Republicano? Bolsonaro governa só para apoiadores e ataca instituições
Escândalos, retrocessos, mentiras e ataques à democracia. Estratégia é usada por ele e por seu núcleo duro (filhos) como cortina de fumaça para esconder Queiroz
Publicado em
O vídeo em que Jair Bolsonaro se coloca como leão cercado por hienas, numa auto-referência tosca e abusiva, acabou por se tornar, para dizer o mínimo, um fiel retrato do seu próprio governo. Mas o vídeo não passou despercebido e selou uma estratégia que há muito vinha sendo alertada por especialistas e por lideranças brasileiras: o ataque maciço às instituições republicanas em nome de uma minoria que segue apoiando a radicalização de seu governo. O resultado: um conflito direto e inédito entre ministros da Suprema Corte e o próprio presidente da República.
Apagar e tentar minimizar a postagem – algo recorrente na sinistra estratégia de comunicação da nova gestão – só corrobora que ele está aí apenas com o objetivo de segurar uma reeleição a partir do um terço dos eleitores que restam apoiando seu governo.
Em uma entrevista elucidativa ao O Globo neste domingo (27), Marcos Nobre conseguiu sintetizar com precisão o espantoso cenário político colocado em prática pela atual gestão. “Ele se tornou o primeiro presidente que governa para só um terço do Brasil”, resume. O cientista político se refere à cada vez menor camada da população que ainda acredita, apesar das circunstâncias, no que faz o mandatário da nação e que segue apostando na radicalização de seu discurso.
Mas o mais grave, prossegue Nobre, é o fato de Bolsonaro não ter abandonado o discurso reacionário, preconceituoso e contra as instituições democráticas, como fez ao postar o vídeo reproduzido abaixo. “Seu primeiro mandato, portanto, é de destruição e enfrentamento das instituições (…) Imagine um conservador americano insinuar o fechamento da Suprema Corte, como fazem aqui com o STF?”.
“Atrevimento” e “tirar o foco de Queiroz”: ministros repercutem afronta de Jair
Convém, no entanto, lembrar que o futuro não reserva grandes coisas para o presidente. Com tantos retrocessos em tão pouco tempo e as constantes demonstrações de desrespeito à democracia, quem teria coragem de mantê-lo no cargo?
Ao responder por meio de nota a postagem do vídeo em que ataca o STF, o ministro Celso de Mello, o mais antigo do STF, é cirúrgico: “Torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções”.
Depois foi a vez do ministro Marco Aurélio Mello vir a público para questionar: “Qual é o descontentamento com o Supremo? (…) Agora, é uma coincidência muito grande que esse foco surja justamente numa hora em que aparecem essas coisas envolvendo o assessor Queiroz”, disse Mello à Rádio CBN.
Da Redação da Agência PT de Notícias