Paulo Garcia: Um encontro com o Papa

Quando começamos a montar o Plano de Governo para esta administração, um dos temas mais discutidos por organismos sociais em todas as esferas mundo afora era a sustentabilidade, um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade de atender às gerações futuras. É uma forma de desenvolvimento que respeita o meio em que vivemos e não permite que os recursos para o futuro se esgotem. Tocar no tema “sustentabilidade” de forma sistemática foi iniciativa vanguardista, com a preocupação de sempre preservar as riquezas ambientais e, principalmente, promover a qualidade de vida de cada homem e de cada mulher que vive nessa cidade.

A iniciativa de tratar a cidade sob a visão do desenvolvimento sustentável acabou atraindo olhares para a nossa Capital e muitas cidades viram em Goiânia um modelo a ser seguido. Como prefeito fui convidado, junto com outros seis gestores brasileiros, pelo Papa Francisco, para um encontro neste dia 21 na Cidade do Vaticano, onde estarão presentes 50 gestores municipais de vários países para discutir os temas constantes da Encíclica ‘Laudato si’ (Louvado seja), dentro da questão que deve ser a responsabilidade do momento: enfrentar os desafios das mudanças climáticas pelo homem, da pobreza extrema, da exclusão social e do tráfico de pessoas, no contexto do desenvolvimento sustentável. No documento eclesiástico, Sua Santidade aborda ainda o enclausuramento que o consumismo moderno tem promovido na segregação de grupos da nossa comunidade.

Tal convite mostra que a comunidade internacional avalia positivamente as ações que estão sendo realizadas em Goiânia. O Programa Urbano Ambiental Macambira/Anicuns, um dos mais ousados conjuntos de ações desenvolvidas pela Prefeitura de Goiânia, focadas essencialmente na questão ambiental e sua sustentabilidade, é um exemplo que vai beneficiar 132 bairros e 350 mil pessoas diretamente e prevê, dentro da sua área de abrangência, a elaboração de projetos e obras, a regularização urbana e o reassentamento de famílias em áreas de risco, além de infraestrutura urbana e social. Também tratamos o tema com a melhoria da Mobilidade Urbana, com a construção do BRT Norte-Sul, corredor exclusivo para o transporte coletivo, que beneficiará cerca de 120 mil pessoas por dia e atenderá 148 bairros da Capital e de Aparecida de Goiânia, reduzindo o tempo de viagem em 40%.

Ações como essas têm o reconhecimento da comunidade e de quem se importa com o bem-estar da população. E fomos vistos! O convite do Papa Francisco representa muito para Goiânia e para nosso Estado. Sem dúvida, o convite mais importante que já recebi. Estarão presentes ainda os prefeitos de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Belo Horizonte.

“Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”. Esta questão é a essência da ‘Laudato si’ sobre o que o Papa chamou de “casa comum”. Mas a Encíclica vai além do meio ambiente na versão objetiva da palavra, já que sustentabilidade é um todo e não pode ser pensada de forma fragmentada. O documento chama a atenção também para os excluídos que enfrentam terríveis ameaças devido às perturbações climáticas. Essa discussão vai ao encontro das nossas práticas e mostra que estamos no rumo certo, quando a administração trabalha para beneficiar as atuais gerações, pensando num legado que vai garantir mais tranquilidade às gerações futuras. Isso é visível nas intervenções que fazemos no trânsito, com os corredores exclusivos de ônibus, com acessibilidade às pessoas com deficiências, com ciclovias, com a humanização no atendimento à mulher, com garantia de educação às crianças, com criação e manutenção de parques, com justiça social e, principalmente, com amor pela cidade e pela população. Isso é sustentabilidade!

A discussão de um documento como a Encíclica é fundamental para garantir a qualidade de vida das futuras gerações. E para mostrar que todos estão em acordo com os desafios propostos, a Frente Nacional de Prefeitos redigiu a minuta da Declaração dos Prefeitos Brasileiros reunidos em Roma, que propõe, entre outros pontos, a transferência de recursos e tecnologias dos países ricos aos países mais pobres, visto que os primeiros são os que mais consomem recursos naturais e contribuem para o agravamento das mudanças climáticas. Esperamos que essa discussão mude os rumos do tratamento que é dado ao meio ambiente para que possamos vislumbrar um futuro melhor.

(Artigo inicialmente publicado no jornal “O Popular”, no dia 21 de julho de 2015)

Paulo Garcia é prefeito de Goiânia