Porto Alegre: a pré-candidatura que nasceu da luta contra o golpe
Pré-candidato na capital gaúcha, Raul Pont, afirma que o debate sobre os retrocessos do governo golpista será central nas eleições municipais deste ano
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Em Porto Alegre (RS), a esquerda saiu na frente. Na cidade, que já foi sede de cinco edições do Fórum Social Mundial, o pré-candidato do PT Raul Pont (PT) aparece em segundo lugar nas pesquisas de opinião, atrás da pré-candidata Luciana Genro (PSOL).
Pont já foi vice-prefeito de 1993 a 1996, prefeito de 1997 a 2000 e deputado estadual do Rio Grande do Sul em diversas legislaturas. Sua pré-candidatura nasceu com as mobilizações populares contra o golpe, e se consolida junto aos movimentos sociais que lideraram essa luta.
“A nossa candidatura é da Frente Brasil Popular, da identificação contra o golpe”, afirma ele. Genro, ao contrário, apoiou o impeachment ilegítimo durante muito tempo, e não apareceu nessas mobilizações, explica Pont.
“É uma pré-candidatura (a de Luciana) que larga bem, mas terá dificuldades de se manter”, opina. Para ele, Genro cresceu por ter sido candidata à presidência em 2014, e por pregar um discurso “contra tudo e todos”.
“É uma cidade visivelmente muito mal administrada, não só obras inacabadas, mas também abandono, a coleta de lixo insuficiente, sujeira na rua”, afirma Pont.
O atual prefeito é Jose Fortunati, licenciado do PDT. Para o petista, a cidade vive um descalabro administrativo e a insatisfação com o atual governo bate os 40%. Obras feitas para a Copa de 2014 ainda não terminaram, e a cidade convive com escândalos de corrupção no Departamento de Esgotos Pluviais e suspeitas de falta de controle e fiscalização no Departamento de Limpeza.
Segundo o pré-candidato, as eleições na cidade serão marcadas por um voto no indivíduo e não em partidos. “A gente espera que o voto partidário vai ser secundarizado diante do candidato e da candidata. As pessoas querem em primeiro lugar um candidato honesto, com experiência e competente”, explica.
“Isso nos favorece porque a nossa passagem na prefeitura nos autoriza dizer que a gente é as três coisas”.
Segundo Pont, o golpe será um ponto central do debate durante a campanha. “Não é só o problema da tirada ilegal e ilegítima da Dilma, mas essa Ponte para o Futuro (plano do governo golpista) é uma volta anos anos 1990”, afirma ele.
Grandes obras da cidade que dependem do orçamento federal estão ameaçadas com os cortes em investimentos prometidos pelo interino, como o Hospital Clínico e a nova travessia do lago Guaíba.
O PT provavelmente terá o apoio do PCdoB na cidade, já que não fará nenhuma aliança com quem apoiou o golpe. “Será uma campanha de reconstrução da imagem do partido”, afirma.
As maiores demandas da população são saúde e segurança pública. “São dois elementos muito fortes que aparecem como críticas. Educação, moradia e a situação do emprego também pioraram muito”, afirma ele.
Uma das experiências mais ricas criada nas gestões petistas da cidade, que é o orçamento participativo,foi esvaziada na última gestão. “Esses governos não tiveram a coragem de acabar (com o orçamento participativo), mas esvaziaram muito, no sentido de retirar recursos, burocratizar o funcionamento, voltar à prática de que a população decide mas depois o secretário faz o que dá na telha”, diz.
Disputas
Duas obras polêmicas terão espaço na campanha. Uma delas é do Cais Mauá, na beira do Lago Guaíba. Um consórcio de empresas ganhou uma licitação em 2010 para “revitalizar” a área. Mas, desde então, as obras não andaram.
Além disso, o projeto é criticado pela população, pois será feito com interesses de mercado, sem pensar no espaço público. “Querem fazer shoppings, torres de escritórios, hotéis, e a população não quer isso. A população quer se apropriar de novo do Lago Guaíba”, diz.
Outra disputa é o terreno da Fazenda do Arado, uma área de preservação ambiental no extremo sul da cidade, e que virou alvo de interesse do mercado imobiliário. Segundo Pont, a prefeitura está modificando a Lei de Uso e Ocupação do Solo para permitir que grupos imobiliários usem a área para a construção de condomínios privados.
O projeto vai destruir a reserva ecológica e o sítio arqueológico. No lugar, serão construídos condomínios de luxo e um hotel. Parte da reserva se tornará particular. “A prefeitura, por má vontade ou corrupção, acaba permitindo que essas coisas aconteçam”, diz. “A gente está junto na mobilização contra isso”.
Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias