Seca em São Paulo: à espera de um milagre
Em Franca, a 400 quilômetros da capital, vereadores e gerente da Sabesp foram às margens de um rio pedir a Deus por chuva
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Ao completar 10 meses, a maior crise hídrica da história de São Paulo se agrava a cada dia. Com a queda contínua do nível do Cantareira, os 9,5 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo se tornaram reféns do descaso da Sabesp, a companhia estadual responsável pelo abastecimento de água. Ainda assim, a estatal continua a negar o racionamento em curso em várias regiões.
Em Franca, assustados com a seca no rio Canoas, um grupo de vereadores apelou para a ajuda divina. Um deles, o pastor Otávio Pinheiro (PTB), levou uma Bíblia para rezar por chuva, acompanhado gerente distrital da Sabesp, Rui Engracia. “A gente já estava rezando nos templos, mas agora resolvemos pedir a ajuda de Deus aqui mesmo”, anunciou o pastor, após a oração na estação de tratamento da Sabesp. Segundo o gerente Engracia, a quantidade de água captada hoje é insuficiente para abastecer Franca, embora 27 caminhões-pipa façam o transporte de água diariamente de outras represas da região para completar os reservatórios.
Na gestão do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, o sistema entrou em colapso por falta de investimento em infraestrutura e por negligenciar recomendações dos órgãos gestores, além de contrariar ordens judiciais. A Agencia Nacional de Águas (ANA) acusa a Sabesp de captar irregularmente a segunda cota do volume morto do Cantareira. Segundo documento divulgado pelo órgão federal, a estatal avançou sobre o limite estabelecido em decisão judicial.
A direção da Sabesp nega a acusação e afirma que o Cantareira ainda dispõe de 43 bilhões de litros da primeira cota, o correspondente a 23% dos 182,5 bilhões de litros do volume morto. Insatisfeito, o presidente da ANA, Vicente Andreu, enviou um ofício ao superintendente do Departamento de Águas e Esgoto (Daee), Alceu Segamarchi, no qual solicita a adoção de providências cabíveis, em caráter de urgência. Andreu propôs, ainda, a realização de vistoria conjunta (ANA e Daee) aos demais mananciais que abastecem o Cantareira, para verificar a real situação hídrica.
Pelo ritmo de queda, com variação de 0,1 a 0,2 por dia, o volume atualmente disponível vai se esgotar em meados de novembro. O Ministério Público de São Paulo havia orientado a Sabesp a reduzir a vazão do Cantareira para administrar o volume restante até, pelo menos, dia 30 de novembro. Para garantir a continuidade no abastecimento de água até março de 2015, a estatal adotou a medida paliativa de captação dos 100 bilhões de litros da segunda cota do volume morto. Entretanto, o bombeamento dessa parcela somente poderá ser realizado com autorização ANA, o que ainda não ocorreu.
Na manhã da quinta-feira (16), o Cantareira atingiu a baixa recorde de 4,1% de sua capacidade total. O Alto Tietê, segundo maior reservatório da região, também chegou à baixa histórica de 9,7%. Com o agravamento do cenário, o número de reclamações de falta de água aumentou.
Mesmo assim, o superintendente de produção da Sabesp, Marco Antônio Lopes Barros, insiste que o abastecimento está normalizado. Para ele, a culpa é da população paulista, por consumir água demais e causar “problemas de pressão e queda no sistema”. O governador Geraldo Alckmin, numa tentativa de fazer com que a crise não respingue na candidatura do tucano Aécio Neves, não têm se manifestado sobre o assunto.
Caminhões-pipa – Com o aumento de casos de falta de água, a procura por caminhões-pipa aumentou e o preço pelo serviço chegou a ficar três vezes mais caro. A demanda fez com que as empresas aumentassem de 50% a 275% o valor. Um caminhão-pipa de 15 mil litros que, até a semana passada, custava, em média, R$ 400 hoje pode ser encontrado por até R$ 1500. Devido ao agravamento da situação, a prefeitura de São Paulo concedeu autorização para que os caminhões trafeguem durante o dia, pela capital.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias