Rildo Ferreira dos Santos: Reparação da contribuição do filiado

O que estou pedindo é garantir a INCLUSÃO dos que não são comissionados e, em especial, daqueles mais pobres, que não estão submissos a um determinado mandato.

Este artigo o faço em nome dos filiados e filiadas do Partido dos Trabalhadores, de todo o país, que não ocupam cargos comissionados e possuem grande interesse em participar das direções partidárias em todos os níveis.

Eu sei que os comissionados também querem ser dirigentes e também têm esse direito garantido pelo Estatuto do Partido, e não estou pedindo para excluí-los do processo. O que estou pedindo é garantir a INCLUSÃO dos que não são comissionados e, em especial, daqueles mais pobres, que não estão submissos a um determinado mandato.

Falamos tanto de fazer o partido voltar à base e com ela dialogar, incluir, estimular, mas nosso regimento faz uma parcela significativa se sentir excluída. Não há exclusão de fato. O que há é uma regra que dificulta e desestimula o filiado sem vínculo com qualquer mandato a se tornar dirigente partidário.

Quer eu justifique esta afirmativa? Vamos lá.

Vou criar um personagem fictício, mas ele representa milhares de filiados ou filiadas espalhados pelo Brasil. Os valores são relativos e proporcionais.

Indalécia se filiou ao partido. Empolgada, sonha inclusive em ser candidata às eleições municipais. Vai aos poucos conhecendo os valores, a cultura e os ritos que determinam a dinâmica do PT. Ela vê a necessidade que o partido tem de representação feminina na direção partidária e resolve, por iniciativa própria, que vai disputar as eleições internas. Para ter seus direitos garantidos ela contribui como FILIADA PADRÃO. Esta categoria contribui com duas parcelas anuais de R$ 15 (R$ 30 anuais) que ela mantém rigorosamente em dia.

No PED ela encontra dificuldades para inscrever sua chapa porque no site do PT não encontra disponível para ela a relação de filiados e filiadas em condições de exercer seu direito de voto para fazer sua campanha interna. Ela então passa a depender da direção municipal em exercício que, também em disputa, tem enorme vantagem sobre ela neste quesito. Mesmo diante da dificuldade, Indalécia consegue montar sua chapa e ir para a disputa. Ela não se elege presidente, mas consegue fazer parte da Executiva Municipal. Daí, caríssimos, ela tem a maior surpresa negativa que o Partido poderia lhe proporcionar: Ela será penalizada em até seis vezes o valor de sua contribuição. Isso mesmo! ela será obrigada a contribuir com R$ 180/ano.

Muitos filiados acabam por desistir de ser dirigente porque este modelo de contribuição – DIRIGENTE – é uma punição para os que não estão nos gabinetes dos parlamentares. Isto favorece os comissionados que, independente de serem dirigentes ou não, contribuirão como COMISSIONADOS e se forem dirigentes não sofrerão nenhum acréscimo à sua contribuição de comissionados. A testemunha disso é o próprio autor. Antes de ser dirigente, eu contribuía com R$ 30 anuais, militava esporadicamente e, quando militava, o fazia em função de um evento ou outro organizado por instâncias diferenciada,s uma vez que os DMs têm vida claudicante.

Me tornei dirigente na expectativa de realizar encontros nos bairros, realizar cursos de formação política, debates sobre a cidade etc., mas eis que, a partir do momento em que me tornei dirigente, sou obrigado a contribuir mensalmente. O faço por questão de absoluta necessidade, mas é intrigante porque agora meus gastos com o partido não se limitam às contribuições, uma vez que elas estão centralizadas no DN e nunca retornam aos DMs a parcela que lhes são devidas. Então, se tenho que alugar sala para sede, alugar mesas, cadeiras, som, comprar algum material para atividades do partido, tenho que fazer isto com recursos próprios. Só então entendo porque os DMs não fazem nada que não seja manter o partido para as disputas eleitorais.

O partido na base caminha aos tropeços. É desestimulante ter que enfrentar os problemas locais tendo que lançar mão de recursos próprios para fazer o partido funcionar. É desestimulante saber que, ao se tornar dirigente, sua contribuição para o partido será aumentada em seis vezes.

Este modelo é pernicioso ao partido. Ele acaba por criar uma aristocracia que ao seu tempo agrupam ao seu redor os que precisam contribuir e estão em atraso quitando-lhes seus débitos comprometendo-lhes a autonomia cidadã de ajudar a construir o caminho a seguir. É por esse motivo que muitos filiados e filiadas só tem sua contribuição quitada quando há PED em realização e há uma desmobilização generalizada dos filiados e filiadas que acabam por não acreditar ser possível ser o PT diferenciado dos demais partidos quando tudo leva aos arranjos e acertos internos que perpetuam esta aristocracia excludente.

Precisamos discutir essa questão e garantir que não haja esse tipo de penalização e assim contribuir para atrair novos e novas dirigentes municipais, quem sabe líderes que farão maior e melhor o Partido dos Trabalhadores.

Assim despeço-me na esperança de levarem adiante esta preocupação.

Abraços fraternos.

Por Rildo Ferreira dos Santos, Agente de Saúde e presidente do Diretório Municipal do PT em Queimados (RJ), para a Tribuna de Debates do PT.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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