Se nada mudar desde já, a destruição da Amazônia será irreversível
Cientista alerta para ritmo de desmonte da fiscalização da floresta durante os seis primeiros meses do governo Bolsonaro e seu ministro Ricardo Salles
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A pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) durante o G20, o encontro das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, não foi à toa. De acordo como o cientista Paulo Artaxo, doutor em física atmosférica pela Universidade de São Paulo (USP) e estudioso da Amazônia desde 1984, a destruição da maior floresta do planeta pode ser tornar irreversível em quatro a oito anos.
Isso porque desmatada uma área de 40% da floresta original, o restante não consegue sustentar o ecossistema de uma floresta tropical chuvosa. A Amazônia já perdeu até agora cerca de 20% da cobertura original.
Artaxo critica a forma como o governo de Jair Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles atuam nessa área. “Aí entra, por exemplo, o desmonte do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente, criado em 1981), da estrutura de monitoramento e acompanhamento das mudanças climáticas globais, que antes era dividido entre Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Meio Ambiente e Itamaraty”, afirma o cientista em entrevista à BBC News.
“Se você vai hoje nesses três órgãos e pergunta quem cuida da questão climática no país, você tem dificuldade de encontrar um interlocutor. Toda a divisão de clima do MCTI foi severamente reduzida. É um desmonte que, para se refazer toda essa estrutura nos próximos governos, pode demorar de 10 a 20 anos, realisticamente”, continua.
Vontade política
O cientista explica que reduzir o desmatamento é uma questão absolutamente crucial para a estabilidade do clima do planeta – assim como reduzir as emissões de combustíveis fósseis dos países desenvolvidos.
E avalia que essa pressão vinda de outros países será um dos principais instrumentos para frear o atual processo de destruição. Pra ele, temas econômicos serem utilizados como moeda de troca, como no caso do acordo entre Mercosul e União Europeia, pode ser uma estratégia eficiente para barrar o desmonte do setor de proteção ambiental no Brasil.
“Não são problemas futuros – é no presente. A questão de agrotóxicos. Vamos ter algum problema no futuro? Não, estamos tendo no presente. São quase 250 novos agrotóxicos, inclusive que são proibidos em outros países, aprovados nesses seis meses. Não é no futuro, é prejuízo para a população hoje, já está ocorrendo”, avalia Artaxo.
“O Brasil, se quiser zerar o desmatamento, pode fazer isso rapidamente. Não falta nenhuma tecnologia para isso, basta vontade política. (Entre 2004 e 2012) nós conseguimos reduzir o desmatamento de 24 mil km² por ano para 4 mil km². Esses 4 mil km² em 2012/2013 estão hoje em 8 mil km² e, em 2019, pode ser um número próximo de 10 mil km² de floresta desmatada.”