João Pessoa: petista quer transformar capital em ‘cidade educadora’
Pré-candidato petista à prefeitura, Charliton Machado critica o conservadorismo do atual mandatário e diz que educação e mobilidade são prioridades na cidade
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O sociólogo, pós-doutor em educação e professor da Universidade Federal da Paraíba, Charliton Machado, é o pré-candidato do PT à prefeitura da capital João Pessoa. A intenção inicial é a de retomar o projeto petista à cidade. O atual prefeito, Luciano Cartaxo, ganhou as eleições em 2012 como petista, mas abandonou a legenda em setembro de 2015 para se filiar ao PSD.
“A saída dele (Cartaxo) chancelou um projeto político personalista, individual e totalmente distante do que havia sido preconizado pela militância em 2012”, analisa o pré-candidato, que agora trabalha para preparar novamente a cidade para o futuro.
Falta pouco para João Pessoa ter um milhão de habitantes e, de forma antecipada, é preciso rever a mobilidade urbana, a saúde e o acesso pleno à cidadania, analisa o petista.
Com experiência de quem é professor universitário há mais de 20 anos, ele afirma que o fundamental é tornar João Pessoa uma “cidade educadora”, com atenção às crianças, além de valorização dos professores e dos adultos que não completaram a educação formal. O objetivo é claro: “Não podemos deixar nenhuma criança fora da escola”.
Veja abaixo a entrevista na íntegra:
Como o PT chegou ao consenso sobre seu nome?
Já tínhamos tomado uma decisão partidária de que o PT teria candidato próprio. A construção, então, começou nas instâncias municipal e estadual e também com deputados, lideranças e movimentos sociais. Houve um debate em torno do legado do PT de construir uma pauta programática para retomar o sentimento da militância apresentado em 2012.
Nós vencemos as eleições e o nosso programa foi abandonado na atual gestão. Há um sentimento de perda do que a gente tinha construído e consolidado. É necessária a retomada de um debate de um programa de fato petista, de esquerda e com participação popular.
Como você analisa a decisão do atual prefeito e como a mudança impactou a cidade?
Nós já tínhamos percebido (que poderia acontecer) internamente. Era um governo fechado e que não dialogava com a militância e com os movimentos sociais, sem agenda política sequer com o Partido dos Trabalhadores.
A saída dele só chancelou um projeto político personalista, individual e e totalmente distante do que havia sido preconizado pela militância em 2012: um governo democrático, participativo, transparante e com ampla participação popular. Passou a ser um governo conservador, que seguiu o roteiro do retrocesso, sem superar essa ordem de segregação histórica da cidade.
Na sua visão, qual é o principal legado negativo do atual prefeito de João Pessoa?
O mais negativo foi ser um governo fechado, sem transparência e participação popular.
“Ele se transformou em um governo de família, de poucas pessoas, fechado à sociedade. Um governo que não dialoga e não constrói uma pauta de diálogo com todos aqueles que são fundamentais para a construção de um projeto político transparente e democrático”
A cidade está com cerca de 800 mil habitantes. Como preparar João Pessoa para o futuro?
O PT tinha um projeto pensando nesse crescimento, com atenção à mobilidade, educação, saúde e ao orçamento participativo como uma ferramenta fundamental da democracia da gestão. Todas essas questões foram gestadas dentro de um pensamento de futuro: uma cidade que logo teria um milhão de habitantes e estaria preparada para um outro modelo de gestão.
Mas, lamentavelmente, isso foi deixado de lado (pela atual prefeitura) e perdemos tempo do que tínhamos preconizado sobre o legado petista. Na pré-candidatura de agora, porém, é o momento de retomar o debate e construir novamente os caminhos que foram perdidos.
Como entra a mobilidade urbana nesse cenário?
Antes de tudo, há de ser uma gestão que pense o cidadão, a acessibilidade, ciclovias, o cidadão que usa o ônibus coletivo. Nós também precisamos discutir o modelo de concessão fechada, atrasada e corrupta, que não leva em consideração o direito dos cidadãos.
São concessões que duram décadas e décadas e, mesmo assim, temos poucos ônibus, ruins e caros. Como resultado, o cidadão fica sem acesso ao espaço coletivo.
Além disso, temos que pensar em outras formas de transporte, como o VRP (Veículo Rápido sobre Pneus) e, futuramente, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Meios de transporte que podem criar mais conforto e condição de integrar a cidade de norte a sul.
Há muitas críticas dos cidadãos em relação aos pontos de integração de ônibus, não?
Muitas, e com razão. É necessário melhorar os espaços de integração de ônibus da cidade. Hoje são lugares abandonados, perigosos e sujos. Nós temos que criar ambientes socialmente viáveis para que as pessoas esperem os ônibus com algum conforto. É fundamental também padronizar as calçadas da cidade.
João Pessoa sofre com a ausência de pavimentação de rua. É impressionante como o governo abriu mão de pavimentar as ruas da capital. Nós temos ruas intrafegáveis para ônibus, carros, bicicletas ou qualquer outro tipo de transporte. Nós queremos construir uma cidade viável e uma cidade também sustentável.
João Pessoa sofre com a ausência de pavimentação de rua. É impressionante como o governo abriu mão de pavimentar as ruas da capital.
O sr. costuma falar de construir uma Cidade Educadora. Como isso funcionaria na prática?
Como educador e professor de ensino superior há mais de 20 anos, a educação é o nosso compromisso fundamental com a cidade. Ser uma Cidade Educadora é grande luta e bandeira da minha candidatura. Não podemos deixar nenhuma criança fora da escola. Nós vamos investir para que, de fato, a educação infantil seja levada a sério.
Nós precisamos fazer concurso público, contratar especialistas, valorizar a política de inclusão educacional, algo que tem sido deixado para trás.
Precisamos também valorizar o ensino fundamental de uma forma muito mais rigorosa, com formação permanente dos professores, com a cultura digital, que é fundamental para os desafios tecnológicos na sociedade da comunicação e da informação, valorizar os planos de carreira e remuneração dos professores.
E em relação aos adultos que não estudaram no tempo certo?
Nós temos que fazer um debate seríssimo sobre o assunto. Além de oferecer educação a esse público, são necessárias criar alternativas de trabalho para os que estão fora do período normal de educação.
São desafios que queremos enfrentar e há condições para isso. Há grandes projetos educacionais dentro das universidades. Elas estão dispostas a construir parcerias (com a prefeitura), porém não houve esforços (da atual gestão) para consolidar essas parcerias.
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias