Prévia “informal” do PIB mostra economia à beira do abismo

Índice de Atividade Econômica do Banco Central registra alta bem abaixo das expectativas e baixa de 4,92% no acumulado até outubro. Em 12 meses, o indicador encolheu 3,93%. Níveis de confiança dos empresários e dos consumidores também caem, pelo terceiro mês consecutivo

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Economia travada

Como ocorre com qualquer truque de ilusionismo, a “recuperação em V” tão propalada pelo ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, se desvanece no ar a cada indicador econômico anunciado. O mais recente é o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgado nessa segunda pelo Banco Central (BC). Mesmo registrando o sexto mês consecutivo de crescimento em outubro, a expansão, de 0,86%, ficou bem abaixo das expectativas do mercado financeiro, que projetava alta de 1,1%.

O índice incorpora informações sobre o nível de atividade dos três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária, além do volume de impostos. A performance medíocre é um sintoma da desaceleração do ritmo de recuperação econômica do país, que jamais chegou a deslanchar este ano.

Depois de cair 9,46% em abril, o IBC-Br avançou 2,15% em maio, 5,23% em junho, 2,42% em julho, 1,62% em agosto, 1,68% em setembro e agora cruza para baixo a linha do 1%. Na comparação com outubro de 2019, houve retração de 2,61% nos dados sem ajustes. Em 12 meses encerrados em outubro, o indicador teve queda de 3,93%. No ano, até outubro, o recuo chegou a 4,92%.

Econômica perde fôlego mês a mês

Para os analistas do mercado financeiro, os dados desmentem, mais uma vez, os rompantes ufanistas de Guedes. “A atividade econômica teve um impulso forte em junho, mas vem perdendo força mês a mês. O dado mostra que a recuperação tem acontecido a passos bem graduais”, comentou a economista da XP Investimentos Lisandra Barbero ao jornal ‘Correio Braziliense’.

O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, chama o movimento de “recuperação em raiz quadrada”. E diz que a desaceleração “é explicada em parte pela abrupta elevação dos meses anteriores, que estatisticamente cria este efeito, mas também pela falta de dinamismo interno da economia, que parece muito dependente dos auxílios governamentais, agora em ‘fade out’”.

Esse “desvanecimento” das taxas de crescimento vai prosseguir, o que faz os economistas já considerarem um PIB mais próximo de 1,5% neste quarto trimestre, muito abaixo do crescimento de 7,7% registrado no terceiro trimestre. E o IBC-Br confirma a tendência: o indicador cresceu 6,46% no trimestre móvel encerrado em outubro, ante 9,4% registrados no trimestre anterior.

PIB anual sofre baque

Segunda, os analistas do mercado financeiro apontaram, no Boletim Focus desta semana, que o PIB do Brasil deve sofrer um baque de 4,41% em 2020. A expectativa é ligeiramente pior que a da semana passada: 4,40%. E já há quem aposte em um PIB próximo de zero no primeiro trimestre do ano que vem.

Não à toa, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou que a prévia extraordinária das Sondagens, com dados coletados até o dia 11 deste mês, sinaliza recuo pelo terceiro mês consecutivo da confiança empresarial e dos consumidores em dezembro. Em relação ao número final de novembro, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuaria 1,7 ponto, para 93,9 pontos, enquanto o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) cairia 4,1 pontos, para 77,6 pontos, menor valor desde junho de 2020.

“Os resultados prévios das sondagens de dezembro sinalizam a continuidade da tendência de queda da confiança de empresas e consumidores. A mudança de humor é influenciada pela piora de expectativas diante do maior risco de uma segunda onda de contaminação; o iminente fim dos benefícios emergenciais e as dificuldades do mercado de trabalho”, afirma Viviane Seda Bittencourt, Coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).

“Entre consumidores de renda mais baixa, há ainda preocupação com a aceleração da inflação. As notícias promissoras no campo da imunização são ainda insuficientes para garantir uma data certa para o fim da crise, o que faz com que empresários e consumidores se mantenham receosos em relação ao que os espera no início de 2021”, conclui a pesquisadora.

Da Redação

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