Para revista alemã, Brasil vive tentativa de “golpe frio”
Semanário Der Spiegel analisa tentativa de golpe e perseguição contra Dilma e Lula e afirma que sucesso “subiu à cabeça de Sérgio Moro”
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Sob o título “Crise de estado no Brasil: golpe frio”, uma reportagem da revista semanal de notícias Der Spiegel, da Alemanha, publicada no último sábado (19), analisou a crise política e a possibilidade de golpe em vigor no Brasil. O autor da reportagem, o jornalista Jens Glüsing, diz o que ocorre no País hoje é uma tentativa de “golpe frio”.
A revista comparou o tom violento dos protestos anti-PT, no dia 13 de março, com os ocorridos a favor do governo na última sexta-feira (18). Para ela, nas manifestações a favor da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula quase não se viu discursos de ódio, enquanto nos protestos de domingo havia “cada vez mais golpistas, extremistas de direita e intolerantes”.
De acordo com a Der Spiegel, o sucesso subiu à cabeça de Sérgio Moro e que, agora, “o juiz faz política, o que não para ele”. A publicação também lembrou que acusados de corrupção terão o papel de julgar o impeachment de Dilma. “O fato de que tais figuras tenham um papel chave para derrubar uma presidenta que não possui nenhuma culpa anterior mina a legitimidade de todo o processo”.
“Lula não tem milhões na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha”, afirma.
Leia a reportagem completa abaixo:
“Crise de Estado no Brasil: o “Golpe Frio”
por Jens Glüsing
Os oponentes de Lula parecem ter conseguido aquilo em que sua frágil sucessora Dilma Rousseff falhou desde que tomou posse: reaglutinar ao governo a base do Partido dos Trabalhadores do Brasil, os sindicatos e os movimentos sociais.
Centenas de milhares de apoiadores de Lula protestaram na sexta-feira à noite em todo o país contra a tentativa de forçar a saída da presidenta de seu cargo por meio de impeachment. Na avenida Paulista, em São Paulo, que é considerado como um termômetro para os protestos, eles ocuparam 11 quadras da cidade. As manifestações permaneceram calmas e Lula, conciliador, se absteve de ataques contra o sistema judicial e fez um chamado para o diálogo. Discursos de ódio raramente podiam ser ouvidos nas manifestações no Rio e em São Paulo. Ao contrário do protestos em massa contra o governo na semana passada em massa, aos quais se juntam cada vez mais golpistas, extremistas de direita e intolerantes. Eles não representam a maioria dos manifestantes, mas eles ganham popularidade. Isto é preocupante para a ainda jovem democracia brasileira.
Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar em meados dos anos oitenta, uma crise política que poderia destruir muitas das realizações dos últimos 30 anos ameaça o maior país da América Latina. Parte da oposição e do Judiciário jogam lenha, juntamente com o poderoso grupo empresarial da TV Globo, em uma verdadeira caça às bruxas contra o ex-presidente Lula.
Sérgio Moro, um ambicioso juíz de Curitiba, no Sul do Brasil, aparentemente, tem apenas um objetivo: colocar o ex-presidente atrás das grades. Moro conduz o inquérito sobre o escândalo de corrupção que cerca a empresa petrolífera estatal Petrobras, envolvendo centenas de executivos, lobistas e políticos, incluindo vários altos representantes do Partido dos Trabalhadores de Lula.
Como um furacão, o juiz varreu a elite política e econômica do Brasil. Ele descobriu bilhões em corrupção. Mais de 100 suspeitos estão na prisão, a maioria sem condenação. Muitos brasileiros celebram o juiz como um herói nacional.
Poucas Provas
Mas nos últimos meses, aparentemente o sucesso subiu à cabeça de Moro. O juiz faz política, o que não é para ele. A publicação de conversas telefônicas interceptadas entre Lula e Dilma poucas horas antes da nomeação de Lula como Ministro-Chefe da Casa Civil serviu para fins políticos e foi juridicamente duvidosa, para dizer o mínimo.
Moro até agora não tem sido capaz de alinhavar uma acusação contra Lula, embora dezenas de promotores e agentes federais em Curitiba tenham passado meses vasculhando as finanças e condições de vida pessoais do ex-presidente. As provas são ainda muito escassas.
Moro até agora não tem sido capaz de alinhavar uma acusação contra Lula, embora dezenas de promotores e agentes federais em Curitiba tenham passado meses vasculhando as finanças e condições de vida pessoais do ex-presidente.
Lula não tem milhões na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Cunha é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e um juiz de Corte Superior a ele se referiu como um criminoso. Mas isso não o impede de manter a presidência da Câmara que é responsável pelo impeachment da atual presidenta.
Nesta honorável Câmara, tem assento, entre outros, um ex-governador do estado de São Paulo que foi condenado na França por acusações de corrupção, mas não foi entregue pelos brasileiros em extradição, por ser brasileiro.
O fato de que tais figuras tenham um papel chave para derrubar uma presidenta que não possui nenhuma culpa anterior mina a legitimidade de todo o processo.
Partidários de Lula alertam contra um golpe frio contra a democracia brasileira. E essa preocupação não surge do nada.”
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias