Ademário Costa e Tássia Rabelo: Até que nem tão majoritária assim
O 6º Congresso mostrou um partido em permanente disputa e de agitada vida interna
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O resultado eleitoral e as resoluções aprovadas no VI Congresso Nacional do PT apresentam indicativos interessantes sobre o desenvolvimento político das tendências nacionais do Partido, do significado das candidaturas a presidente e dos rumos desse que é o principal instrumento de organização da classe trabalhadora no Brasil. O VI Congresso mostrou um partido em permanente disputa e de agitada vida interna.
A primeira observação importante é que, contrastando com a proposta de chapa única defendida pelo presidente Lula, a corrente O Trabalho e a CNB, cinco chapas foram votadas para compor a próxima executiva nacional. Tal movimento não significou a fragmentação ou falta de unidade que preconizavam os apoiadores da outra tática, pois na política avançamos ao construir sínteses que dialogam com a base do partido. Foi, contudo, de encontro à posição de que as divergências históricas e seus desdobramentos atuais entre as diversas tendências do PT já não justificariam a existência de chapas autônomas em relação a maior corrente do partido, e que dessa maneira todas as tendências e campos deveriam fazer um movimento de composição em direção à principal corrente do antigo campo majoritário, em torno de sua candidata a presidenta.
A segunda constatação é que a ex – Articulação, Campo Majoritário, atual CNB já não é tão majoritária assim. Sua chapa somada à corrente trotskista, O Trabalho, fez um total de 290 votos, dois votos a menos que a soma de todas as outras chapas, além disso, sem os 19 votos da OT, teriam apenas 271 votos, contra 311 votos em uma hipotética disputa contra uma chapa que reunisse todas as outras tendências (*).
Os resultados obtidos no congresso estabeleceram uma nova conformação política e ideológica no interior do partido com a seguinte composição do diretório nacional: a ala moderada liderada pela chapa em defesa do Brasil terá 45 vagas, das quais três caberão à OT, os grupos posicionados ao centro, composto pelas chapas Optei e Partido para Todos terão 16 vagas e os grupos da esquerda petista composto pela chapa Muda Partido e A Esperança Vermelha terão 29 vagas. Comparando os números com a eleição da direção partidária de 2013 percebemos que o centro e a esquerda partidária cresceram enquanto a ala moderada diminui de tamanho.
É importante relatar a grande pressão que existiu para que chegássemos à plenária final do congresso com uma candidatura única, que contou até com a ofensiva pessoal do maior líder do partido, cuja ação foi fundamental para garantir que a OPTEI e pelo menos metade da chapa Partido Para Todos votassem com a candidatura vitoriosa. Nesse cenário a manutenção da candidatura oposicionista e a votação obtida tem muito a dizer. Os 60% de Gleisi Hoffmann x os 40% de Lindbergh Farias demonstram que a CNB não tem a maioria dos votos para sozinha eleger a presidência, expõem a face rebelde de um partido, em que o seu maior líder pode muito, mas não pode tudo nem pode com todos.
A diferença fica ainda mais nítida quando comparamos com outras disputas. Em 2013 as chapas que apoiaram Rui Falcão candidato a presidente pela coalizão majoritária, obtiveram 69% dos votos, muito próximo da proporção alcançada em 2009, quando os setores que lhe apoiaram conquistaram cerca de 70% dos votos do partido.
O momento em que nos encontramos remonta aos resultados do PED´s de 2005 e 2007, quando uma efetiva inflexão na correlação de forças contribuiu para maior pluralidade no interior do partido, ao impedirem que um grupo isoladamente controlasse a maioria absoluta dos votos do DN e da CEN, tal como havia acontecido após o PED de 2001, quando a Articulação obteve 52% das cadeiras do DN. Período no qual aprovamos avançadas resoluções políticas no XIII Encontro Nacional do PT (2006) e no III Congresso, quando ainda era pacífico entre nós que balanço e autocrítica são elementos estruturantes do funcionamento de partidos de esquerdam fundamentais para a correção de rumos e o reposicionamento tático e estratégico.
Ainda é cedo para saber quais os movimentos futuros que as diversas tendências farão, mas os temas da estratégia socialista, do programa democrático popular de transição ao socialismo, do conteúdo das reformas que serão defendidas em um futuro governo do PT, serão divisores de águas para compreender as reais posições políticas e conteúdo ideológico que permeia cada organização do partido. Este congresso que entre tantos outros aspectos importantes disse não ao Colégio Eleitoral em construção nos subterrâneos da política foi muito além da mera disputa de espaço.
(*) A votação das chapas foi distribuída da seguinte forma: Em defesa do Brasil 290 votos (CNB e OT); Muda PT 153 votos (Democracia Socialista, Mensagem ao Partido, Avante S21 e Militância Socialista); Partido é Para Todos 62 Votos (Movimento PT e Tribo); Optei 42 votos (Novos Rumos e EPS) e A Esperança é Vermelha 35 votos (Articulação de Esquerda). 582 votos validos e 13 votos brancos e nulos, totalizando 595 votos.
Por Ademário Costa, cientista social e assessor do Deputado Federal Jorge Solla, e vice presidente do PT da Bahia, e Tássia Rabelo, cientista social e assessora da deputada federal Maria do Rosário e membro do Diretório Nacional, para a Tribuna de Debates do PT. Saiba como participar.
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