Bolsonaro mantém sabotagem: Saúde adia vacinação de grupos prioritários

“Neste governo genocida, falta planejamento, organização, competência. E, por conta dessa desordem, pessoas continuam morrendo”, critica o líder do PT na Câmara, Bohn Gass

Foto: Ueslei Marcelino

Marcelo Queiroga

O Brasil encontra-se em um beco sem saída na crise sanitária da Covid-19, encurralado pela incompetência e pela sabotagem de Jair Bolsonaro ao combate à pandemia. Como resultado, o cronograma de vacinação sofre sucessivos atrasos, aumentando o risco de agravamento do surto. Nesta quarta-feira (21), o ministro da Saúde Marcelo Queiroga anunciou um adiamento da conclusão da vacinação de grupos prioritários de maio para setembro. No Plano Nacional de Imunização (PNI) da pasta, os grupos somam um total de 77,2 milhões de pessoas.

O processo de vacinação do Brasil tem ocorrido de forma cada vez mais célere”, mentiu Queiroga. “Se continuar nesse ritmo, até setembro, pode-se atingir a imunização da população prevista no PNI. Nosso objetivo é que isso ocorra antes”, afirmou.

Endossando a falta de compromisso de Bolsonaro com a vida do povo brasileiro, o ministro, ao ser indagado sobre as razões do atraso, demonstrou irritação. E pediu que não se deve ficar contando vacinas. “A gente está aqui para dar solução. Fica com essa coisa de ‘contando doses da vacina’. Vamos vacinar a população brasileira. Estamos aqui trabalhando e vocês são testemunhas disso”, desconversou Queiroga.

“Pazuello disse: até maio, todo o grupo prioritário estará vacinado”, lembrou o líder da bancada do PT na Câmara Bohn Gass. “Neste governo genocida, falta planejamento, organização, competência. E por conta dessa desordem, pessoas continuam morrendo”, criticou Gass, pelo Twitter.

Bohn Gass também fez referência a um comentário feito pelo ex-comandante do Exército general Edson Pujol, que afirmou que o então ministro da Saúde deveria ter pedido demissão quando Bolsonaro o proibiu de comprar vacinas. “Obedecendo, você se ferrou e nos ferrou junto”, alfinetou o general, segundo apuração do colunista do Globo Anselmo Gois. “Errado, não foi o Exército, mas o povo que se ferrou”, corrigiu Bohn Gass.

Atrasos consecutivos

Os atrasos consecutivos vêm ocorrendo desde dezembro, quando o primeiro cronograma foi apresentado pela pasta. Naquele mês, a Saúde anunciou que iria vacinar 50 milhões de brasileiros em três meses. Transcorridos quase quatro meses, o ministério não conseguiu chegar a nem metade da meta. De acordo com reportagem do Estado de S. Paulo, o ministério deixou de atualizar o cronograma em março.

A falta de transparência do governo levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a reagir. Na terça-feira (20), o ministro Ricardo Lewandowski determinou que a Saúde apresente informações atualizadas e detalhadas sobre o cronograma em até cinco dias.

Ministro enrolador

Em pouco tempo como ministro, Marcelo Queiroga tornou-se um especialista em fugir dos temas centrais da crise sanitária, evitando informações mais detalhadas sobre leitos de UTI, vacinas, compra de insumos. Na entrevista de quarta, por exemplo, Queiroga disse que a aceleração das imunizações depende de “novos contratos” e da chegada de insumos”.

“Não posso dizer taxativamente que tenhamos 40 milhões, 35, milhões e 45 milhões em maio porque depende da chegada de insumos no Brasil”, observou. Enquanto isso, a China, maior fornecedora de insumos como o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), vem ampliando a vacinação de sua população, medida que deve atrasar ainda mais o cronograma brasileiro. Rússia e Índia também trilham o mesmo caminho.

Consequências da falta de imunizantes

Especialistas de saúde são unânimes em temer os perigos de uma demora no avanço da vacinação em massa, uma omissão que pode facilitar a circulação de mutações do vírus cada vez mais infecciosas e letais.

“A questão da vacina passa pela desinformação sobre o tema e a negação da necessidade do planejamento, de comprar, de planejar campanhas”, declarou recentemente a microbiologista Natalia Pasternak à BBC. “Perdemos uma janela de oportunidade de compra que não volta mais, e isso foi um erro muito grave do governo federal. Essa janela não poderia ter sido perdida”, observou.

Para o pesquisador do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (Cepedisa-USP) e do Institut Droit et Santé da Universidade de Paris, Daniel Dourado, o governo cometeu o equívoco de apostar na tese da imunidade coletiva, abandonada no início do surto por lideranças mundiais.

Segundo Dourado,  Bolsonaro “achava que era possível formar imunidade coletiva sem vacina”. O médico afirmou à BBC que o governo apostou tudo na tese.  “Eles recusaram propostas de vacina com desculpas fajutas. Parece que eles não queriam gastar dinheiro com a vacina da Pfizer”, destacou.

Da Redação, com informações de Estado de S. Paulo e BBC

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