Presidenta da UNE fala sobre a nova realidade do movimento estudantil
Para Carina Vitral, a mudança de perfil dos universitários pode ter potencial revolucionário na universidade
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O Censo do Ensino Superior 2013 revelou que 73,5% dos estudantes de graduação estão em instituições particulares, o que corresponde a 5,3 milhões de alunos, ante 26,5% de matrículas em instituições públicas. Para a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, em entrevista à revista ‘Carta na Escola’, a mudança de perfil é muito significativa e pode ter potencial revolucionário na universidade, porque a sua composição social também determina o conteúdo do que se ensina e do que se aprende.
“O desafio é adaptar a universidade ao novo perfil social, porque a estrutura universitária ainda é muito elitizada. Coisas como a assistência estudantil, antes só mais um serviço dentro da universidade, hoje é vital para que continuemos na universidade”, declarou Carina.
Para a presidenta, a mudança da composição da universidade tem refletido no movimento estudantil. No último Congresso da UNE, cerca de 70% dos delegados eram de universidades particulares. De acordo com Carina, o estudante das particulares tem resistido e superado as dificuldades e proibições de organização, como catracas que impedem o acesso da UNE às salas de aula e a falta de espaço físico para constituição de centros acadêmicos.
“Mas o estudante resiste contra essas barreiras. E, quando passamos nas salas, ouvimos um encantamento muito grande”, ressaltou a liderança estudantil.
Carina criticou as entidades privadas onde não há pesquisa e extensão. De acordo a dirigente, os estudantes estão em processo de organização para combater a aplicação de disciplinas online nos cursos presenciais. Ela alertou que universidades estão se aproveitando de um dispositivo legal para tornar regra uma exceção. O fato tem revoltado os estudantes, principalmente porque a universidade “propagandeia” um curso presencial.
“Existe uma portaria do MEC que diz que até 20% das disciplinas do curso podem ser oferecidas a distância. Todo semestre, 20% das disciplinas são a distância. Isso cria aberrações, como um curso de enfermagem que tem a disciplina de farmacologia a distância”, acusou Carina.
A presidenta defendeu a Educação a Distância (EAD) como importante dispositivo para reduzir barreiras geográficas, mas alertou que as universidades particulares não investem para se alcançar a qualidade necessária.
“As universidades utilizam o dispositivo do EAD para cortar custos, o que significa a precarização”, denuncia Carina.
De acordo com Carina, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) fizeram o enfrentamento e cumpriram o desafio de escancarar as portas da universidade e dar oportunidade para negros e oriundos de escolas públicas. Ela alertou que os programas deram estabilidade financeira para as particulares, mas estas não responderam com investimentos.
“Em vez de a estabilidade servir para melhorar a qualidade, o que aconteceu foi a precarização. Hoje, o que a UNE discute é que precisamos ter controle social sobre isso”, declarou a presidenta.
Para ela, devido à falta de debate, o jovem não percebe o ProUni como uma conquista coletiva e de uma geração inteira de jovens lutando pela democratização da universidade, mas como uma ascensão social de cunho individual.
“Para uma juventude que nasceu em uma nova realidade, em que o ProUni, por exemplo, já é uma conquista naturalizada, foi pouco falado que essas conquistas foram coletivas”, declarou Carina.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da revista Carta na Escola