Roda Viva sobre Educação se divide entre a “bancada do investimento” e a “bancada da eficiência”
A “bancada dos ausentes” , teve como seu principal e óbvio representante o PSL, que novamente não indicou ninguém para participar dos debates
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O programa Roda Viva desta semana abordou na noite de segunda-feira (24) os desafios da Educação do Brasil. Em um debate de alto nível, permitiu compreender as diferentes visões de quatro das principais candidaturas envolvidas na eleição para presidência da República. O Roda Viva permitiu, ainda, identificar de forma cristalina a existência de dois blocos políticos bastante distintos no que diz respeito aos caminhos da Educação no país. Um deles afirma que priorizar o setor é ampliar investimentos. E o outro assegura que o principal agora é aumentar a eficiência. Um terceiro bloco, que não se associa a um ou outro, fez questão de se ausentar mais uma vez dos debates.
O programa contou com as presenças de Ana Maria Diniz, coordenadora de Educação do programa de governo de Geraldo Alckmin, do PSDB; e de Ricardo Paes de Barros, economista e representante de Marina Silva, da REDE. Os dois compondo a “bancada da eficiência”. Maurício Holanda, representante de Ciro Gomes, do PDT; e Carlos Abicalil, representante de Fernando Haddad, do PT. Esses últimos representando a “bancada do investimento”. A “bancada dos ausentes” (além daqueles que não foram convidados a participar), teve como seu principal e óbvio representante o PSL, partido de Jair Bolsonaro, que novamente não indicou ninguém para participar dos debates.
O Roda Viva desta semana tratou de alguns dos grandes desafios da educação brasileira, como a importância do Plano Nacional de Educação (PNE) e a meta de o país passar a investir 10% do PIB (Produto Interno Bruto) nos próximos anos. Além da polêmica entre eficiência x aumento dos investimentos, o programa também tratou das dificuldades que o país enfrenta na área, sobretudo no ensino fundamental e médio. Passou pela temática do analfabetismo, e pelos baixos índices de aprendizado. Pela relevância da qualificação profissional e melhorias na formação dos professores. O programa também tratou do tema da avaliação dos docentes e escolas, e pelos desafios na sala de aula. E trouxe um debate muito interessante sobre a ideia da cobrança de mensalidade nas universidades públicas.
Carlos Abicalil, representante da candidatura de Fernando Haddad e Manuela d’Ávila, destacou em suas considerações iniciais a importância de o país “afirmar a educação como um direito humano fundamental e portanto universal”. Abicalil defendeu a importância de se estabelecer um novo pacto educativo e federativo que traga a educação nessa perspectiva de direitos – de todos os brasileiros e brasileiras, em todas as regiões do país -, e que permita uma maior cooperação entre União, estados e municípios na área.
A representante do PSDB, Ana Maria Diniz, começou sua participação no programa agradecendo o convite e registrando “lamentar profundamente que o candidato Jair Bolsonaro não tenha mandado alguém”. Para Ana Maria, a mensagem é de que “talvez ele não tenha proposta para a educação, ou então que ele não está muito interessado no tema”. A integrante da campanha de Alckmin classificou de “lamentável” a ausência. Ana Maria afirmou que a questão da educação na primeira infância recebeu uma atenção especial nas propostas de Alckmin para o setor, além de um ensino médio atrativo para os jovens e a formação de professores.
Ricardo Paes de Barros, representante da REDE, afirmou a importância de se buscar cumprir com as metas do PNE, mas explicou que o central na proposta da equipe de Marina Silva é explicar “por que vamos fazer”. De acordo com ele, a REDE quer “garantir que cada brasileiro tenha o direito a sonhar, e que cada brasileiro possa realizar os seus sonhos”. Para isso, a educação “não é suficiente, mas ela certamente é necessária, porque ela vai garantir que cada pessoa possa desenvolver todo seu potencial”. De acordo com Barros, “o programa da REDE é voltado a dar aos professores toda as condições que eles precisam para o desempenho de suas funções”.
Maurício Holanda, representante de Ciro Gomes, defendeu que “o MEC precisa deixar de ter um modelo único para o Brasil todo. É preciso que haja mais liberdade, mais criatividade, para cada município, para cada estado, dizer como quer fazer”. Holanda destacou o caso do município cearense de Sobral, que se destaca em diversos índices de avaliação da educação no país: “Não é um exemplo só de melhor alfabetização, Sobral é o melhor Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do Brasil no 5.o ano, e o melhor Ideb do Brasil no 9.o ano”. Holanda acrescentou que “tudo começou com alfabetização bem feita, cerca de 20 anos atrás”.
Sobre o papel do professor na sala de aula hoje, Holanda, que foi secretário estadual de educação no Ceará, defendeu que é preciso “cumprir o papel da gente, impor respeito e respeitar. Se o professor impõe respeito, não precisa ser durão, não precisa disciplina militar, como alguns vendem a ideia”. Para ele, o mais importante é “orientação para o trabalho, precisa ordem, precisa acreditar que os meninos aprendem, e fazer as coisas combinando ordem, rotina e criatividade”.
Cooperação e investimentos
Respondendo ao questionamento da representante de Alckmin sobre o projeto “Ensino Médio Federal” do Plano de Governo de Haddad e Manuela, Carlos Abicalil explicou que a proposta vai no sentido de ampliar a cooperação da rede federal com o ensino médio estadual. Trata-se de buscar “um consorciamento cada vez mais próximo e íntimo” entre essas redes, explicou Abicalil, ressaltando que a rede federal é forte na educação técnico-profissional em tempo integral, além de associar as áreas da ciência, tecnologia, inovação e mundo do trabalho. “E também preparam para o acesso ao ensino superior”.
O representante da candidatura de Haddad frisou, assim, que “a ideia não é de federalização da rede, mas de ter essa integração cada vez mais próxima”. Trata-se, assim, de uma aproximação entre “uma experiência que dá certo, interiorizada, com forte investimento, que é o caso do Institutos Federais, com as redes estaduais e redes públicas em geral que oferecem o ensino médio”. Segundo Abicalil, a perspectiva é “caminhar para o apoio à educação de tempo integral, o que significa maior apoio financeiro do Ministério da Educação frente aos estados e à formação dos seus quadros”.
O representante da campanha de Marina seguiu uma argumentação entre confusa e indecisa a partir daí, afirmando que “talvez a gente precise gastar mais porque a gente tem um déficit, mas eu acho que mais importante que a gente gastar mais, é que hoje a gente gasta mal”. Para Barros, antes de pedir mais verbas para a educação para a sociedade brasileira, “vamos gastar melhor o que a gente já tem”, acrescentando que “se a gente quiser gastar mais ainda com Educação, ok”, mas que será “um esforço enorme da sociedade brasileira”.
Barros explicou que, nos rankings nacionais de qualidade da educação, “quem gasta mais, não está nas melhores posições”. Citando como exemplo os casos do Piauí e Ceará, onde os gastos per capta são muito abaixo da média brasileira, “dizer que a média brasileira tem que aumentar não parece necessariamente ser a solução”.
Ao final de seu raciocínio em looping, Barros defendeu que “evidentemente que mais dinheiro – bem gasto – vai melhorar a educação brasileira”, mas que “simplesmente mais dinheiro não vai melhorar” e que “a gente pode melhorar sem aumentar o gasto, aumentando a eficiência”.
Coube a Maurício Holanda, representante de Ciro Gomes e ex-secretário de educação do Ceará, encerrar o debate deste ponto com seu testemunho e certeza: “a gente pode fazer mais com o que já tem. Mas é absolutamente imperativo a gente resguardar a ideia de que o Brasil ainda precisa gastar mais. E especialmente o governo federal tem que contribuir mais com a educação básica do que contribuiu até hoje”.
Do Lula.com.br