“A população negra ainda está na luta pelo direito à vida”, diz Janaína Fernandes
Secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT afirma que o partido é o principal instrumento de luta das mulheres negras e da população LGBTQIA+
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“O PT é o principal instrumento da luta das mulheres negras, das trabalhadoras, da população LGBTQIA+, da juventude e de tantas outras lutas que a gente enfrenta. Foi nos governos petistas que tivemos a maioria dos avanços para essas populações. Quando falo da luta pelo existir, lembro muito desse lugar que ocupo na política por mim e pelas que virão”. A análise de Janaína Fernandes, secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT, foi no programa Café PT da TvPT desta quarta-feira (12).
Em mais uma da série de entrevistas do mês das mulheres, Janaína abordou vários aspectos da luta feminina, especificamente das mulheres negras. “É momento de comemorarmos a nossa existência, estamos vivas, apesar dos feminicídios e de outras opressões”, disse ela, apontando que a luta pelos direitos das mulheres não costuma ser pela perspectiva das mulheres negras.
“Ainda há resquício de um sistema que oprime e desvaloriza as mulheres negras, o que traz sofrimento com duplo preconceito: a gente sofre porque é mulher e sofre porque é uma mulher negra”, sublinhou, ao citar que a cada quatro mulheres assassinadas no país, três são mulheres negras. Os casos de feminicídio, estupro, lesão corporal e violência doméstica em sua maioria são contra mulheres negras, que são também as que recebem os menores salários que homens brancos e negros e mulheres brancas.
“Na largada social da vida nós estávamos lá atrás. É importante reconhecer todas as nossas lutas e avanços, mas ainda estamos um pouco atrás. Enquanto as mulheres brancas ocupam alguns lugares estratégicos na sociedade nós mulheres negras ainda estamos lutando apenas pelo direito à vida pela sobrevivência”, observou, ao falar do front de luta contra a extrema direita.
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“As vezes a gente questiona se temos força para continuar na luta. Muito pelo contrário, agora é a hora de reagirmos. O direito à vida passa pela disputa desses lugares e ocupando esses lugares, onde se tomam as decisões”, salientou, ao reforçar a importância do PT neste cenário.
Nova realidade com governos petistas
As políticas públicas criadas nos governos do PT trouxeram uma nova realidade para a população negra, o que mostra a importância de ter um governo democrático, que pensa nas minorias – nós somos maiorias – com esses avanços principalmente na educação, a garantia das cotas, como as cotas que têm sido extremamente importantes no processo de reparação. É importante a gente celebrar essas conquistas
Janaína avalia que o desmonte das políticas públicas promovidos pelo governo anterior afetou diretamente a luta e as conquistas das mulheres e dos movimentos negros. “Houve um retrocesso, poderíamos estar celebrando outras conquistas se direitos (já conquistados) não tivessem sido paralisados. A volta desse governo democrático traz luz porque está resgatando todas as políticas, e agora é pensar em novos avanços”, sinalizou.
Em relação à participação das mulheres negras na política, Janaína vê como um grande desafio porque trata-se de um lugar que tem sido muito violentado por muito machismo e sexismo, o que tem afastado as mulheres, que ficam com receio de ocupar esses espaços.
Luta por direitos
“Mas sou do time das mulheres que nasceu para luta, a gente não recua até que os nossos direitos sejam todos garantidos”, ressaltou, ao falar dos desafios de dialogar com as mulheres negras sobre a importância da conscientização e das escolhas de suas representações políticas diante de tantas fake news. A intenção, segundo Janaína, é tornar a política um espaço impróprio para as mulheres negras e reverter essa situação é um dos desafios da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo
“Há uma intenção voluntária de que nós não ocupemos esses lugares. Temos o desafio de preparar internamente os nossos coletivos, em diálogo com a Secretaria de Mulheres para que a atuação das mulheres nos territórios seja de multiplicadoras das verdades.”
Desde a criação da Secretaria Executiva de Políticas de Promoção da Igualdade (Seppir), Janaína registrou a trajetória de lutas e conquistas como a luta pelo Estatuto da Igualdade Racial que envolveu a militância petista.
“A Secretaria Nacional de Combate ao Racismo está dentro da estrutura do PT assim como outras secretarias como da juventude e mulheres, muito importantes no processo de formação política”, afirmou, ao destacar o secretário Martvs Chagas que tem se destacado no debate sobre financiamento de candidaturas negras e negros, um ganho muito importante para o partido.
Representatividade
A secretaria também trabalha com uma rede de parlamentares negros e negros no Congresso, que atua com os partidos da base do governo Lula. Janaína conta que houve um encontro de parlamentares negros do Brasil e que a secretaria tem um calendário de janeiro a janeiro com ações de formação e de orientação de pré-candidatos.
“O fruto disso é esse aumento significativo dos nossos parlamentares, de vereadores e de vereadores, essa bancada linda negra que a gente tem na Câmara Federal que a gente chama de bancada Benedita da Silva, com Dandara, Carol Dartora e tantas outras companheiras”, destacou.
Janaína assinalou que a secretaria não é só um instrumento de articulação mas também orientador da elaboração das políticas públicas. “É importante que possamos ter mulheres negras e de homens negros nas direções estaduais, nas executivas. Ocupar esses lugares é uma tarefa prioritária para nós negras e negros no PED de 2025”, salientou.
Presença negra nos gabinetes
Coordenadora de Relações Institucionais da Assessoria de Participação Social e Diversidade (Aspad) do Ministério da Igualdade Racial, Janaína conta que essas assessorias (Aspads) foram instituídas nos gabinetes de todos os ministérios já no primeiro mês de governo do presidente Lula.
“Foi uma resposta dele à sociedade brasileira sobre a importância da participação social. Sob coordenação do ministro Márcio Macedo, as Aspads auxiliam na formulação de políticas e diretrizes de promoção da participação social e também da igualdade racial nas suas particularidades”, relatou. Atualmente a secretaria está atuando na construção das etapas municipais e estaduais das conferências que vão culminar com a 5ª Conferência Nacional em setembro
“O Fórum Nacional de Mulheres Negras do PT é um dos instrumentos mais importantes que eu participei na minha vida e costumo dizer que sou fruto dos investimentos petistas”, revelou Janaína, que a convite do partido saiu do interior de Pernambuco para atuar na secretaria e construir o Fórum. Ela falou do encontro em Guarulhos (SP) como mais de 600 mulheres filiadas, onde surgiu o Elas por Elas Mulheres Negras, um instrumento importantíssimo da formação das mulheres do PT.
“Nós mulheres negras estamos dizendo para o partido: estamos aqui, somos maioria, estamos atuando conjuntamente com as nossas secretarias estratégicas e queremos estar mais próximas da direção, falando daquilo que é importante para nós e querendo construir as nossas ações e orientações partidárias”, afirmou, ao prever um novo encontro ainda em 2025.
Racismo ambiental e futuro
Janaína fez ainda uma reflexão sobre o racismo ambiental, uma pauta importante e prioritária. “A gente precisa fazer uma discussão séria sobre isso com a nossa população negra e com os nossos aliados”, ponderou.
Sobre o futuro, Janaína vislumbra um Brasil onde as lutas pelo básico não sejam a luta prioritária. “A população negra ainda está na luta pelo direito à vida. Espero que a gente possa ter a liberdade e a dignidade de viver plenamente, de educar nossos filhos, ter o direito de ir e vir e não ser confundido com terceiros por conta da cor da pele, que a gente não tenha medo de andar na rua simplesmente porque é negro e porque é negra, essa é uma perspectiva de futuro que eu tenho”, concluiu.
Da Redação