São José dos Campos: prefeitura inova e implementa educação digital

Uma réplica de “A noite estrelada”, do pintor holandês Van Gogh, é projetada no quadro branco de uma das salas de aula da Escola Municipal Martha Abib, em São José dos Campos (SP). Com idade entre 8 e 9 anos, as crianças observam a pintura, enquanto escutam a explicação da professora. Em seguida, são desafiadas a fazer uma obra de arte semelhante – A noite em São José dos Campos – no aplicativo disponível em seus tablets.

Antes de completar o exercício, a professora exibe, no quadro, imagens da cidade, localizada no Vale do Paraíba, a 90 quilômetros de São Paulo. Esta tarefa é possível pois, além do projetor integrado ao equipamento dos docentes, todas salas têm um servidor e wi-fi com velocidade de 30 Mbps.

Esta estrutura faz parte da Escola Interativa, projeto desenvolvido pelo prefeito Carlinhos Almeida (PT), desde 2013, quando seu mandato começou. Em todas as 632 salas de aula das 47 escolas municipais, os alunos do Ensino Fundamental têm um fone de ouvido e um tablet conectado à internet. “Para os alunos, esta é uma linguagem muito comum. Eles já são nativos digitais”, disse o prefeito.

Esta não é iniciativa da prefeitura pensada para somente informatizar as escolas municipais. É uma política que adapta o projeto pedagógico aos desafios da contemporaneidade, em que crianças são alfabetizadas ao mesmo tempo em que aprendem a manejar computadores, tablets e smartfones.

Por isso, uma parte essencial foi o treinamento dos 3.600 professores de toda a rede municipal, realizado antes de o equipamento chegar. Os docentes também receberam um notebook para auxiliar no preparo das aulas.

A ideia é que os tablets não funcionem como uma extensão dos livros de papel, mas sim como uma nova tecnologia para complementar o processo de aprendizado. Os alunos e professores fazem pesquisas na internet durante as aulas e contam com aplicativos desenvolvidos para a realização das tarefas.

Uma das atividades disponíveis é o jogo sobre patrimônio histórico do município. Ele foi desenvolvido especificamente para a Escola Interativa, fruto de um projeto conjunto entre prefeitura, professores, alunos e professores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e empresas do Parque Tecnológico de São José dos Campos. “Tenho um neto de 4 anos que é viciado em um desses”, conta o prefeito.

Nesse jogo, os alunos percorrem pontos importantes da cidade, como Parque Vicentina Aranha, onde funcionou um hospital a partir de 1924, em um prédio construído pelo arquiteto Ramos de Azevedo. O Sanatório Vicentina Aranha foi um dos maiores centros para tratamento de tuberculose da América Latina e um dos primeiros do país.

Também faz parte do percurso a Biblioteca Cassiano Ricardo, em homenagem ao escritor joseense. Este prédio foi construído em 1909 e foi o primeiro Teatro Municipal da cidade.

Normalmente, os jogos têm uma moeda que os jogadores precisam alcançar para acumular pontos. Neste, em vez da moeda, é usada a engrenagem, um dos símbolos que compõe a bandeira do município. As crianças podem escolher três tipos de avatar: um menino negro, uma menina ruiva e um cadeirante.

Há também conteúdos em realidade aumentada – integração de informações virtuais a visualizações do mundo real – que auxiliam no ensino de língua portuguesa, por exemplo. O aluno sincroniza o tablet com a figura que aparece projetada no quadro e ela aparece em 3 dimensões em sua tela.

Para Carlinhos, é fundamental que as gestões pensem caminhos para levar tecnologia às salas de aula, estimulando o desenvolvimento de projetos com convergência digital. “O importante é o conceito”, explicou. Em sua opinião, estas são ferramentas que, sozinhas, não são capazes de garantir que o aluno tenha uma boa formação, mas podem ser determinantes para um aprendizado melhor.

“Eu fiz um compromisso durante a campanha de que levaríamos tecnologia para a escola. No momento em que fomos fazer isto, pesquisamos várias experiências no mundo, principalmente, no Uruguai. Foi um modelo novo, que a gente construiu aqui”, afirmou.

Em 2013, a gestão realizou pesquisas e construiu o próprio modelo para encontrar soluções tecnológicas que fossem mais baratas, mais completas e mais eficientes. Em janeiro de 2014, começou a distribuição dos notebooks para os professores e o treinamento. Em julho de 2014, foi implementada a primeira Escola Interativa que, junto de outras 3, foram modelo para o município. Dois anos depois, chegaram a 100% das escolas.”Não conheço uma cidade brasileira que tenha isto”, disse Carlinhos.

LEDI – Laboratório de Educação Digital e Interativo

Parte importante da política de integração digital de São José dos Campos são os LEDI, um polo de cultura tecnológica voltada à comunidade escolar, inaugurado em agosto de 2015.

“O LEDI foi uma necessidade que a gente percebeu quando levou os equipamentos para as escolas. Alguns voam, enquanto outros engatinham e outros têm dificuldade. Fazemos capacitação, treinamento, socialização de experiências. O LEDI é o cérebro deste projeto da Escola Interativa”, explicou o prefeito.

Lá acontecem oficinas para educadores da rede e para os alunos. São oferecidos desde temas mais básicos, como inclusão digital, que não requer conhecimento prévio, até programação. Os instrutores mostrarão exemplos com as linguagens de Scratch e Python para que os alunos sejam capazes de escrever pequenos programas de computador. O LEDI forma também alunos monitores, que vão auxiliar os que têm mais dificuldade com tecnologia.

Por Daniella Cambaúva da Agência PT de Notícias