21,4 milhões de mulheres sofreram violência no Brasil nos últimos 12 meses
Relatório “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil” deixa evidente que os companheiros continuam como principais perpetuadores da violência doméstica
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Nos últimos 12 meses, 21,4 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência no Brasil. A informação consta na quinta edição da pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil “, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com o Instituto Datafolha.
O estudo também evidenciou que o principal cenário de terror para as vítimas continua sendo a própria casa: quase 67% dos casos de violência relatados foram praticados por parceiro ou ex-parceiro íntimo da vítima. Desde a primeira edição da pesquisa, em 2017, a proporção de agressões praticadas pelo marido, namorado ou companheiro mais que dobrou: foi de 19,4% para 40% dos casos em 2025.
O relatório de vitimização foi feito com amostra representativa da população, que versa sobre situações de violência psicológica, física, sexual e assédio. As pessoas entrevistadas foram questionadas sobre vivências de experiência ao longo da vida nos últimos 12 meses, situações em que cometeu o crime, atitudes tomadas em relação aos fatos, onde se deu a violência mais grave e quem foi o autor.
O universo da pesquisa é a população brasileira de todas as classes sociais com 16 anos ou mais, com abrangência nacional, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de diferentes portes. As entrevistas foram realizadas em 126 municípios de pequena, média e grande porte, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025.
A amostra total nacional foi de 2.007 entrevistas, entre homens e mulheres. A amostra total de mulheres foi de 1.040 entrevistas, sendo que, destas, 793 aceitaram responder ao módulo de autopreenchimento. Ambas as amostras permitem a leitura dos resultados no total do Brasil.
De acordo com o Ipea na publicação Fórum de Debates: Criminalidade, Violência e Segurança Pública no Brasil , “Pesquisas de vitimização específicas um caminho para se obter, através da vítima, estimativas sobre a criminalidade que ficam ocultas dada a opção dos entrevistados por não procurar o sistema de justiça”. “Por esta razão, as questões relacionadas à vitimização foram aplicadas apenas às entrevistadas do sexo feminino”, explica a pesquisa.
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Resultados
Das entrevistadas, 37,5% afirmaram ter vivenciado ao menos uma situação de violência no último ano, o equivalente a 21,4 milhões de mulheres com 16 anos ou mais. Esta é a maior prevalência de violência entre mulheres verificada ao longo dos oito anos da pesquisa.
O resultado da pesquisa evidenciou que mulheres e meninas nunca estiveram sob tanta ameaça: 55,6% da população, viu ou ouviu um ou mais episódios de violência contra meninas e mulheres no último ano, abrangendo casos de assédio, violência psicológica e física, seja por autoria de desconhecidos ou por autoria de parceiros íntimos ou familiares. Entre os brasileiros com 16 anos ou mais, 32,4% afirmaram ter sofrido violência física ou sexual por parte de parceiro ou ex-parceiro íntimo.
Nove a cada dez dos 21,4 milhões de mulheres brasileiras, que relataram ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses, afirmam que as agressões foram testemunhadas por amigos ou conhecidos (47,3%), pelos filhos (27%), por outros parentes (12,4%) ou por pessoas desconhecidas (7,7%).
“Foi a primeira vez que perguntamos sobre testemunhas da violência sofrida pela mulher. O resultado nos surpreendeu e mostra o tamanho do desafio”, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo , Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum.
Os tipos de violência que as mulheres relataram nos últimos 12 meses:
– 31,4%: alvo de insultos, humilhações e xingamentos;
– 16,9%: batida, empurrão ou chute;
– 16,1%: ameaças de captura, chutar ou empurrão;
– 16,1%: perseguição ou amedrontamento;
– 10,4%: ofensa sexual ou tentativa de ter relação;
– 8,9%: lesão provocada por objeto atirado;
– 7,8%: espancamento ou tentativa de estrangulamento;
– 6,4%: ameaça com faca ou arma de fogo;
– 1,4%: tiro ou esfaqueamento.
Diferença na percepção das violências entre homens e mulheres
Os dados mostram que homens e mulheres têm percepções distintas sobre episódios de violência. A notícia mais relatada pelos brasileiros foi ver ou ouvir mulheres sendo abordadas de forma desrespeitosa na rua com cantadas, indicada por 38,2% dos entrevistados quando somadas como amostras de homens e mulheres.
A segunda notícia mais relatada pela população brasileira foi ter visto ou ouvido homens humilhando ou xingando suas parceiras ou ex-parceiras íntimas, com 35,6%. Outro relato frequente foi presenciar ou escutar homens brigando, se agredindo ou se ameaçando por causa de ciúmes da namorada, companheira ou ex, que registrou 32,5% de respostas afirmativas.
Por outro lado, 27,8% dos entrevistados presenciaram meninas ou mulheres adultas sendo ameaçadas pelos namorados, companheiros ou ex-companheiros e 27,2% disseram ter visto ou ouvidos meninas ou mulheres sendo agredidas por companheiros, namorados ou ex-companheiros/ex-namorados.
Por fim, 1 em cada 5 brasileiros (19,4% da população) relataram ter presenciado ou escutado meninas ou mulheres adultas que residem em seu ambiente sendo agredidas por parentes do sexo masculino como pais, padrastos, irmãos, avôs, dentre outros.
“Chama atenção que 1/3 dos brasileiros (33,4%) tenha presenciado ou escutado casos de meninas ou mulheres que residem em seu ambiente sendo agredidas por maridos, companheiros, namorados ou ex. Dentre os homens, 20,5% afirmaram ter presenciado ou ouvidos episódios semelhantes. Da mesma forma, nos episódios de humilhação, xingamentos ou ameaças dirigidas a companheiras ou ex-companheiras, 41,2% das mulheres relataram ter testemunhado essas situações, enquanto entre os homens esse percentual foi de 29,7%”, diz trecho do documento.
O resultado deixa claro que a análise do perfil de gênero das respostas indica uma maior percepção da violência entre as mulheres. Em todas as situações comprovadas, o percentual de mulheres que relataram ter presenciado ou escutado sobre episódios de violência foi superior a dos homens.
Escolaridade
Em relação à escolaridade, os percentuais por grau de instrução são aproximados, mas ainda assim as mulheres com baixa escolaridade (fundamental completo) possuem a maior prevalência de vitimização entre os grupos (45,5%), seguindo de mulheres com ensino superior completo (41,7%) e mulheres com o ensino médio completo (38,1%)
O que explica o aumento dos casos?
De acordo com o relatório, além de haver maior consciência das mulheres sobre o que é violência e os tipos de agressão existentes, “os números encontrados, por exemplo, mostram que uma quantidade expressiva de meninas e mulheres afirma ter sido vítima de agressões verbais e insultos no último ano. Tais práticas violentas, muito provavelmente, não foram percebidas como violência antes deste esforço coletivo de tratar do tema insistentemente.”
“O legado de quatro anos de desfinanciamento de políticas de prevenção e enfrentamento da violência contra meninas e mulheres por parte da administração Bolsonaro e de governadores e prefeitos alinhados com este governo” ajudou a explicar o avanço da cultura violenta de homens contra as mulheres.
Os dados apenas ajudam a explicar os efeitos e os resultados de que os discursos misóginos, machistas e antigêneros são exercidos na sociedade, em especial na vida de mulheres e meninas.
Da Redação do Elas por Elas , com informações da Folha de S. Paulo