Bolsa Família transforma jovens em campeões de Olimpíada de Matemática

Em sete anos, quase 1000 beneficiários foram premiados com ouro, prata e bronze na competição. Vitória abre caminho para bolsas e cursos avançados

Governo Federal/EBC

O terror da escola pública. Matéria difícil, para os filhos da elite. Ao contrário do que diz o senso comum, muitas vezes basta uma oportunidade para descobrir como a matemática pode ser divertida e desafiadora. Uma interessante pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) mostrou que cada vez mais beneficiários do Bolsa Família e outros programas sociais criados pelo governo de Lula ganham medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).

Em sete anos, mais de 2.717 jovens inscritos no Cadastro Único (que dá acesso a programas como o Minha Casa Minha Vida e o Peti) foram premiados com ouro, prata e bronze. Desses, 999 são do Bolsa Família – alguns deles cinco, seis vezes campeões. Há ainda sete jovens com deficiência, dois indígenas e um quilombola entre os medalhistas.

Vencer a competição abre caminho para uma série de oportunidades, como programas de iniciação científica, bolsas de estudo e materiais avançados de matemática. Desde que o programa começou em 2005, durante o governo Lula, quase 50 000 alunos foram encaminhados a aulas com professores universitários.

Minas Gerais, Ceará e São Paulo são os estados líderes na frequência de medalhas por estudante: 77 mineiros, 33 cearenses e 30 paulistas já venceram a OBMEP entre duas e seis vezes. O Nordeste é a região com maior frequência de medalhas (126 estudantes).

 

Os treze anos de investimentos em programas sociais mudaram para sempre a história de milhares de familias, e continuam rendendo frutos, resistindo apesar do corte de investimentos promovido pelo golpe. E as histórias reveladas pela pesquisa são exemplos vivos desse fenômeno.

A mudança na vida desses jovens mostra a importância de garantir oportunidades aos que, por vários motivos, mal conseguem ter o mínimo para viver. Apesar de tantos números positivos e reconhecimento internacional, Temer corta beneficiários e investimento no programa. O Bolsa Família não pode parar.

Talentos emergidos da pobreza

É o caso do goiano Luiz Vasconcelos Júnior, seis vezes medalhista na OBMEP e duas na Olimpíada de Física. Seu desempenho excepcional chamou atenção de uma escola carioca especializada em preparatórios para o ITA e o IME, as mais conceituadas faculdades de engenharia e aeronáutica do país.

Luiz mudou-se para o Rio neste ano e estuda mais de 13 horas por dia para realizar o sonho. A família continuou em São Luís de Montes Belos, pequena cidade no interior de Goiás. Tanto o pai quanto a mãe de Luiz estão desempregados – ela faz salgados e ele, bicos de pedreiro – e a renda do Bolsa Família ajuda a manter as contas em dia.

E as conquistas não param por aí: Luiz também foi selecionado pelo programa Goiás sem Fronteiras para passar 30 dias estudando inglês nos Estados Unidos em 2017 – o primeiro da sua casa a viajar para o exterior.

Criado por Lula, programa Bolsa Família tirou 14 milhões de famílias ou 42 milhões de brasileiros da extrema pobreza

O alagoano Maxmilian Barros de Siqueira, 17 anos, também coleciona medalhas. Primeiro da família a chegar na faculdade, o pentacampeão da OBMEP estuda Matemática na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e se prepara para o mestrado. Com o orçamento apertado, a mãe e os quatro irmãos dependem do Bolsa Família para fechar o mês no azul. O dinheiro garante, por exemplo, que ele e os quatro irmãos tenham material escolar.

Há um longo caminho para que a paridade de gêneros seja alcançada. De acordo com os estudos, as meninas ainda são só 1/3 dos premiados. Mas há exemplos inspiradores, como a de Geovana Rodrigues da Páscoa Souza e Samantha Luize de Araújo Constâncio. As duas vivem há 700 quilômetros de distância, mas compartilham a paixão pelos números e o esforço para se destacar em uma área ainda tão masculina.

Filha de empregada doméstica, Geovana divide a rotina escolar em Sobral (CE) com os estudos para a Olimpíada de Física. Há três anos ela tem aula de matemática avançada e, neste ano, vai estudar sem pagar nada em uma escola com tradição em formar medalhistas e futuros alunos do ITA.

Partiu da mãe de Samantha o primeiro incentivo para que a filha fizesse (e passasse) na prova para o Instituto Federal de Natal. Como só tinha 15 anos, não foi autorizada a frequentar o colégio. O esforço da mãe para garantir o estudo da filha deu o primeiro resultado no ano passado, quando Samantha conquistou a primeira medalha na OBMEP, um bronze, além de o direito de participar da iniciação científica júnior na UFRN. Agora, ela sonha em cursar Medicina.

A OBMEP nasceu em 2005, no primeiro governo Lula, para identificar talentos e estimular o interesse por uma matéria considerada “difícil” por tantos estudantes. “Parecia algo impossível porque se criou na nossa consciência a idéia de que o pessoal de escola pública é desmotivado, aprende menos”, destacou o presidente à época do lançamento.

A OBMEP também dá acesso à Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), mais voltada para competições internacionais. A participação de alunos de escolas públicas na OBM cresceu seis vezes de um ano pra cá.

Por Thaís Reis, da Agência PT de Notícias

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