.
O que precisa mudar no próximo governo?
Tem que mudar a equipe, como ela já anunciou, tem que adequar as novas políticas à realidade do ano que vem. Você tem contratos que precisam ser honrados. Vai ter que reajustar os combustíveis, como já foi dito que serão reajustados. Tem a conclusão de várias obras de infraestrutura que se iniciaram em função da realização da copa mas que vão ficar para a população. Resolver o problema das concessões de ferrovias, de novas rodovias cujos editais já foram lançados. O reajuste do bolsa-família.”
Da Redação da Agência PT de Notícias