Trânsito reduz mortes; mas custo de acidentes consome 5% do PIB

Para presidenta Dilma Rousseff, tanto gasto com acidentados não ameniza dor dos parentes e gravidade da situação requer mudança de cultura pela população   

LEONARDO SOARES/AE

Três ministros e a presidenta Dilma Rousseff falaram sobre violência no trânsito no dia da conferência global sobre segurança nas ruas, que teve início na quarta-feira (18) e se encerra nesta quinta (19), em Brasília, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB).

A presidenta ressaltou que o alto custo com acidentados e mortes ao volante chegam a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nos países em desenvolvimento, como o Brasil, e, a 3% nos países desenvolvidos.

Considerado o valor estimado do PIB brasileiro no ano de 2014, de R$ 5,5 trilhões, a estimativa da presidenta traduz um significativo gasto de aproximadamente R$ 275 bilhões com acidentados e mortos no país no ano passado.

Para Dilma, tanto dinheiro não traduz, porém, o sofrimento das famílias de acidentados com a perda dos parentes ou as sequelas decorrentes dos acidentes.

“Investir em trânsito certamente traz benefícios econômicos, mas realmente (esses benefícios) são secundários em relação à preservação de vidas humanas e à qualidade de vida”, avaliou a presidenta.

A presidenta acredita que “a batalha contra a violência do trânsito é mais que uma questão de novas leis. É necessária uma nova cultura”.

Cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem no trânsito anualmente em todo o mundo; de 30 a 50 milhões ficam feridas. As maiores vítimas são jovens do sexo masculino, principalmente crianças e jovens de 5 a 29 anos.

Redução – De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, em pronunciamento na mesma Conferência de Alto Nível, o Brasil conseguiu reduzir em 5,7% o número de vítimas fatais entre o ano de 2012 e 2013. Foram 44,8 mil em 2013 e baixaram a 42,2 mil no ano seguinte.

Para ele, a redução tem a ver com o endurecimento da fiscalização promovido pela Lei Seca, de 2012, e outras medidas.

“Ainda é um número pequeno, mas só foi possível em função das várias medidas adotadas que contribuíram para esse resultado, como o uso obrigatório do cinto de segurança e o trabalho de conscientização que vem sendo feito com a população”, afirmou.

Para Castro, é indispensável ao governo focar sua atuação na redução de acidentes com motocicletas, por patrocinarem “a maior parte do número de mortes e internações no país”. Das 42,2 mil mortes de 2013, quase 29% (ou 12.040 óbitos) foram de motociclistas.

Outro dado do ministério mostra que as internações por acidentes de trânsito no Sistema Único de Saúde (SUS) no ano de 2008 custaram R$ 117 milhões aos cofres públicos, dos quais R$ 49 milhões com motociclistas.

“Em 2013, o valor gasto com internações no SUS cresceram 95%, chegando a R$ 229 milhões. Somente com as internações de acidentes com motocicletas foram gastos R$ 112 milhões – valor 128,5% maior do que o despendido em 2008”, afirma o Portal Brasil da presidência, em reportagem sobre o evento em Brasília.

O recrudescimento dos registros de violência no trânsito deve-se em parte ao forte crescimento da frota nacional de veículos.

O estudo da Saúde mostra que a frota mais que dobrou na última década: entre 2003 e 2013, 121% a mais, enquanto, só as motos, aumentaram 247% no mesmo período. Elas passaram de quase 6 milhões para quase 22 milhões.

O estudo também aponta que que metade dos brasileiros não usa cinto de segurança nos bancos de trás dos veículos, apesar de o uso representar risco de morte 75%; no banco da frente, o risco é de 45%. O estudo também revela que 24,3% da população brasileira admite dirigir depois de beber, índice que na área rural sobe para 30,4%.

O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, propôs integração federativa, por meio de parcerias entre estados e municípios, para reduzir o número de acidentes e mortes no trânsito. O programa Rodovida, entre União, estados e municípios, foi criado com esse objetivo.

“Nos últimos quatro anos, registramos a redução de 20% dos acidentes e 22% de mortes nas rodovias federais. Foram mais de 5,5 mil vidas poupadas somente em rodovias federais”, destacou.

O Rodovida envolve a Casa Civil, ministérios da Justiça, Saúde, Cidades, Transportes e os órgãos estaduais e municipais. A meta é reduzir em 50% o número de mortes no trânsito, conforme proposta da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Década Mundial da Segurança Viária.

Já o colega do Ministério das Cidades, Gilberto Kassab, garantiu que o Brasil está cada vez mais comprometido com as questões do trânsito e trabalha para elevar sempre mais a segurança dos veículos fabricados no País.

Para o ano que vem, ressaltou Kassab, o Contran estabeleceu como obrigatório o uso dos freios ABS e do CBS em motocicletas.

“Além disso, encontra-se em fase final de discussão a obrigatoriedade do Sistema Eletrônico de Estabilidade (ESC) nos veículos de passeio. Também iniciará, em breve, estudo para a implantação do sistema de frenagem autônoma”, anunciou.

Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias

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