Crise dos combustíveis: diesel continua mais caro que a gasolina
Apesar de queda inexpressiva, preço do óleo está 55% acima do cobrado em janeiro. “É apenas mais uma ação eleitoreira, Bolsonaro não mudou a paridade de importação”, lembra dirigente da FUP
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O “grande ato” comemorado por Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (11), dia em que o Brasil inteiro se mobilizou em defesa da democracia, foi o anúncio do segundo reajuste no preço do óleo diesel em uma semana pela Petrobrás. A partir desta sexta (12), o preço médio na bomba será R$ 0,20 menor, “apenas” 55% mais caro que em janeiro.
Na semana passada, a Petrobrás havia anunciado queda de 3,5% no preço do diesel. Nesta quinta, mais 4% de reajuste. Antes das quedas, o diesel vendido pela estatal já havia subido 67% no ano. O combustível começou 2022 vendido a R$ 3,34 por litro nas refinarias e atingiu R$ 5,61 em junho. Neste mês, desceu a R$ 5,41 e, agora, para R$ 5,19. Ainda assim, está mais caro do que em maio: R$ 4,91.
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Para o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, essa redução no preço do diesel, a dois meses das eleições, é mais uma “piada de mau gosto” entre as ações eleitoreiras do desgoverno Bolsonaro. “Ele esquece de falar que durante todo seu governo já foram 193% de reajuste em cima do diesel”, lembra o dirigente.
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“Tanto que hoje, pela primeira vez na história desse país – parafraseando até o nosso presidente Lula – nós temos o diesel mais caro que a gasolina do Brasil, algo inadmissível”, prossegue o também diretor do Sindipetro Bahia em entrevista ao Jornal Brasil Atual desta sexta-feira (12).
Para ele, se não houvesse a chance de Luiz Inácio Lula da Silva vencer as eleições em primeiro turno, como indicam algumas pesquisas, Bolsonaro não se moveria para baixar os preços dos combustíveis. Como não se moveu nos últimos três anos e meio.
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“É óbvio que Bolsonaro vai tentar de todas as formas, agora nesse momento, utilizar a Petrobrás para sinalizar que ele está preocupado com os preços dos combustíveis. Mas o povo não é bobo”, aponta Bacelar. “Nós temos aí três anos e meio de desgoverno e não tivemos nenhum tipo de ação dele para com os combustíveis aqui no país, tanto que perdeu a sua base eleitoral com os caminhoneiros.”
No Diário do ABC, o diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Grande ABC (Setrans), Fábio Brigidio, ressaltou que gastos com combustíveis podem chegar a 60% das despesas das empresas, por conta dos aumentos do primeiro semestre.
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“Agora os valores estão diminuindo, mas, no acumulado, o combustível aumentou 55%. Diversas transportadoras seguraram os preços para não afetar a produção. As indústrias de longa distância, por exemplo, acabam tendo gastos maiores. Assim, não é certo que as reduções diminuirão os fretes”, avalia. E frete alto gera alta da inflação.
Redução do preço poderia ter sido muito maior, apontam analistas
Brigidio lembrou que a cotação do dólar baixou, assim como o preço do barril de petróleo, no mercado internacional. “Houve uma baixa no preço do petróleo que, combinada com a apreciação do real, deixou a empresa em situação favorável para reduzir os preços dos combustíveis nos últimos meses”, confirma Rodrigo Boselli, sócio da 3R Investimentos, no Valor Econômico. E poderia ter baixado bem mais.
A XP Investimentos calcula que o novo preço do diesel ainda está 10,5% acima do mercado internacional. Nos cálculos de quarta-feira (10) da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o diesel vendido pela Petrobrás estava R$ 0,60 acima do mercado internacional, em média. O que indicava potencial para corte de 13%.
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Mas o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, já avisou. “Esperamos que os reajustes acompanhem a variação do preço internacional e que esse tipo de comportamento também seja aplicado quando exista uma elevação da cotação”, afirmou no Valor.
O coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão, ressaltou que, apesar das quedas no preço do petróleo, não se pode ignorar a aproximação do período eleitoral como ponto de influência para a decisão da Petrobrás. Ele não crê que a estatal vá realizar movimentos agressivos, mas reforçar ocorrências conjunturais nos próximos meses.
“Bolsonaro não mudou o Preço de Paridade de Importação, nós temos aqui no Brasil algo que é inadmissível. Um país que é autossuficiente em petróleo, que tem refinarias para refinar esse petróleo, que hoje é o nono maior país em consumo de combustíveis no mundo, não faz sentido algum utilizar como política de preços dos combustíveis o PPI”, critica Deyvid Bacelar, da FUP.
Sob a dolarização dos combustíveis imposta após o golpe contra Dilma Rousseff, o país continua à mercê das flutuações de preços internacionais. Basta uma virada na cotação do barril do petróleo ou do dólar para haver uma nova escalada tarifária no Brasil.
“Não se iludam, nós teremos aí grandes variações dos preços combustíveis até o dia 2 de outubro”, alerta Bacelar, “Apesar de todo o desespero do Presidente da República, que não fez nada durante todo seu mandato a não ser andar de jet ski e fazer motociatas por todo o Brasil, gastando milhões no seu cartão corporativo.”
Da Redação, com informações da Rede Brasil Atual