Amorim: “Lula nos ensinou que a luta é de médio e longo prazo”

Ex-ministro de Relações Exteriores também afirmou que, agora, a questão da unidade da esquerda é fundamental

A figura do Lula, se era possível, saiu ainda mais engrandecida dessa circunstância. E isso é uma coisa que a direita vai ter que lidar

“[O ex-presidente] Lula não deu o gostinho que [o juiz Sergio] Moro queria, de que ele chegasse e se entregasse. Ao mesmo tempo teve a capacidade de fazer com que as pessoas entendessem que a luta de médio e longo prazo é mais importante do que a imediata.”

A fala é de Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa durante os governos Lula e Dilma Rousseff. Ele participou, neste domingo (8), do bate-papo “Brasil sob golpe: Lula preso, e agora?”, no estúdio da Rádio Brasil de Fato, em São Paulo (SP).

“A prisão do presidente Lula tem um aspecto horrível porque, além da prisão política, ela é a prisão do povo brasileiro. […] A figura do Lula, se era possível, saiu ainda mais engrandecida dessa circunstância. E isso é uma coisa que a direita vai ter que lidar”, salientou.

O diplomata também comentou com comoção os momentos que antecederam a apresentação de Lula à Polícia Federal, em Curitiba (PR). “Foi um momento de emoções mistas: com muita tristeza, por saber o que iria acontecer; de alegria, por ver todo mundo junto, forças políticas, jovens e velhos”, disse.

Além disso, evidenciou o papel da mobilização das cerca de 30 mil pessoas que acompanharam o ex-presidente, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), considerando ser uma “lição do que a gente deve fazer” a partir de agora. “Eu acho que por ele, ele teria resistido. Ele não resistiu fisicamente porque ele não podia, o que estava em jogo ali era a integridade das pessoas todas que o apoiavam”, disse.

Violência

Os recentes episódios de violência decorrentes de ações e mobilizações políticas também foram abordados durante o bate-papo. À exemplo, foi citada a ação deflagrada por agentes da Polícia Federal na noite de sábado, enquanto Lula chegava à Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba (PR), por volta das 22h30. A ação terminou com oito pessoas feridas, entre elas crianças, segundo informações do Corpo de Bombeiros.

O diplomata disse entender que hoje em dia há dois tipos de violência no Brasil. A primeira delas, seria a própria violência de Estado, como esta das polícias federal e militar no Paraná. Outra nuance da violência seria a que chama de fascista, da que está na sociedade e que tem se expressado em vária situações.
“Claro que na caravana [de Lula pela região Sul] como foi mencionado, mas também no caso da Marielle, no Rio de Janeiro.

Quer dizer, as pessoas não se limitam a não querer o Lula na política, mas querem o Lula morto. Como ele saiu engrandecido desta situação, eu acho que temos que chamar a atenção para a responsabilidade das autoridades federais para a integridade do presidente Lula”, pontuou.

O ex-ministro de Relações Exteriores também abordou o aspecto político da repercussão internacional, fato que avalia ser uma característica nova no Brasil, ao comparar os golpes de 1964 e o que tirou a presidente Dilma Rousseff do poder, em 2016.

“Antes o mundo era muito dividido em quem era anti-comunista, que aturava qualquer coisa para afastar o comunismo. Hoje não é assim, o mundo está de olho no Brasil. Você pode ver os jornais conservadores olhando para nós. Isso eu acho que é uma coisa que tem que estar muito presente porque a elite brasileira tem tanto o espírito vira-lata que eu acho que a única coisa que ela tem medo é de como ficar mal no exterior”, apontou.

Analisando os cenários futuros, Amorim colocou como prioridade “garantir a liberdade e integridade de Lula” trabalhando na construção e fortalecimento da unidade das forças políticas progressistas.
Também participaram do debate no Brasil de Fato, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem terra (MST), Manuela D´Ávila, deputada estadual pelo PCdoB, e Fernando de Morais, jornalista.

Por Brasil de Fato

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