Mídia estrangeira aponta isolamento de Bolsonaro

Na contramão de líderes mundiais e do próprio ministro da Saúde, presidente desdenha da crise e chama atenção da imprensa internacional. “Ele é um perigo para o povo brasileiro”, diz o inglês ‘The Guardian’. “A resposta de Bolsonaro à pandemia fez dele uma aberração”, destaca o ‘NYTimes’. ‘Financial Times’ o chama de “crise ambulante”

Jair Bolsonaro, aplaudido pela morte e o Covid-19. A visão ácida do cartunista alemão Luff, publicado no jornal 'Stuttgarter Zeitung', na sexta-feira, 27 de março.

Jair Bolsonaro, aplaudido pela morte e o Covid-19. A visão ácida do cartunista alemão Luff, em charge publicada no jornal ‘Stuttgarter Zeitung’, na sexta-feira, 27 de março.

 

Diante da gravidade representada pelo rápido avanço do coronavírus no Brasil e no mundo, o presidente Jair Bolsonaro vem ocupando as manchetes e páginas dos principais veículos da imprensa internacional por minimizar a crise e não defender as medidas emergenciais de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. O comportamento de Bolsonaro chama a atenção da mídia estrangeira pelo perigo que passou a representar para a saúde do povo brasileiro.

“Bolsonaro é o único grande líder mundial a continuar questionando os méritos das medidas de quarentena recomendadas para o combate da pandemia”, aponta matéria do New York Times desta quarta-feira, 1º de abril. Segundo o diário americano, a maneira com a qual o presidente lida com a crise preocupa todas as esferas da política. “Líderes do Congresso, editoriais (de jornal) e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) pediram aos brasileiros que ignorassem seu presidente”, noticia o Times, destacando que até líderes como Donald Trump e o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, demoraram mas compreenderam a gravidade da situação.

O NYTimes observa ainda que, apesar de o presidente ter adotado um tom mais sério no pronunciamento de terça-feira (31), considerando o vírus como o maior desafio de sua geração, ele não endossou medidas de quarentena. Bolsonaro  citou, de forma enganosa, “comentários do diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para afirmar que os trabalhadores informais devem continuar a trabalhar”.

Em artigo para o jornal americano na semana passada, o especialista em política latino-americana Gaspard Estrada já havia alertado para o perigo representado pelas atitudes do líder brasileiro: “Bolsonaro enfrenta a pior crise de saúde moderna do Brasil em uma situação adversa: no isolamento político”, avaliou Estrada. “Líderes do Congresso, membros do Supremo Tribunal Federal e vários governadores estão em permanente tensão com seu governo”, escreveu.

De acordo com o especialista do diário americano, “a crise sanitária e o choque econômico iminentes podem se transformar numa crise política cujos efeitos mais profundos serão sentidos não só pelo governo Bolsonaro, mas — sobretudo — pela combalida democracia brasileira”.

O britânico Financial Times vai na mesma direção, afirmando que Bolsonaro despreza diretrizes internacionais e o próprio Ministério da Saúde. E faz um alerta: “O comportamento de Bolsonaro também provocou uma reação que poderia ameaçar seu futuro político e a estabilidade da maior democracia da América Latina”.

O jornal noticia que a maioria dos governadores do país, incluindo aliados no passado recente, romperam publicamente com Bolsonaro, e que o Senado e o ministro da Saúde o contradizem. Enquanto isso, relata o Financial Times, cidadãos em quarenta promovem pelo país panelaços noturnos contra o presidente.

O inglês The Guardian também destaca o isolamento de Bolsonaro. Uma das dez matérias mais lidas no site do jornal britânico nesta quarta-feira (1º), é a reportagem com chamada de capa informando que o presidente brasileiro foi ignorado pelos governadores, incluindo aliados. Apenas três dos 26 estados (e o Distrito Federal) relaxaram as medidas de isolamento social.

O diário francês Le Monde noticia a aparente guinada de Bolsonaro rumo ao bom senso, com a mudança do que antes chamava de gripezinha para “o maior desafio” de sua geração. “Para reduzir o impacto do confinamento na economia, ele defendia o ‘isolamento vertical’, que só dizia respeito a populações consideradas de risco, em particular os idosos”, destaca o jornal.  Ainda segundo o Le Monde, as autoridades alertaram que o pico da epidemia não seria atingido no Brasil antes do final de abril.

Da Redação, com agências internacionais de notícias

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