Abin revela elo entre atos golpistas de 8 de janeiro e garimpo ilegal

Pela análise das máquinas usadas no garimpo ilegal em área protegida no Pará, agência descobre redes de empresários envolvidos com atividades ambientais criminosas e o financiamento de atos terroristas

Marcelo Camargo / Agência Brasil - Site do PT

Não falha: a Abin descobriu uma estreita conexão entre as duas atividades criminosas apoiadas e executadas por bolsonaristas

A ligação entre os atentados de 8 de janeiro e o garimpo ilegal está cada vez mais evidente. Relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mostrou que, a partir da análise das máquinas usadas no garimpo ilegal em área de proteção ambiental no Pará, foi possível rastrear redes de empresas e empresários envolvidos com atividades ambientais ilegais e com o financiamento de manifestações terroristas pós-eleição de 2022.

O site Congresso em Foco teve acesso ao documento da Abin, com data de 2 de março de 2023, que identificou os empresários Roberto Katsuda e Enric Lauriano diretamente envolvidos com o garimpo ilegal no estado do Pará e apontou suas ligações com políticos e grupos de apoiadores de Bolsonaro que praticam a atividade ilícita. Também aparece no documento da Abin o proprietário da RP Cunha Informática e da Mineração Carajás Ltda, Ricardo Pereira Cunha, que organizou financiamentos e ações golpistas em Marabá e em Brasília.

O relatório aponta que as conexões evidenciam o vínculo entre a prática de ilícitos ambientais e atuação de grupos extremistas contrários à eleição para a Presidência da República em 2022, “além de permitir identificar redes de práticas delituosas, abrangendo diversas atividades, atores e verbas oriundas da exploração ilegal de recursos naturais”, como consta no final do documento.

“Os indícios de ligações entre o garimpo ilegal no Pará e os atos golpistas mostram o caráter criminoso de quem financiou e participou do atentado contra a democracia no dia 8 de janeiro. Esperamos uma apuração célere e a punição dos culpados!”, postou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados no Twitter.

Roberto Katsuda aparece como diretor da Cooperativa Mista de Mineradores do Alto Tapajós (Cooperalto), uma das principais associações garimpeiras, localizada no sudoeste paraense e que integra uma comissão a favor do garimpo. Seus membros estiveram com várias autoridades políticas para impulsionar o projeto de lei que cria condições para liberar o garimpo em terras indígenas (PL 191/2020).

Em requerimento ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com pedido do Relatório de Inteligência Financeira (RIF) da Cooperalto, a relatora da CPMI dos Atos Golpistas, Eliziane Gama (PSD-MA) afirmou que Roberto Katsuda também seria responsável pelo financiamento de cooperativas garimpeiras na região. Ele é apontado como financiador da estrutura lobista pró-garimpo do vereador Wescley Silva Aguiar, conhecido como Wescley Tomáz e ambos compõem uma comissão a favor do garimpo com Fernando Brandão, dono do maior escritório de advocacia de Itaituba, além de Guilherme Aggens, engenheiro florestal da Geoconsult.

Até o reino mineral já sabe dos crimes do Bolsonaro e não tem como dissociar o garimpo ilegal das práticas golpistas”, comentou o deputado Rogério Correia (PT-MG).

Filho de Onício Lauriano, pecuarista com fazendas em três municípios do sul do Pará e investigado por desmatamento ilegal em áreas de proteção ambiental, Enric Lauriano é acusado de financiar manifestações no Pará e em Brasília contra o resultado das eleições de 2022. Ele esteve presente nos atos golpistas de 8 de janeiro que depredaram a desde dos Três Poderes.

No relatório da Abin, Lauriano aparece como um dos principais articuladores do PL 191/20, que libera a exploração de mineração em terra indígena e também como consultor da Associação Nacional do Ouro (Anoro), responsável por fazer lobby a favor do garimpo em Brasília. Integrante do acampamento em frente ao quartel-general em Brasília, ele atuou ativamente na divulgação de rede de financiamento de um movimento extremista de Marabá. Nessa rede foi usada a R. P. Cunha Informática, empresa interposta para arrecadação de fundos pertencente a Ricardo Pereira Cunha, também proprietário da empresa Mineração Carajás Limitada. Essas informações constam no requerimento ao Coaf enviado pela relatora Eliziane Gama, que também pediu um RIF sobre Enric.

Cunha, Enric e Onício integram o grupo Direita Xinguara, reconhecido por fazer campanhas a favor de Bolsonaro na região.

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