“O poder que de fato nos oprimia era da elite”, diz Hildegard Angel

Para a filha de Zuzu Angel, os militares eram apenas instrumentos; jornalista esteve em debate que reuniu também Konder Comparato, Gilberto Carvalho e Magda Biavaschi

A Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo foi palco, nessa segunda (11), do ciclo de debates Que Brasil É Este?, organizado pelo Centro de Estudo de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que discutiu sobre a democracia e o sistema político nacional. Entre os participantes, o jurista Fábio Konder Comparato, o ex-chefe de gabinete de Lula, ex-ministro de Dilma Rousseff e presidente do Conselho Nacional do Sesi, Gilberto Carvalho, a jornalista e blogueira Hildegard Angel e a desembargadora aposentada e doutora pela Unicamp Magda Biavaschi.

Konder Comparato analisou de forma ampla a crise econômica nacional, criticou a resistência dos mais ricos em pagar mais impostos e comentou sobre o Ponte Para o Futuro, pacto econômico liberal que o PMDB pretende implantar caso chegue ao poder “Os que são favoráveis à diminuição da dívida pública pensam ‘vamos acabar com essa história de educação e saúde para todos. Que o pessoal se vire’. Esse é um dos pontos fundamentais de ‘A Ponte para o Infern…’ perdão, ‘Ponte para o Futuro’: redução dos impostos, revisão dos gastos da seguridade social e não mexer nos juros”.

Ciclo de Debates "Que Brasil é Este? " na Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo. Foto Paulo Pinto/Agencia PT

Ciclo de Debates “Que Brasil é Este? ” na Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo. (foto Paulo Pinto/Agência PT)

Ele disse que a classe dominante sempre esteve representado na política nacional e que a chegada de um ex-operário à presidência causou tensão entre a elite. “O elemento desencadeador da chamada crise política foi a intrusão no quadro tradicional dos que exercem mando político, não de um militar; para a classe rica, foi algo pior. O intruso foi o único chefe de estado da história brasileira oriundo do proletariado”.

Por fim, Konder Comparato criticou as manobras para tirar a Dilma do poder e falou sobre o perigo do aumento de discursos fascistas com a criação de heróis nacionais, dando, como exemplo, o juiz Sérgio Moro.

Negociado sobre o legislado
Para Magda Biavaschi, o grande capitalismo quer diminuir ou eliminar os direitos dos trabalhadores, pois esses direitos criariam obstáculos para o acumulo de riqueza das corporações. “Para satisfazer esse desejo insaciável de acumulação de riqueza abstrata, o capitalismo contemporâneo não quer obstáculos, elimina todos os obstáculos com uma avalanche assustadora”.

Ela também criticou o Ponte para o Futuro, que defende o Negociado sobre o Legislado em vez do respeito às leis trabalhistas. “O pressuposto do ‘Ponte para o Futuro’, além do recrudescimento do ajuste fiscal e das políticas de ajuste, é a desregulamentação de todas as formas que criam obstáculos a esse livre trânsito, um mercado de trabalho desregulamentado”.

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“O Ponte para o Futuro diz claramente que quer substituir a lei pela negociação direta, pelo livre encontro das vontades iguais e autônomas. Como se as vontades fossem iguais e autônomas. Seria o fim de todas as proteções legais aos trabalhadores”.

A jornalista Hildegard Angel é filha da estilista Zuzu Angel, que morreu de forma misteriosa em 1976 enquanto denunciava o desaparecimento do filho, Stuart Angel, por militares. Sua história se tornou célebre pela composição Angélica, de Chico Buarque e Miltinho. Ela começou a fala lembrando-se da mãe. “Eu tenho uma missão a concluir. Mamãe deixou a sua penosa missão inconclusa. Ela permanece encarcerada nos ferros retorcidos do Karmann Ghia no desespero da sua denúncia engasgada”.

“O poder que de fato nos oprimia era da elite dominante brasileira, da qual os militares, naquele momento da história, eram apenas instrumentos”, disse. Depois, falou sobre a dificuldade do povo tem de aceitar que há conspiradores contra a democracia no País. “No Brasil, ‘não há conspiração’. Estabeleceu-se como correto que as conspirações são alegações de ingênuos e tolos; quando, ao contrário, somos um país de cegos que se recusam a enxergar o óbvio”.

“Uma investigação de primeira instância que desconstrói a nossa economia, a nossa construção civil empregadora de um milhão e meio de brasileiros, não vem ao caso, porque ‘não se trata de uma conspiração’”, afirmou.

 “No Brasil, ‘não há conspiração’. Estabeleceu-se como correto que as conspirações são alegações de ingênuos e tolos”

A jornalista encerrou clamando por democracia, sob fortes aplausos e algumas lágrimas do público. “Enfim, vimos a luz no fim do túnel. E o povo brasileiro desejará continuar a vê-la. Estamos aqui para unir as nossas vozes aos que clamam para que não haja golpe. O povo brasileiro há de continuar a querer continuar a enxergar a luz da justiça social”.

Governo mais popular
Gilberto Carvalho disse que a crise pode ser uma grande oportunidade para o governo se aprofundar ainda mais na defesa de lutas populares.

“Do jeito que está, não daria para continuar e não vai continuar. Não vai continuar por essa energia maravilhosa que nos traz aqui. Grande parte das pessoas que estão na rua (contra o impeachment) não é favorável ao governo ou ao PT. Quem está na rua é levado por um sagrado senso de defesa do direito das pessoas, da democracia, da legalidade, dos pobres e dos excluídos. Quem está na rua sabe o que está em risco”.

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Ele também elogiou o papel dos movimentos sociais pela defesa intransigente da democracia neste momento delicado. “Os movimentos sociais e a sociedade civil estão dando uma demonstração de incrível maturidade de saber separar a crítica necessária, o descontentamento, com a necessidade de defender a democracia”.

Carvalho se mostrou otimista com a aproximação de Lula ao governo. “Nós temos que usar toda essa energia para um novo padrão de projeto e de governo. A ida do Lula para o governo me dá, com muita força, essa esperança de maneira muito concreta”, finalizou.

Assista debate na íntegra:

Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias

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