Violência contra as mulheres: uma luta permanente
Deputada Natália Bonavides (RN) é mais uma vítima da crescente violência de gênero promovida por Bolsonaro. Extremista cortou em mais de 50% a verba federal para políticas públicas para as mulheres
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As violências contra as mulheres são realidade recorrente no Brasil. Durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff foram elaboradas e implementadas as principais políticas sociais para promover os direitos das mulheres e enfrentar a violência de gênero. Infelizmente, a destruição promovida por Jair Bolsonaro em sua gestão não apenas põe a perder todos os avanços construídos pelos governos do PT em conjunto com a sociedade civil, como também reforça cotidianamente o machismo e as agressões contra mulheres de todas as camadas sociais.
É o caso das graves ameaças sofridas pela deputada Natália Bonavides (PT-RN) por parte de Carlos Massa, mais conhecido como Ratinho, grande apoiador de Bolsonaro. Em seu programa de rádio, na última quarta-feira (15), Ratinho sugeriu que a deputada deveria ser metralhada, além de proferir ofensas machistas contra a deputada, aconselhando que ela fosse “costurar as calças do marido”. Ratinho também comentou sobre a aparência de Natália: “feia do capeta”, além de chama-la de “imbecil”.
Natália foi vítima de violência de gênero, um tipo de ataque muito comum na sociedade, mesmo nos dias atuais. Esse tipo de violência direcionado às mulheres pode ser físico ou moral/psicológico. Durante o governo Bolsonaro, os números vêm aumentando, agravados pela pandemia do coronavírus e pelo desmantelamento das políticas públicas voltadas para mulheres.
Uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios divulgada em agosto deste ano mostra que em 483 cidades brasileiras houve aumento de casos de violência contra a mulher. De acordo com os dados, em 20,3% dos municípios brasileiros, foi registrado aumento nas agressões físicas e verbais contra as mulheres.
Pesquisa feita pela DataSenado apurou que a maioria das mulheres brasileiras (86%) percebe um aumento na violência cometida contra pessoas do sexo feminino durante o último ano. Para 71% das entrevistadas, o Brasil é um país muito machista. Segundo a pesquisa, 68% das brasileiras conhecem uma ou mais mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, enquanto 27% declaram já ter sofrido algum tipo de agressão por um homem.
75% das entrevistadas acredita que o medo leva a mulher a não denunciar. O estudo demonstra, no entanto, que 100% das vítimas agredidas por namorados e 79% das agredidas por maridos terminaram a relação.
O Instituto Datafolha também realizou uma pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e mostra que uma em cada quatro mulheres maiores de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no último ano no Brasil. Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. Houve um aumento de 42% para 48,8% das agressões ocorridas dentro de casa.
Mesmo nessa situação o governo gastou apenas R$ 36,5 milhões em ações voltadas para mulheres. O valor investido em políticas públicas para mulheres diminuiu 74% entre 2015 e 2020. A título de comparação, no último ano da gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff, foram investidos R$ 139,4 milhões.
O governo Bolsonaro cortou em mais de 50% a verba federal para políticas públicas voltadas para as mulheres. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os recursos orçamentários autorizados em 2021 sofreram corte de 51,8% em relação a 2020.
As mudanças no Estatuto do Desarmamento colocam a vida das mulheres brasileiras em risco. No Brasil, foram registrados oficialmente 1338 homicídios de mulheres por condição de gênero em 2020. A maioria desses assassinatos foi praticada por companheiros e ex-companheiros. Especialistas afirmam haver indicativos de aumento do risco às mulheres na pandemia, além do impacto negativo das políticas de afrouxamento das regras de controle de armas e munição patrocinadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Políticas para mulheres (ou melhor, a ausência delas) estão sob comando de Bolsonaro e da ministra Damares Alves, que já recebeu uma reprimenda da ONU por sua falta de ação no que diz respeito a ações sobre direitos das mulheres. A ministra não esconde de ninguém que sua visão pessoal e conservadora é que norteia a construção de políticas públicas voltadas para as mulheres no ministério. Damares faz uma gestão voltada para a família tradicional heteronormativa conservadora, que invisibiliza as mulheres e, portanto, todas as políticas voltadas a elas.
Em 2020, ano em que já se sofria com o aumento da violação de direitos humanos em decorrência da pandemia da covid-19 e das diferentes crises que o Brasil vem atravessando desde 2016, o Ministério da Família e Direitos Humanos, de Damares, deixou de executar 70% do orçamento da pasta, segundo dados do Inesc.
Neste país, em que o próprio presidente deixa claro que odeia mulheres, qualquer homem se sente à vontade para fazer o mesmo. As atitudes de Bolsonaro deixam o espaço livre para que muitos Ratinhos se manifestem, agridam e matem. E o Estado não está lá para protegê-las, porque Bolsonaro também não quer que isso aconteça.
O enfrentamento à violência de gênero nos governos de Lula e Dilma
Nos governos de Lula e Dilma, a situação era bem diferente. Em agosto de 2006, há 15 anos, foi sancionada a Lei Maria da Penha, pelo Presidente Lula, um marco internacional no combate à violência contra a mulher, considerada pela ONU uma das melhores do mundo.
Além da proteção contra casos de agressão física, a lei considera violência doméstica casos como agressão psicológica e violências sexual, patrimonial e moral, e protege mulheres heterossexuais, lésbicas, bissexuais e mulheres trans.
A Lei Maria da Penha foi resultado de um esforço coletivo de movimentos de mulheres e do poder público, por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência, pasta criada por Lula em 2003. Alguns dos mais importantes avanços da nova lei foram, além da ampliação do conceito de violência contra a mulher, a instauração de medidas protetivas de afastamento cautelar do agressor e a proibição de penas meramente monetárias — acabando com a prática de estabelecer a doação de cestas básicas como pena, recorrente entre juízes das varas de família. A lei foi considerada pela ONU uma das melhores legislações do mundo no combate à violência contra as mulheres.
Para além da Maria da Penha, os governos petistas elegeram a luta contra a violência de gênero como prioridade. Houve a criação da Casa da Mulher Brasileira, o programa “Mulher: Viver Sem Violência” e o empoderamento das chefes de família por meio do cadastro do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida feitos, prioritariamente, em nome das mulheres, além da sanção, por Dilma, em 2015, da Lei do Feminicídio.
Lula e Dilma construíram administrações pensadas por mulheres e voltadas também para mulheres. Um governo que entendia o valor e a importância das brasileiras pra a nossa sociedade e que sabia que o Brasil não podia mais conviver e aceitar a violência de gênero. Bolsonaro não esconde seu ódio à figura do feminino quando diz que a filha mulher é fruto de “fraquejada” ou quando exalta publicamente a figura de um torturador de mulheres da época da ditadura. É preciso resistir para que as mulheres possam sobreviver e ocupar novamente os lugares que lhes são de direito.
Do site lula.com.br