PF confirma ligação entre o 8 de janeiro e a trama golpista de Bolsonaro
Com 884 páginas, relatório do inqúerito da PF aponta que depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília foi estimulada pelos golpistas para criar uma situação de instabilidade no país que jusificasse uma intervenção militar
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O relatório de 884 páginas da Polícia Federal que teve o sigilo liberado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes na terça-feira (26) traz novas revelações sobre os atentados de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas por terroristas do bolsonarismo. O documento comprova que o Brasil foi alvo de um planejado, financiado e orquestrado atentado à democracia, às instituições e à Constituição, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus comparsas desde 2019. Por pouco, tudo não culminou com um golpe de Estado que previa assassinatos do presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e de Alexandre de Moraes.
A Polícia Federal atestou com provas cabais que o 8 de janeiro fez parte de uma estratégia mais ampla, orquestrada pelo grupo criminoso de Bolsonaro com o objetivo de criar um clima de instabilidade no país que justificasse uma intervenção intervenção militar. Também foi uma forma de pressionar o então comandante do Exército, Freire Gomes, que havia se oposto ao golpe de Estado.
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Entre as provas está uma mensagem do general da reserva Mário Fernandes, então ministro substituto da Secretaria-Geral d Presidência, ao general Freire Gomes, em 7 de novembro de 2022, sobre a necessidade de um “evento disparador” para o golpe de Estado. Fernandes, conforme as investigações, também atuou para manter os acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis do Exército, de onde saíram os responsáveis pelas depredações do 8 de janeiro.
A conspiração golpista absurdamente acontecia nos gabinetes do Palácio do Planalto, onde se instalou o gabinete do ódio para a difusão de fakenews por meio de uma milícia digital, com afronta diária às instituições e questionamentos de decisões judiciais. Paralelamente à essa rotina, Bolsonaro, junto com os generais Braga Netto, Augusto Heleno e outros comparsas, tinham um plano de fuga caso tivessem problemas com a consumação do golpe.
Estado permanente de golpismo
O documento irretocável da PF expõe a anatomia do golpe com provas robustas alcançadas com o acesso à celulares e computadores dos golpistas e também aos dados apagados pelo tenente coronel e ex-braço direito de Bolsonaro, Mauro Cid e recuperados na nuvem.
São diversos áudios, mapas desenhados a mão, trocas de mensagens entre os golpistas – tenentes coronéis e generais que confirmam que Bolsonaro governou em estado permanente de golpismo, conclusão apontada também pela CPMI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro de 2023, que teve atuação destacada de senadores e deputados do PT e identificou Bolsonaro como o mentor do golpe.
“Muito grave: “Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade”, postou a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann em suas redes sobre os resultados da investigação sobre a conspiração antidemocrática de Bolsonaro e militares.
Muito grave: “Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 26, 2024
Uma das mensagens do general Mário Fernandes não deixa a menor dúvida de que uma das estratégias dos golpistas era incitar convulsões sociais para justificar o uso da força e desencadear a ruptura institucional. “E talvez o Sr. concorde comigo, comandante, quanto ao fato de que as atuais manifestações tendem a recrudescer, propiciando eventos disparadores a partir da ação das Forças de Segurança contra as massas populares, com uso de artefatos como gás lacrimogêneo e Gr de efeito moral…Tudo isto, bem próximo ou em nossas áreas militares!”, expôs o relatório ao apontar que os golpistas estavam por trás das manifestações antidemocráticas em frente aos quarteis, espalhando fakenews para que os militantes se mantivessem nos acampamentos.
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Especialistas destacam ações coordenadas
Especialistas em Direito Constitucional ouvidos pelo jornal Folha de São Paulo foram unânimes em corroborar as conclusões do relatório da PF. “Enfraquece a narrativa de que as pessoas no 8 de janeiro não queriam um golpe”, afirmou a professora de Direito da UFRJ, Carolina Cyrillo.
Há elementos para entender que o 8 de janeiro não foi um caso isolado e que a “intencionalidade dos crimes precisa ser analisada no contexto, marcado pela existência de atos preparatórios, institucionais ou coordenados contra a democracia”, publicou o jornal, que ouviu também Henderson Fürst, professor da PUC Campinas.
“Há conversas demonstrando complementação e adequação de plano para ser implementado durante o novo governo. As provas preliminares permitem concluir que 8 de janeiro não foi um ato isolado, embora não esteja claro como se manifestou o mecanismo de mobilização e atuação. Mas é possível observar que o plano anterior é alterado visando o 8 de janeiro”, assinalou Fürst.
A Folha publicou ainda uma fala do procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre o vínculo entre o plano de golpe e os atos terroristas de 8 de janeiro. “Os elementos de convicção até então colhidos indicam que a atuação da organização criminosa investigada foi essencial para a eclosão dos atos depredatórios ocorridos em 8.1.2023”, disse o procurador.
“Não sobe a rampa”
Mensagens nos celulares mostram que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid confirmou a participação de Bolsonaro. “O 01 (Bolsonaro) sabe disso?”, perguntou um militar sobre uma carta golpista assinada por oficiais do Exército e Mauro Cid responde: “Sabe”. O documento termina com a frase “Lula não sobe a rampa”.
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Junto com recorte de publicação que cita que Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano de golpe, o senador Humberto Costa (PT-PE) pediu em suas redes punição para o ex-presidente e seus cúmplices.
“PF concluiu que Bolsonaro era o chefe da organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado e matar o presidente eleito, o seu vice e o presidente do TSE, também membro do STF. Todos precisam responder pelos crimes que cometeram, especialmente o chefe da quadrilha”, destacou o senador.
URGENTE! PF concluiu que Bolsonaro era o chefe da organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado e matar o presidente eleito, o seu vice e o presidente do TSE, também membro do STF. Todos precisam responder pelos crimes que cometeram, especialmente o chefe da quadrilha. pic.twitter.com/lNCOrKh8ZC
— Humberto Costa (@senadorhumberto) November 26, 2024
“Paulada! Para a PF, Jair Messias Bolsonaro planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado”, postou o deputado Rogério Correia (PT-MG), um dos que mais se empenharam nos trabalhos da CPMI do 8 de janeiro.
🚨 PAULADA!
Para a PF, Jair Messias Bolsonaro PLANEJOU, ATUOU e teve o DOMÍNIO de forma DIRETA e EFETIVA dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado.
SEM ANISTIA! ANISTIA É O CARALH* pic.twitter.com/Yyz433fWLU
— Rogério Correia (@RogerioCorreia_) November 26, 2024
“Bolsonaro sabia de tudo. É algo escandaloso”, declarou o deputado Lindbergh Faria (PT-RJ) em vídeo postado em suas redes em que mostra detalhes do inquérito da PF e pede a prisão preventiva de Bolsonaro.
ACABOU: PF PROVA QUE BOLSONARO PLANEJOU, ATUOU E TEVE PLENO DOMÍNIO DO PLANO DE GOLPE E DE EXECUÇÃO DE LULA, ALCKMIN E MORAES. EU DEFENDO A PRISÃO PREVENTIVA DE BOLSONARO! pic.twitter.com/fSFqETn3T6
— Lindbergh Farias (@lindberghfarias) November 26, 2024
Da Redação