A miséria como projeto: Milei e o primeiro ano do desastre argentino

Recessão, desemprego, inflação, fome e aumento do custo de vida marcam a gestão do neoliberal; mídia brasileira aplaude

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Sob Milei, a Argentina paga o preço da austeridade com o sacrifício de seus cidadãos

“O primeiro ano de Milei levou a Argentina à recessão (PIB de -3,6%), ao desemprego (aumento de 5,7% para 7,6%) e à fome: 52% da população na faixa de pobreza, 14 milhões de pessoas na indigência. E o custo de vida da maioria explodiu, com aumentos das tarifas de água, energia e transporte, numa inflação oficial de 2,7% ao mês, número em que ninguém acredita. O comércio exterior voltou a cair e o governo deve se ajoelhar novamente aos pés do FMI. Essa é a ‘lição de disciplina fiscal’”.

Esse texto você não vai encontrar em nenhum dos jornais da grande mídia. Ele foi publicado por Gleisi Hoffmann, deputada federal (PT/PR) e presidenta nacional do PT, nas redes sociais. A postagem de 3 de dezembro traz um breve balanço real do início do desastroso governo de Javier Milei na Argentina, um mandato que está levando o país a novamente passar o pires diante do FMI e condenar a população à recessão, à fome e à miséria.

A complacência da mídia brasileira

Para quem acha a declaração de Gleisi exagerada, a sugestão é a leitura do editorial da Folha de S. Paulo desta 2a feira (9), que comprova, nas próprias palavras do jornal, o momento ruim argentino. Em um dos trechos, informa que Milei “congelou aposentadorias, demitiu servidores e eliminou programas (…) O resultado imediato foi a contração da economia, concentrada no primeiro semestre. O PIB deve recuar cerca de 3% em 2024, e a pobreza atingiu 52,9% da população, alta de 11,2 pontos percentuais”.

Em outro extrato, a publicação revela seu alinhamento às políticas ultra neoliberais aplicadas no país vizinho: “Ficam em segundo plano, ao menos até aqui, aspectos controversos como o alinhamento a Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL), a intolerância contra adversários, o conservadorismo retrógrado na pauta de costumes e o negacionismo climático.”. 

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Ou seja: na implementação do arrocho, vale tudo, inclusive “aspectos controversos” como a aliança com o que há de pior no mundo e até, pasmem!, o negacionismo climático. Afinal, o que é um planeta perto do lucro dos rentistas, não é mesmo?

E o absurdo continua: “Mas o governo deve contar com boa vontade e recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI).”. Nesse ponto, é importante lembrar que durante décadas o Brasil foi um dos maiores devedores do FMI e ficou submetido às suas condições draconianas de austeridade fiscal, precarização dos direitos trabalhistas e redução da soberania econômica, além dos juros abusivos. Foi Lula em seu segundo mandato que quitou a dívida brasileira, muito tempo considerada impagável, com o Fundo. E fez mais: transformou o país em credor, emprestando US$ 10 bilhões à entidade. 

Argentina de Milei x Brasil de Lula

Depois do golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, em 2016, o Brasil também foi, durante 6 longos anos, tubo de ensaio das mais perversas práticas neoliberais, encabeçadas por Temer e Bolsonaro. Mas foi com esse último, junto de seu ministro da Fazenda e agente do mercado financeiro, Paulo Guedes, que a implementação de políticas contra os trabalhadores, os desassistidos e o país atingiu seu ápice. Felizmente, o avanço dessas medidas foi barrado, e agora está sendo revertido, com o retorno de Lula ao poder.

Com Lula, o Brasil retomou suas políticas aliando desenvolvimento e um olhar mais atento para os mais necessitados. Programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, além do aumento real do salário mínimo e da isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, entre outras iniciativas, vêm mudando a realidade local para muito melhor em apenas dois anos.  

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Já a Argentina vai na contramão desse movimento, sufocando cada vez mais sua população, vítima de planos econômicos “milagrosos” que só servem para afundar o país. No governo Milei, os aposentados são a vítima da vez. Segundo o Centro de Políticas Públicas (Cepa), “no período de janeiro a setembro de 2024, 25,3% do ajuste dos gastos do Estado foi explicado pela perda de poder aquisitivo de aposentadorias e pensões”. Outro dado relevante: em outubro, o consumo caiu 20,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. 

Ainda segundo o editorial da Folha de S. Paulo, essas questões não são tão graves assim. “Mais importante é que se consolide na Argentina um consenso mínimo em torno de bons princípios de gestão do Orçamento e da economia, para que os avanços sejam duradouros —e os sacrifícios de agora não sejam em vão”, escreveu o jornal, esquecendo-se de dizer que os “sacrifícios” serão pagos por quem tem menos, como sempre. 

Mas será então que o caminho escolhido por Milei é melhor? Dando o devido benefício da dúvida, vamos comparar alguns números dos dois países:

. Taxa de desemprego
Brasil: 6,2%
Argentina: 7,6% 

. Inflação (projeção para 2024)
Brasil: 4,59%
Argentina: 124% 

. Crescimento do PIB (projeção para 2024)
Brasil: + 3,5%
Argentina: -3,5%  

. Nível de pobreza
Brasil: 27,4% (-4,2% em um ano)
Argentina: 52% (+11,2% em um ano)

Como se nota, o primeiro ano de governo de Javier Milei evidencia a grande falácia do discurso de austeridade fiscal. Embora tenha havido uma redução na inflação, o custo social é imenso. A comparação com o Brasil expõe a fragilidade do modelo argentino.

Em outra postagem, Gleisi Hoffmann traz mais dados sobre a diferença que faz um presidente realmente comprometido com a população: “No primeiro ano de governo Lula a pobreza no Brasil caiu ao menor nível desde o início da série de pesquisas, em 2012. Tiramos 8,7 milhões da linha de pobreza e 3,1 milhões da extrema pobreza (…) Bom para o povo, bom para o país, mas a mídia e o mercado gostam mesmo é da política do Milei, que jogou mais da metade da população da Argentina na pobreza pra fazer superávit fiscal”.

A tragédia econômica argentina serve como um lembrete de tempos não muito remotos no Brasil, e sobretudo como um alerta para as gerações futuras, sobre os riscos de adotar políticas econômicas que priorizem o equilíbrio fiscal com base no sofrimento da população, sobretudo a mais carente. 

O modelo de Milei, aplaudido pelo FMI e pela grande mídia brasileira, entre outros atores neoliberais, só tem um destino possível: a lata de lixo da história.  

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Da Redação

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