As Redes Sociais são armas contra a democracia?, por Éden Valadares
Secretário Nacional de Comunicação do PT alerta para o uso das redes como ferramentas de manipulação e extremismo, expondo os riscos que as big techs representam à soberania
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Observamos, com preocupação, as cenas de violência registradas nos protestos ocorridos no último sábado na Cidade do México. A cobertura midiática sobre o tema foi extensa, mas é necessário que nos detenhamos sobre as premissas tidas como inquestionáveis que permearam algumas análises desses eventos.
De acordo com a narrativa dominante em parte da grande imprensa, o que se presenciou ali foi mais uma manifestação da Geração Z impulsionada por uma frustração de caráter global. O discurso oficial descreve o movimento como genuinamente autônomo, politicamente independente e antissistêmico: jovens descrentes com o status quo que se levantaram contra a falta de perspectivas, marcharam pela capital, tentaram invadir edifícios públicos e promoveram a desordem.
O registro de protestos “semelhantes” no Nepal, Marrocos, Peru e Madagascar reforça a conclusão sugerida: a de que haveria um sentimento global capaz de arrastar indivíduos e coletivos com contextos econômicos, históricos, políticos e sociais tão distintos a convergirem em ações idênticas. Essa semelhança, argumenta-se, residiria exclusivamente no pertencimento de toda essa juventude à mesma geração. É legítimo questionar a profundidade e a validade dessa interpretação? Acreditamos que é necessário.
Ao contrário do propagado, não existe algo extremamente semelhante; mas sim semelhantemente extremista. Trata-se do mesmo extremismo de direita que é concebido, gestado e materializado sob o estímulo das redes sociais, em cenários que vão desde a Ucrânia até a Primavera Árabe, da eleição de Trump à de Bolsonaro e outros exemplos de implementação da chamada Guerra Híbrida.
Não constitui novidade que as grandes corporações de tecnologia detêm vastos recursos financeiros, de inteligência e de infraestrutura, dominando o fluxo de dados capaz de influenciar comportamentos individuais e determinar a tomada de decisões coletivas em escala local, nacional ou internacional. Do mesmo modo, não é inédito que as manifestações atribuídas à Geração Z seriam inviáveis sem a articulação e a propulsão fornecidas pelas plataformas digitais.
A centralidade da nossa observação, reflexão e preocupação reside em novas questões: uma vez admitida a preferência pela agenda da direita pelas empresas e seus donos, qual é o limite da disposição em promover o extremismo? Em um contexto de guerra híbrida as redes sociais são armas contra a democracia? A parceria entre o Vale do Silício e a Casa Branca representa uma ameaça concreta à democracia em nível mundial?
É com a mesma postura direta, correta e democrática com que o Partido dos Trabalhadores buscou o diálogo com as principais plataformas digitais em atuação no Brasil para viabilizar o treinamento e a capacitação de nossa militância, elevando sua performance nas redes, que buscamos a interlocução com os demais partidos políticos, organizações da sociedade civil, juristas, advogados, comunicadores populares, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as próprias big techs. Este diálogo visa aprofundar a compreensão dos eventos ocorridos em outros países, em diferentes processos eleitorais e em momentos de alta agitação política no ambiente digital.
Proteger o processo eleitoral de toda e qualquer forma de ataque ou manipulação é, em sua essência, defender a democracia, a independência, a soberania popular. E o PT sempre estará do lado do povo brasileiro.
Éden Valadares
Secretário Nacional de Comunicação do PT
