“Nós não podemos retroceder!”, diz Gleisi, sobre pressões contra avanços sociais

Em conversa com os jornalistas Cynara Menezes e Renato Rovai, da TV Fórum, presidenta do PT tratou de temas como ajuste fiscal, comunicação do partido e as eleições de 2026

Reprodução/TV Fórum

"É uma coisa absurda, nós não estamos em descontrole fiscal. Qual é o problema que impacta as finanças públicas? Os juros", afirma Gleisi

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), concedeu entrevista à TV Fórum, nesta segunda-feira (11). Entre outros temas, o jornalista Renato Rovai perguntou sobre a chantagem da mídia e do mercado financeiro em relação ao ajuste fiscal e a manifestação de movimentos sociais, contrários às medidas que sacrificariam, sobretudo, a parte mais necessitada da população. Gleisi lembrou das péssimas condições em que Lula pegou o país e das previsões pessimistas – não confirmadas – em relação à economia e ao crescimento, ressaltando que, apesar disso, o Brasil vai bem. 

“Nós tivemos o PIB subindo a 2,9%, ano passado e esse ano vai subir mais de 3%, a inflação ficou controlada, estamos vencendo o desemprego, a renda da população aumentou, tudo contra o que o mercado dizia que iria acontecer. Mas ele insiste em um ajuste fiscal sem precedentes em cima do povo brasileiro (…) É uma coisa absurda, nós não estamos em descontrole fiscal. Qual é o problema que impacta as finanças públicas? Os juros. Cada ponto percentual a mais gera um impacto de R$ 50 bilhões (…) Tem um outro lado: o presidente Lula foi eleito para reconstruir o Brasil e proporcionar políticas para a melhoria de vida do povo brasileiro, e isso passa por políticas financiadas pelo Estado. Nós não podemos retroceder!”, declarou. 

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Caminho para o centro?

Em seguida, Cynara Menezes questionou sobre “essa história que se fala de o PT caminhar para o centro. O PT já caminhou para o centro!”. Gleisi citou que, desde 2016 (N.R.: ano do golpe parlamentar de Estado contra Dilma Rousseff), o PT recompôs o campo da esquerda e depois fez oposição a Bolsonaro. A aliança que elegeu Lula em 2022 foi ampla e de coalizão, assim como o governo, com partidos de centro e de centro-direita. O grande objetivo é enfrentar a extrema direita. No entanto, reforçou, “o PT é um partido de esquerda, tem história, tem programa, tem princípios”, que são a razão de vida do partido. 

Gleisi também lembrou que o PT não incentiva a polarização, mas não pode deixar de fazer a disputa política, “senão faríamos o quê?, anistiaríamos quem tentou o golpe de Estado de 8 de janeiro? (…) Vamos lembrar que fomos vítimas, desde o golpe contra a Dilma, da tentativa de acabar com o Lula, e sobrevivemos porque fizemos a disputa política”. 

Comunicação e redes

Cynara citou as eleições municipais deste ano para questionar se a comunicação do PT está adequada, especialmente nas redes sociais. Gleisi acredita que essa questão não tenha sido a mais importante para o resultado final, e citou recente fala do youtuber Felipe Neto, lembrando que existem algoritmos que selecionam o conteúdo que será mostrado a cada pessoa. “As redes visam o lucro, não tem uma ética. Por isso é tão importante trabalhar para sua regulação”, afirmou.

Gleisi também recordou que o PT passou os últimos anos sob ataque intenso, então precisou se defender, deixando em segundo plano o debate que realmente importa, sobre sociedade e país. “Esses ataques causaram muitos danos à imagem do PT, que até hoje reverberam. É difícil fazer uma reconstrução em um período tão curto de tempo (…) Não podemos olhar as eleições de 2024 de forma dissociada desse quadro, senão corremos o risco de cometer erros. Isso não significa que não temos que avaliar nossa comunicação.”, esclareceu.

Reforma ministerial e 2026

Renato Rovai perguntou a Gleisi sobre uma possível reforma ministerial para a 2a metade do governo Lula, querendo saber se ela era candidata a ocupar um cargo na Esplanada dos Ministérios. A presidenta do PT, no entanto, lembrou que “quem faz a reforma é o presidente Lula”. Sobre os boatos de uma possível indicação sua ao TCU, ela lembrou que o partido tem direito, de acordo com o tamanho da sua bancada e das negociações para a presidência da Câmara dos Deputados, mas ainda não há nomes para o posto.

Em relação às eleições presidenciais de 2026, Rovai quis saber se Gleisi via um quadro semelhante à disputa de São Paulo este ano, com dois candidatos de extrema-direita, mas um deles se declarando de centro. E quis saber se Tarcísio seria um nome forte. No entanto, Gleisi afirmou não acreditar que o ex-ministro de Bolsonaro se apresentará, caso Lula seja candidato à reeleição. Para ela, cabe ao presidente montar uma aliança que englobe da esquerda ao centro-direita, para combater a extrema-direita. 

Bolsonaro, Haddad e Padilha

Sobre o polêmico artigo publicado nesta data (11), na Folha de São Paulo, que deu espaço para Bolsonaro “defender a democracia”, Gleisi foi enfática: “É como dar espaço para um assassino defender a vida”. E lembrou que a tentativa de normalizar o ex-presidente é muito ruim, citando sua atuação na pandemia, sua tentativa de golpe e outros desmandos durante seu mandato.

Já quanto à sua relação com o ministro da economia, Fernando Haddad, Gleisi salientou que é boa, lembrando seu ótimo trabalho no ministério, apesar de terem divergências em algumas questões, como o ajuste fiscal. E se disse à disposição para “ajudar no que for preciso”. 

Gleisi também afirmou que também está em bons termos com o ministro Alexandre Padilha, que havia criticado a postura do PT nas eleições, dizendo que o partido precisava “sair da zona de rebaixamento”. “Eu fiz uma resposta que depois achei deselegante, mas já está superado. O PT sempre tem esses debates, vamos seguir em frente”, declarou.

Sucessão no PT

O mandato de Gleisi como presidenta do PT vai até junho de 2025, e ela já afirmou que vai cumpri-lo até o fim. Em um balanço sobre sua atual gestão, ela considera que vem fazendo um trabalho positivo: “Tenho muito orgulho. Nós pegamos o partido em um momento muito difícil, queriam exterminar o PT e Lula. Todo mundo dizia que o PT estava morto, foi a força de nossa militância que nos fez chegar até aqui”.

Gleisi Hoffmann ressalta que irá entregar o PT altivo, firme com sua militância, “com desafios político e eleitoral, mas com certeza um PT resistente”. E ressaltou que há novas lideranças no partido, que são frutos dessas lutas e serão responsáveis por sua condução nos próximos anos.

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Da Redação

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