A política virou um espetáculo, critica especialista sobre políticos ‘midiáticos’
Para doutor em Sociologia, a falta de interesse da população por política amplia a força da mídia e propicia o surgimento de candidatos sem qualquer trajetória de militância, como Datena
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Em diversas partes do mundo, pessoas públicas, conhecidas por suas aparições na televisão e em outros meios de comunicação, ingressam na política. O fenômeno é registrado no Brasil, nos Estados Unidos, na Itália, além de outros países. O último anúncio foi a pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo do apresentador José Luiz Datena, pelo PP. O empresário João Dória também ambiciona o cargo, pelo PSDB.
Datena segue o caminho de outros famosos da TV, como Celso Russomanno, que se elegeu deputado federal (PRB-SP) com mais de 1,5 milhão de votos.
Nos Estados Unidos, o magnata Donald Trump é pré-candidato à presidência pelo Partido Republicano e está em larga vantagem sobre seu concorrente, de acordo com pesquisa divulgada na semana passada. Trump ficou ainda mais conhecido depois de apresentar o reality show de negócios The Apprentice.
O fenômeno não é recente. Controlador da Mediaset e proprietário do clube de Futebol Milan, Silvio Berlusconi foi primeiro-ministro da Itália por nove anos ao todo, entre 1994 e 1995, de 2001 a 2006 e entre 2008 e 2011. Há ainda outros nomes na política brasileiro, como o humorista Tiririca, reeleito deputado federal como o segundo mais votado de São Paulo.
Para o doutor em Sociologia e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Luiz Otávio Teles Assumpção, o fortalecimento de nomes que não possuem trajetória política está relacionado à exposição midiática e à despolitização da população.
“Para alguns, a política deixou de ser campo de formação cultural, educacional e isso dá margem, obviamente, para quem está exposto, para quem tem acesso à mídia. E essa turma vai vender a si mesmo como um produto. Surgem essas lideranças oportunistas”, analisa.
Um problema de base, avalia Assumpção, que começa no desinteresse pelo assunto e deságua na falta de participação na política cotidiana.
“Parte da população só considera política importante em época de eleição, quando há uma crise muito forte ou quando ocorre uma pressão da mídia sobre o assunto. As pessoas não lutam por causas coletivas, não se associam”, afirma Assumpção.
O resultado da falta de conhecimento, é a fragilização diante das informações expostas pela mídia. “O fato é construído e desconstruído pela mídia e se você não tem conhecimento, uma coisa mais sólida, você começa a entrar nesse jogo e começa a fazer papel de bucha de canhão”, critica.
Para o professor, como o eleitor não monitora e não participa, os políticos não se sentem obrigados a representar os interesses do País. “As próprias bancadas estão muito concentradas em assuntos particulares. Poucos no Brasil discutem o País como um todo, os projetos a longo prazo”, argumenta.
“Nos Estados Unidos chega a assustar. Trump talvez represente o ideal consumista da população. Na Itália, um país que tem uma tradição política, elege um fanfarrão como Berlusconi. O que ele era? Um rei da mídia, do império midiático”, comenta.
Corrupção – Assumpção cita como exemplo da manipulação da mídia e da falta de conhecimento da história do País a ideia, já transformada em senso comum, de que a corrupção é um fenômeno recente.
“A história política brasileira é uma história corrupta. Desde a descoberta do Brasil, no Brasil Colônia, no Império, no período dos grandes coronéis, sempre houve corrupção. O País passou por ditaduras seríssimas, em que censura impedia qualquer denúncia de corrupção, de suborno”, lembra.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias